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Os farmacêuticos

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Existem no Brasil 97 mil farmácias. Noticia-se que em metade delas não existem farmacêuticos formados, trabalhando em regime integral. Na maioria das farmácias os farmacêuticos trabalham apenas algumas horas por dia, sendo que em 10% delas nunca está presente um desses profissionais.

Hoje em dia as funções dos farmacêuticos se restringem a conferir às receitas dos médicos, orientar os pacientes sobre o uso de medicamentos e receitar aqueles que não exigem receita médica.

Nasci numa família de farmacêuticos, todos eles formados na antiga Escola de Farmácia de Pindamonhangaba. Essa escola funcionou entre 1913 e 1929 quando foi fechada. Meu pai formou-se numa das turmas da década de 1920 a atuou como farmacêutico durante toda a vida dele.

Quem vai a uma farmácia ou drogaria e vê nas prateleiras centenas de caixinhas de remédios não pode imaginar o que eram as farmácias do passado e a qualificação exigida dos profissionais que nelas trabalhavam. Para que se tenha ideia basta se lembrar de que os antibióticos passaram a ser utilizados apenas depois de 1940, embora Alexander Fleming tenha descoberto a Penicilina em 1929. Até então se socorriam os pacientes com o uso de sulfas.

Atualmente, está em andamento o programa “Mais Médicos”. Consiste em importar profissionais com a missão de trabalhar em regiões onde não há médicos. Se isso está em discussão hoje em dia é de se imaginar a enormidade da falta de médicos no passado, espaço esse tantas vezes ocupado pelos farmacêuticos.

No passado as atividades diárias nas farmácias consistiam no aviamento de fórmulas receitadas por médicos ou indicadas pelos próprios farmacêuticos. Nas farmácias era sempre obrigatória a existência e um laboratório com a vidraria onde se armazenavam os sais e substâncias líquidas de cuja combinação resultavam os medicamentos. Poções, pomadas e toda sorte de medicamentos eram produzidos no laboratório no qual existiam balanças de precisão e vidros graduados para sua elaboração. Um bom farmacêutico era aquele que tinha conhecimento de sua arte e familiaridade com os pós e líquidos que utilizava. Além do que a ele não faltavam conhecimentos sobre diagnostico e tratamento de doenças dado que substituía em sua cidade ou região a ausência de médicos.

Penso que ainda existam farmácias assim neste imenso Brasil. Não me refiro, obviamente, às farmácias de manipulação que existem hoje nas cidades as quais em geral não comercializam medicamentos industrializados.

Meu pai tinha profundo conhecimento de sua profissão. Era preciso em seus diagnósticos e conhecia como ninguém os componentes que possuía em seu laboratório. Tinha fama de curador e pessoas vinham de longe para tratar seus males com ele. Lembro-me de que levava à balança os sais que utilizava apenas para verificar se sua mão continuava boa porque se gabava de nunca errar a quantidade recomendada pela formulação. Ele tinha as fórmulas na cabeça, sabia-as de cor. Muitas delas eram criações suas. Tratava eczemas com pomadas que ele próprio fazia e conseguia resultados realmente milagrosos.

Certa vez perguntei a meu pai se acreditava na existência de algum poder relacionado à cura de doenças. Ele disse que conheceu vida afora inúmeros médicos e farmacêuticos. Achava que algumas pessoas nascem com um dom, espécie de poder natural que permitia a elas sair-se bem nos tratamentos. Citou-me casos de médicos estudiosos, aplicados, mas que não eram bons nem em diagnóstico, nem em tratamento. Outros, porém, pareciam já ter nascido para o ofício fosse lá qual fosse a razão, daí saírem-se muito bem e adquirirem fama. Terminou dizendo que isso, aliás, acontece em todas as profissões, não por acaso alguns profissionais se destacam entre tantos.

Creio que ele, meu pai, tenha sido um desses eleitos tamanha capacidade e precisão revelava em seu ofício de farmacêutico.