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Infidelidade partidária
Daqui a mês e meio estaremos elegendo o presidente da República. Os arranjos partidários, tantas vezes mal costurados, encobrem divergências nada simples. Ideologias avessas elegem pontos em comum diante da necessidade de formar blocos com possibilidades de vitória nas urnas. Alhos e bugalhos misturam-se entre avalanches de abraços e largos sorrisos nesse tempo em que tudo se faz para amoldar-se às regras do jogo. Depois das eleições os nós feitos às pressas se revelarão insustentáveis. Governantes sob a pressão de bases aliadas heterogêneas farão o que puderem para sustentar a precária união. Nesse ponto falarão mais alto os favorecimentos, as liberações de verbas, o empreguismo que corrompe a estrutura governamental.
Quando as alianças se esgarçarem demais e a convivência de aliados de ocasião se mostrar impossível terá início a dança de partidos. Dissidentes mudarão de cores e o jogo da política ferverá com acusações e respostas nada convincentes.
Tem sido assim, infelizmente. Acostumamo-nos a isso. A fidelidade na política brasileira não passa de peça de retórica. Mas que dizer da fidelidade partidária e ideológica dos eleitores? Pois é. O fato é que o homem que vota e quer a melhora das condições de vida no país acaba se perdendo em meio à confusão que vem de cima. Como escolher entre os aliados de véspera que agora se digladiam não poupando esforços para trazer à luz deslizes que os opositores escodem a sete chaves?
O Brasil tem ministérios demais, partidos em demasia, tudo além da conta, tudo além das necessidades. Partidos políticos funcionam para muita gente como cabides nos quais penduram e investem seus interesses. Por isso, nós aqui do baixo clero comparecemos às urnas para votar sem a certeza da escolha certa, de que nossa atitude é de fato republicana.
Até o momento não sei em quem vou votar. Você já se decidiu? Confesso que votei no Mário Covas no primeiro turno e no Lula no segundo contra o Collor. Aí o Collor foi eleito e deu no que deu. Depois votei no Fernando Henrique. Paro por aí. Como se vê os votos que julguei conscientes na verdade formam um embaralhado. Poderia me desculpar dizendo que voto depende de motivações de momento, direcionado que é pela necessidade de escolha entre as opções que se apresentam. Mas, não há como negar que a dança dos políticos contribui para que nós, eleitores, sejamos infiéis, não importa se por necessidade.
Admiro na política dos EUA a existência de apenas dois partidos. Todo mundo sabe o que pensam e fazem os políticos de cada lado. Ao eleitor resta escolher o partido que corresponde aos seus anseios sobre o modo de administrar o país.
Ainda não consegui entender bem as diferenças entre as propostas dos três postulantes à presidência da República. Enquanto isso o país segue navegando em águas turvas.