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O afastamento de Tasso

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Eleição no Brasil não é coisa simples, não. Em primeiro lugar estão os candidatos, fauna variada e capaz de surpreender. Ao lado de gente muito boa, pululam candidatos cuja vitória nas urnas depende da decisão do STF sobre a lei da Ficha Limpa; há os que são favorecidos pelos votos de legenda; os que renunciaram anteriormente para não serem cassados e agora concorreram a novos cargos públicos; o incrível caso do palhaço Tiririca que recebeu mais de 1 milhão de votos, sobre quem paira a suspeita de ser analfabeto; e assim por diante.

O tempo passa e, bem ou mal, algumas caras se renovam na política enquanto outras se afastam. Na eleição de domingo dois grandes caciques regionais não foram reeleitos para o Senado: Marco Maciel e Tasso Jereissati. Maciel recebeu homenagem no Congresso por sua longa carreira política, tendo ocupado, inclusive, a vice-presidência da República. A imagem de Jereissati confunde-se com a de seu estado, o Ceará, onde sempre foi figura proeminente.

De Marco Maciel vi uma foto tirada enquanto discursava no Congresso; já Tasso veio a público no dia seguinte para fazer declaração realmente bombástica: não mais será candidato a cargos públicos. Afasta-se, assim, o grande empresário e político cearense de sua atividade política, embora com a ressalva de que fará de tudo para eleger José Serra presidente. No mais, afirmou, passará a levar uma vida mais tranquila.

Os jornais cearenses trouxeram em manchete de primeira página a desistência de Tasso. Falou-se em fim de uma era. A atitude do político cearense, de todo inesperada, provocou comoção pública, levando seus companheiros de partido a lamentar pelo fato.

O homem que apareceu na televisão para anunciar que não mais se canditará a cargos eletivos era a própria imagem da derrota e ressentimento. Habituado a vencer e contando com o respeito de seus concidadãos, pesou a ele demais a derrota. Uma noite mal dormida e a decepção de quem sempre manteve trajetória de defesa do bem público levaram-no à decisão, certamente apressada.

 O fato é que a política é verdadeiro ópio do qual não é fácil se separar. O derrotado de hoje pode ser o vitorioso de amanhã e vice-versa; políticos que se afastaram voltaram a governos carregados pelos braços do povo. Considerando-se fatos da natureza dos citados torna-se justo perguntar se a desistência de Tasso Jereissati é definitiva. Provavelmente ela o é, no íntimo do homem, firme em sua decisão tanto como se espera dele; não o será, entretanto, no animal político que coabita, sob a mesma pele, com o homem.

Na vida dos políticos sempre existe a possibilidade de um chamado ao qual não se pode ignorar. Joaquim Nabuco, monarquista até a raiz dos cabelos, negava-se a servir ao regime republicano: questão de ideologia, de formação, de vergonha, de perfil. Entretanto, quando o país precisou de quem o defendesse em questões internacionais Nabuco não pode se recusar a servir sua pátria.

Por ora fica assim. A ver o que o futuro reserva ao senhor Tasso Jereissati.

Voto obrigatório?

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Se há coisa difícil de entender são os tais meandros da lei. Para o mortal comum existe uma verdade cristalina: pessoas que têm débito com a Justiça não podem se candidatar. Ponto. Entretanto, não é assim que funcionam as coisas: é preciso discutir a constitucionalidade da Ficha Limpa; se as fases de tramitação foram obedecidas; se a lei aprovada é válida para as próximas eleições ou não; e assim por diante.

É aí que entra a figura do Supremo Tribunal Federal (STF), composto por altos magistrados, descontadas eventuais indicações guiadas por interesses políticos que talvez interfiram.  Espera-se do STF decisão rápida e moralizante, mas os juízes esbarram em mil e uma dificuldades, afinal legislação é legislação e há que se obedecê-la. Então acontece um empate e a lei fica no limbo esperando algum tipo de solução. Logicamente, os candidatos que devem à Justiça vibram porque favorecidos; a imprensa se revolta e cobra ação do STF; a população dá de ombros porque “neste país” tudo é possível e ninguém já não estranha nada.

Que pensar? Certamente juristas teriam uma longa lista de prós e contras à aprovação da lei. Está em questão o Direito e não há que se tomar atitude que fira os códigos que sustentam o Estado. Tudo bem, mas seria de se perguntar: caso o assunto fosse considerado em época distante de eleições, os magistrados estariam discutindo tanto?

A política no Brasil só não chega à barbárie porque os envolvidos usam terno e gravata. Senão veja-se: o STF não consegue se decidir sobre a Ficha Limpa; O PT entra na Justiça contra a exigência dos eleitores apresentarem documentos de identidade pessoal por ocasião das eleições; um promotor quer submeter o palhaço e candidato Tiririca a um teste de leitura e escrita por desconfiar que ele é analfabeto; a imprensa publica notícias de que um cantor, candidato a senador, é habituée em espancar mulheres; o presidente da República entra em todos os lares brasileiros para garantir, aos eleitores, que o cantor merece o voto de deles.

Imprensa defendendo-se de acusações de partidarismo, escândalo monumental na Casa Civil, promessas da oposição que jamais seriam cumpridas… Por essas e outras está mais que na hora de se fazer um plebiscito no país sobre a questão do voto obrigatório. Já que existe democracia e os cidadãos têm o direito de opinar, por que não em relação à obrigação de votar?

Senhoras e senhores, inúmeras pessoas não querem votar nessa balbúrdia que lhes é apresentada diariamente. Essas pessoas irão às urnas como se fossem conduzidas ao pelourinho porque estão cansadas de tanta desfaçatez e desrespeito às suas inteligências.

O Brasil não merece isso que está aí, não. Os brasileiros também não.