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Cenas chocantes
A expressão “O Brasil não conhece o Brasil está acontecendo”. Em tempos de “Operação Lava Lato” a toda hora somos sacudidos por surpresas. O Brasil de hoje não reconhece o Brasil de ontem no qual a imunidade campeava solta nos quatro cantos do país.
A surpresa mais recente foi a notícia da prisão de dois ex-governadores do Rio de Janeiro. O primeiro, Sergio Cabral, foi preso nas primeiras horas da manhã em seu luxuoso apartamento, no Rio. Contra ele pesa a acusação de desvio de 220 mi em negociatas durante seus oito anos de governo. Aliás, Cabral há muito despertava atenção pública pelo modo nababesco em que vivia. Ficaram célebres as fotografias de suas estadias em Paris, exibindo riqueza em hospedagens e festas nos restaurantes mais chiques da cidade. Contra o segundo, Anthony Garotinho, existe a acusação de compra de votos nas últimas eleições. De todo modo ambos foram conduzidos ao Complexo Penitenciário de Bangu de onde não há data marcada para saírem.
Como não poderia deixar de ser a condução de pessoas tão importantes à prisão causa espanto. Não só os pobres são punidos, chegou a vez dos poderosos, isso é o que se fala por aí. Entretanto, as cenas das prisões dos dois políticos não deixam de ser chocantes. O momento em que Sérgio Cabral chega a Bangu, desce do veículo da polícia, coloca a mochila nas costas e caminha seguido por alguns policiais é impactante. Impossível não racionar naquele momento que também o poder é efêmero, que existe um limite para falcatruas. O poderoso governador de ontem, aquele que víamos com largos sorrisos na mídia, ele, ele mesmo, está preso. Descontrói-se a imagem do poder. É o fracasso do poder que choca nas imagens que não nos saem da memória.
Com Garotinho as coisas se passaram de modo mais teatral, nem por isso menos chocantes. Levado ao hospital por problemas cardíacos ali esteve até que fosse ordenada a remoção para o presídio. Seguiram-se cenas lamentáveis nas quais o ex-governador, conduzido numa maca, negava-se a ser levado ao presídio. A dramaticidade da filha de Garotinho ao chorar e gritar que o pai não era um bandido, a dificuldade de colocar Garotinho na ambulância dado que a todo momento tentava levantar-se protestando, os homens que a custo o seguravam, tudo isso compunha uma sequência de cenas lamentáveis, chocantes. Mais uma vez o poder de outrora sucumbia diante de nova realidade até pouco tempo inimaginável.
De fato este novo Brasil está diferente.