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Falha moral
Há seis anos recebia-se com espanto a notícia de que o rabino Henry Sobel fora flagrado roubando gravatas numa loja de Miami. Do rabino, conhecido pela retidão e decisões arrojadas como no caso da permissão de que o enterro do jornalista Herzog fosse realizado entre outros judeus, esperava-se tudo, menos um ato da natureza do que foi noticiado.
Na ocasião o rabino veio a público para desculpar-se, atribuindo o ato ao uso de medicamentos fortes que estava tomando. Agora, anos depois, Sobel confessa que na época foi montada por amigos uma versão explicativa no sentido de preservar a sua imagem. Entretanto, ele agora se sente em paz para dizer a verdade, atribuindo o ato praticado em Miami a uma “falha moral”.
Pois bem me lembro de que anos atrás os supermercados etiquetavam os preços nos produtos colocados à venda nas bancadas. Na época não se dispunham das facilidades tecnológicas como o uso de câmaras que permitem observar tudo o que acontece no interior das lojas. Daí que era muito comum se ver pessoas trocando etiquetas de produtos, obviamente visando pagar preços mais baixos ao passarem pelos caixas. Aquilo era constrangedor e vez ou outra algum cliente, surpreendido em ato de “falha moral” por algum funcionário de segurança, era levado à gerência.
Sempre me perguntei se as pessoas que trocavam etiquetas não passariam de faltosos ocasionais. Será que aquelas mesmas pessoas acaso tivessem oportunidade não seriam capazes de crimes maiores? Ou seria que uma “mudancinha” no preço de um produto não passaria de um pecado venial, moralmente aceitável dado vir a ser pouco significativo? Ou crime é crime, transgressão é transgressão, não importando o tamanho da ação?
Não me atrevo a continuar as minhas suposições de vez que para mim roubo é roubo e ponto final. Mas, fico curioso em relação a essa história de “falha moral”. Será ela momentânea, episódica, ou revelará a verdadeira natureza de quem sucumbe aos apelos de algum tipo de transgressão?
O fato é que a tal “falha moral” mais parece uma justificativa utilizada para amenizar condutas indesejáveis. Tempos atrás o todo poderoso chefe do FMI, Strauss-Khan, ficou retido nos EUA acusado que foi de tentativa de estupro de uma camareira de um hotel. O estardalhaço em torno do caso foi enorme. Strauss-Khan era na época o principal concorrente de seu partido para as eleições presidenciais que se realizariam na França e dizia-se que teria grandes chances de se sair vencedor. A relação com a camareira custou a Strauss-Khan muito caro, dado que teve que renunciar ao cargo de diretor do FMI e não pode seguir adiante na luta política francesa. Algum tempo depois, livre da acusação de estupro que não se conseguiu provar, Strauss-Khan pode sair dos EUA e disse que a camareira mentiu. Entretanto, admitiu ter se relacionado sexualmente com ela, atribuindo esse seu ato a uma “falha moral”.
Talvez seja o caso de fazermos um profundo exame de consciência para verificar se ao longo de nossas vidas não teríamos praticado atos que poderiam ser justificados por algum tipo de “falha moral”.