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Tromba d´água
Chove muito em algumas regiões do Brasil. No interior de Minas corpos de duas crianças são encontrados. Foram levados pela enxurrada. Há pessoas desaparecidas. Imagens de pequenas cidades, praticamente submersas, impressionam. Muita gente perdeu tudo. Uma senhora olha para os destroços do que foi sua casa e mostra desespero. Ao lado dela o marido, um idoso, mira o nada.
Não sei como você se sente em relação a fenômenos naturais imprevisíveis e que causam destruição. Imagino como possa ser a vida de quem vive na região do Caribe que, a cada ano, é assolada por furacões. A ideia de que a destruição se aproxima e será irreversível atordoa. Que fazer quando nada se pode contra a força que oprime?
Tínhamos medo de tromba d´água. Na região onde morávamos não era incomum a ocorrência desse fenômeno. De repente nuvens muito carregadas largavam milhares de litros de água no cume de um morro. A aguaceira descia encosta abaixo, ganhando velocidade, levando consigo tudo o que encontrasse pelo caminho. Árvores eram arrancadas, casas destruídas. Nas que resistiam ao impacto das águas perdas de tudo que havia em seus interiores. Um fabuloso desastre.
Talvez por isso as tempestades incomodassem tanto. Ventos de mais de 80 km horários causavam temor. O fato é que chovia demais na nossa terrinha. Nossa casa era um sobrado. As crianças dormiam na parte de cima. Pelas janelinhas de madeira chegava-nos a luz dos relâmpagos, tantos que iluminavam a madrugada. O ruído da chuva implacável a bater sobre o telhado fazia-nos temer pela tromba d´água. Acontecera há pouco em cidade vizinha, por que não na nossa?
As mulheres cobriam os espelhos, acendiam velas, rezavam. Traziam de suas infâncias, nos inícios do século 20, crenças e hábitos que supunham agir para aplacar a ira do temporal. Queimavam-se ramos guardados desde a semana santa nos quais depositava-se a fé da proteção sobrenatural.
Felizmente haviam as novas manhãs. Acordávamos e íamos à rua para ver o que acontecera. Em geral presenciavam-se pequenas avarias, telhas arrancadas e algum telhado, etc. Não fora desta vez que a tromba d´água nos surpreendera. Aliás, nunca aconteceria.