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Streaming
Na sala da minha casa existia um rádio vitrola no qual podia-se ouvir estações de rádio e discos de 78 rpm. As rádios mais ouvidas eram as do Rio, embora estivéssemos no interior de São Paulo. A Rádio nacional, a Mayrink Veiga e outras contavam com a preferência do povo. Naquela época o Rio era a capital do país e tudo, absolutamente tudo, vinha de lá. O carioca era um gênio que propagava sambas e piadas durante todo o ano. Cantavam-se marchas carnavalescas, ría-se de piadas interpretadas por Zé Trindade e tantos outros.
Certo dia um de meus irmãos, mais velho que eu, apareceu em casa com um toca-discos. O aparelhinho, feioso que nem ele só, era capaz de um milagre: rodava não só discos de 78 rpm como, também, de 33 rpm. Ou seja, em um só disco, mais de uma música. Olhamos para o toca-discos como se presenciássemos a chegada de uma engenhoca vinda do espaço. Estávamos na primeira metade dos anos 50 do século passado e, muito mais que hoje em dia, o Brasil era um país indefinido em termos de desenvolvimento.
Mas, a tecnologia sempre correu adiante de outras cosias. De modo que não demorou tanto para que chegássemos aos LPs e ao som estéreo. E os LPs deram lugar aos DVDs, mais práticos e não dependentes das agulhas de toca-discos as quais se desgastavam com alguma facilidade.
A discussão sobre a qualidade do som gerado por LPs e DVDs existiu desde o começo. Quem gosta de LPs garante ser a fidelidade e pureza gerada pelas bolachas muito melhor que a vinda dos DVDs. Isso explica o fato de, atualmente, tornar a existir procura de LPs. Novas marcas de toca-discos, mais aprimorados, estão à venda por preços nem sempre acessíveis.
Ainda tenho LPs comprados na época em que os reproduzia no meu toca-discos da marca Garrad. Mas, com a emergência dos DVDs passei a adquiri-los de modo que sou possuidor de razoável número deles. Note-se que na era dos DVDs títulos anteriormente gravados em LPS foram remasterizados no novo formato. Daí que passei a ter o alguns discos nos dois formatos.
Bem. Mas o diabo é que há muito tempo não ouço meus DVDs. Imperceptivelmente, acabei me rendendo às facilidades do streaming. Não é que todas aquelas músicas que fazem parte das minhas preferências podem ser ouvidas pagando-se mensalidades do Spotify ou do Deezer? Isso sem o trabalho de escolher o disco, colocar no DVD player, etc. E não é só isso. Eis que se decido andar para manter a boa saúde posso ouvir o que quiser num fone de ouvido que recebe o sinal, via bluetooth, diretamente de meu celular.
Não imagino onde isso poderá chegar. Ainda me lembro bem de meu irmão com aquele toca-discos que acháramos incrível por rodar um disco que tinha mais de uma música.
Por outro lado, ultimamente, tenho olhado para os DVDs de minha casa com sentimento de desconsolo. Parece-me trair esses bons companheiros que, durante anos a fio, alegraram a minha vida. De repente, relegados ao esquecimento, ei-los em seus lugares, quietos, mas tendo dentro de si os sons maravilhosos que por tanto tempo me encantaram.
Mas, afinal, tudo passa nessa vida, não é mesmo?