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O ano que começa
E choveu quando as doze badaladas do sino da igreja anunciaram a entrada de 2012. Aliás, choveu antes e depois da meia-noite, estragando em parte a festança preparada. Assim, não foram tantos os fogos queimados ontem. Na orla da praia a multidão, chuva nas cabeças, assistiu ao espetáculo pirotécnico especialmente programado para a ocasião.
Não sei, mas se depender do ânimo da turma no momento da passagem 2012 não virá a ser nem mais, nem menos, que 2011. E olhe que na história dos anos 2011 não foi dessas coisas.
De fato, se daqui a alguns anos me perguntarem sobre 2011, será que me lembrarei de alguma coisa, específica, marcante, diferente e inesquecível? As mortes de Bin Laden e Gadafi? O tsunami no Japão ao qual assistimos ao vivo e a cores? O estranho caso de Strauss-Kahn? Steve Jobs? A morte do ditador norte-coreano no apagar das luzes do ano? A primavera dos muçulmanos? Acho que não. O problema é que o mundo – a história do mundo – se repete. É como se os fatos, mesmo os grandes acontecimentos, não passassem de cartas marcadas. Não se fala tanto agora sobre as chuvas? Minas Gerais não tem, nesse momento, várias cidades em estado de calamidade porque a chuva não para? E não tem sido assim em outros anos? Ou será que, em 2012, não acontecerão as tradicionais enchentes em São Paulo, os deslizamentos que levam casas e vidas num mesmo embrulho em cidades do país?
Terremotos, tsunamis, furacões, vulcões em erupção, crises financeiras, violência crescente, guerras, ameaças, crimes, corrupção… a rotina é repetitiva. Pessoas nascem e outras morrem, mas nas novas notícias existe sempre algo de velho, de conhecido, de ultrapassado, como se o mais estranho fosse que as mesmas coisas não voltassem a acontecer. Talvez as coisas sejam assim porque, afinal, o mundo gira sempre em rotação sobre o seu eixo, repetitivamente, ia dizer eternamente, mas sabe-se lá até quando.
Mas, em meio a tudo isso está a nossa vida e aí tudo muda de cor, tudo se torna interessante. Quando se deixa do lado o aspecto macro do cotidiano e se pluga a atenção na vida particular do cidadão, então os fatos que se repetem, os tais acontecimentos, ganham relevância, tornam-se importantes. Afinal, a minha vida é só minha e sou o ator dela diante de fatos, novos ou não, que me afetam. A partir daí os seres que somos observam tudo o que acontece, cada um com o seu olhar diferente e aquilo que antes parecia insosso, repetitivo, traduz-se para cada um de modos diferentes.
É a posse da minha visão pessoal das coisas, o meu discernimento, que confere sentido a minha vida e me faz recrutar em meu espírito a esperança que o ano de 2012, repetitivo ou não, seja melhor, bem melhor que os que o antecederam.
Seja benvindo este novo ano que se inicia. Não importa que chovesse tanto e a queima de fogos em nossa cidade tenha sido menos impactante que em anos anteriores. O que importa é que continuamos vivos, acreditando, iniciando o ano com a força que nos mantém em pé e nos leva adiante.