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Herança maldita
A expressão “herança maldita” tomou corpo no campo político brasileiro. Partidários do PT passaram a usá-la para dizer que receberam o Estado em péssimas condições ao assumir o poder depois do período FHC. Há que se reconhecer a inventividade dos marqueteiros sempre muito hábeis em criar expressões que se tornam populares. A qualquer coisa que não dá certo lá vem a tal “herança maldita” para explicar o fato. Não se sabe como hoje a expressão não vem sendo usada contra os que a cunharam, isso depois de tanta falcatrua exposta diariamente nas ações da polícia federal.
Mas, falar em herança nos remete ao que acontece no Peru onde a filha de Fujimori é candidata à presidência da República. Fujimori, o “El Chino” foi aquele que derrotou Vargas Lhosa, tornando-se presidente da República. Foi também aquele que promoveu a esterilização de 250 mil pessoas no Peru numa política de controle populacional. Agora Fujimori está preso, mas, sua filha, permanece como forte candidata e provável futura presidente da República peruana.
O Peru está dividido. Há grande rejeição à filha de Fujimori, justamente pelo que ele fez. Será ela continuação dele? Terá “herdado” as características do antigo presidente? Se eleita anistiará o pai tirando-o da cadeia?
Obviamente, essas perguntas não têm respostas e só o futuro poderá esclarecê-las. Os casos de personalidades públicas que participaram de malefícios a grande número de pessoas não parecem ter tido continuidade nas gerações seguintes de suas famílias. Talvez até mesmo porque filhos e netos dessas pessoas não tenham conseguido assumir posições de relevo na sociedade. Três filhos de um sobrinho de Hitler vivem nos EUA com nomes trocados e parece haver entre eles pacto para não deixar descendentes.
É provável que a filha de Fujimori venha a ser a próxima presidente peruana. De todo modo o mundo de hoje é bem diferente daquele em que o pai dela ocupou a presidência. A América Latina respira os últimos fôlegos de disfarçado despotismo na Venezuela cujo regime balança e parece não haver mais espaço para mãos fortes no continente. Entretanto, repostas concretas, como se disse, pertencem ao futuro.