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Velórios digitais
Dias trás fui ao velório do filho de um amigo. Coisa triste. O pai diante da irreversibilidade do fato mostrava-se perdido. Nessas ocasiões não se sabe bem o que dizer. A todos que o cumprimentavam o pai lembrava que morte de filhos, antes dos pais, representa inversão do caminho natural da vida.
Hoje em dia os velórios acontecem fora das residências em capelas ou lugares apropriados. Em casa de minha avó havia uma sala grande pela qual passaram muitos defuntos da família. Ali se velavam os mortos. Mas, a sala também servia como ponto de encontro dos familiares que ali se reuniam para conversar e, mais tarde, para assistir televisão. Creio que foi naquela sala que vi, pela primeira vez, imagens de programas televisivos. Se bem me lembro tratava-se de um jogo de futebol narrado pelo Ari Barroso.
Mas, aos velórios. Leio que algumas funerárias atualmente oferecem cobertura digital de velórios e enterros. Filmadas em tempo real as cerimônias podem ser assistidas por pessoas em locais distantes. Segundo informa-se o novo serviço tem sido requisitado por várias famílias. Existe muito interesse quando parte dos familiares da pessoa desparecida vivem, por exemplo, no exterior. Nesse caso basta a elas acessaram o site da funerária para acompanhar as exéquias do parente desaparecido.
Para quem participou de velórios realizados nas casas das famílias os velórios digitais não deixam de parecer estranhos. Alias, o mesmo pode se dizer em relação aos casos em que opção é a cremação. Tempos atrás compareci ao enterro de pessoa conhecida e estranhei a falta da parte em que o caixão é colocado dentro da cova. No caso o caixão ficou sobre um palco e, após as despedidas, foi abaixado lentamente, até desparecer. Ora que tipo de estranhamento pode haver em relação a isso, procedimento tão comum nos dias de hoje? Talvez o fato de ter presenciado tantos enterros nos quais os caixões desciam à cova e eram cobertos com terra. Nada mais que isso.
Certa vez perguntaram-me se preferia ser cremado ou enterrado. Ainda tenho certa preferência pelo enterro. Além do que não me imagino transformado em pó dentro de um vidro, suscitando nos parentes a dúvida do lugar onde o pó deverá ser descartado.
Quanto ao velório digital espero que quando chegar a minha vez os interessados estejam presentes. Nada de filmagens e, depois, a entrega aos familiares de um DVD com imagens do meu passamento.