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A “Lei do Photoshop”
Vi um álbum de fotografias no qual pessoas que conheço foram “melhoradas” com recursos do Adobe Photoshop. Virando páginas, em vão procurei nas faces sinais de envelhecimento, rugas, manchas e outras marcas visíveis ao natural nas pessoas ali fotografadas.
Observando as fotos lembrei-me do deputado Wladimir Costa, PMDB-PA, que pretende tornar obrigatória uma advertência sobre o uso do Photoshop em peças publicitárias. A chamada “Lei do Photoshop” está transitando na Câmara dos Deputados, esperando aprovação. Segundo ela imagens alteradas com o uso do poderoso editor devem ser acompanhadas da seguinte mensagem: “Atenção: imagem retocada para alterar a aparência física da pessoa retratada”.
A intenção do deputado é acabar com a idealização do corpo humano pela imagem. Naturalmente - e como esperado - todo mundo caiu de pau no deputado, para isso invocando razões diversas que passam pelo tradicional cerceamento da liberdade.
Não se pode negar que as imagens retocadas contribuem para o estabelecimento de uma atmosfera de perfeição impossível de ser alcançada. A beleza das mulheres que aparecem nas capas de revistas é grandemente ampliada. Faces e corpos perfeitos podem acentuar a impressão de feiúra pessoal daquele os observa e desencadear uma espécie de neurose de busca de perfeição.
Tudo isso é verdade. Mas daí a uma lei que nos informe que o que estamos vendo não passa de uma fraude… Em primeiro lugar as pessoas têm, sim, o direito de sonhar. Nada contra uma peça publicitária despertar necessidades de aprimoramento de aspectos físicos: isso não está obrigatoriamente ligado à ilusão de perfeição. Acresça-se que a beleza, natural ou não, é sempre bem-vinda num mundo que prima em nos cercar de imagens traumáticas e constrangedoras. Então, não me importa que a mulher que está na capa da Playboy não seja exatamente como ali se apresenta: não quero ver os defeitos dela nem ser avisado de que a perfeição não existe até porque estou cansado de saber disso.
Vá lá que a “Lei do Photoshop” possa ter os seus fundamentos, mas nem por isso deixa de pertencer a um universo de coisas fadadas a tornar vida mais dura do que já é. Se aprovada, daqui a pouco poderão ter a idéia de proibir a nossa própria imaginação: é bom não esquecer que temos no cérebro um Photoshop virtual que nos permite corrigir tantas coisas às quais simplesmente fechamos os olhos.
Posto isso, volto ao álbum de fotografias que manuseei dias atrás. Confesso que ao vê-lo senti um leve choque dado que foram subtraídos das pessoas ali mostradas algumas das suas imperfeições estéticas. Entretanto, não pude negar que, embora levemente modificadas, as pessoas se pareciam mais joviais e interessantes. Então pensei que daqui a alguns anos, quando essas pessoas se olharem nas fotos do álbum, não se lembrarão dos retoques em suas fotografias e terão saudades do que não foram, de uma beleza que não chegaram a ter. Mas, a essa altura a ilusão terá se convertido em realidade e as pessoas se harmonizarão com as suas imagens retocadas do passado, como se elas fossem reais. Então, tudo ficará como se diz por aí: melhor que isso, só dois disso.
Santo Photoshop! Não é que ele também poderia ser chamado de “me engana que eu gosto”?