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O 15 de novembro
Terão sido a queda do Império e a proclamação da República acontecimentos fortuítos? Os historiadores são unânimes em apontar o desgaste do Império como causa natural de seu fim. Tragédia anunciada,portanto, de vez que o governo de Pedro II já não atendia às necessidades do país. As velhas instutuições imperiais já não faziam frente à demanda de negócios e interesses de um país que a todo custo precisava romper com o atraso.
Entretanto, os fatos que culminaram com a queda do Império tiveram muito de improviso. Embora a crescente propaganda republicana estivesse em curso os civis não dispunham de força e meios para provocar o fim do Império. Valeram-se do exército que se tornara expoente após a Guerra do Paraguai.
No 15 de novembro o Marechal Deodoro da Fonseca estava acamado. Benjamim Constant, ídolo dos estudantes da Escola Militar, visitou Deodoro em sua casa, colocando-o a par da boataria do dia. Foi assim que Deodoro decidiu-se a ir ao Campo de Santana onde tropas revoltosas situavam-se à frente do prédio onde o Ministro Ouro Preto reunía-se com membros do Ministério. De grande importância foi a recusa do ajudante-de-general Floriano Peixoto de atacar as tropas no Campo de Santana. Entendia ele que lá fora estavam soldados de um mesmo corpo contra os quais seria impossível confrontar-se. Foi assim que, sem encontrar resistência, Deodoro entrou no prédio e depôs o ministério Ouro Preto, último da monarquia.
A República só seria referendada numa sessão pública realizada horas depois. Ao amanhecer do dia 15 de novembro não se sabia nas ruas sobre a queda do Império o que motivou o comentário de que a população recebeu bestializada a notícia. Na ocasião D. Pedro II estava em Petrópolis e voltou ao Rio para entender- se com os republicanos. Mas, a essa altura a República já se tornara irreversível.
Seguiu- se a triste saída da família imperial do Brasil, embarcada à noite para evitar qualquer tipo de protesto. Pedro II deixava o país que amara e governara durante 50 longos anos. Morreria alguns anos depois na Europa, causando espécie a simplicidade com que vivera no continente europeu. Fechava-se um ciclo na história do país que experimentaria toda sorte de confrontos políticos daí por diante.
Foi assim
As contas que pagamos
Muita gente não se dá ao trabalho de vincular os impostos que paga ao dinheiro público empregado de mais variadas formas. Quando lemos, por exemplo, que o governo anunciou empréstimo de quase 4 bilhões, via BNDES, à empresa petroleira estatal venezuelana PDVSA, com vantagem de que não gozam as empresas brasileiras, dificilmente associamos esse ato a um patrimônio público. O mesmo acontece quando estão em pauta enormes desvios de verbas públicas em atos de corrupção que levam anos para serem apurados, ficando impunes os envolvidos. Exemplo maior é o do mensalão que devagar e sempre vai sendo negado, a tal ponto que elementos-chave do processo de corrupção estão sendo novamente abrigados em seus partidos de origem. Nada como um povo ordeiro e portador de boa vontade para, senão perdoar, dar por vencidas as faturas morais e pecuniárias não saldadas pelos bandidos de plantão.
Agora estão em pauta os salários pagos a pessoas que ocuparam o cargo de govenador nos estados. Revela-se que muitas delas exerceram a governança transitoriamente, muitas vezes por não mais que trinta dias. Apesar desse fato, todas essas pessoas passaram a ter direito a pensões vitalícias da ordem de 15 mil reais ao mês. Existe muita gente nessa condição, mamando nas tetas do Estado, beneficiando-se com o dinheiro arrecadado pelo governo. Temos, pois, enquanto cidadãos contribuintes, parte nesse latifúndio, sendo o meu e o seu rico dinheirinho utilizado para pagá-los.
Pode parecer bobagem dizer isso, afinal quanto do meu dinheiro está envolvido numa transação dessa natureza? Mas, não é não. A justa indignação dos cidadãos diante do descalabro que vem sendo noticiado pela imprensa prende-se justamente ao fato de se trata de dinheiro público e, mais que isso, as benesses absurdas que alguns recebem não são extensivas à população - o que seria também outro absurdo.
Claro que, em contrapartida, existe a questão de direitos adquiridos segundo a legislação vigente. Também não é desprezível o fato de que alguns homens públicos ocupam cargos durante muitos anos em detrimento de seus interesses pessoais. Mas, diga-se tudo e ainda será pouco para encobrir o descalabro das pensões vitalícias a ex-governadores.
Isso tudo me faz pensar nos primeiros mandatários da República brasileira cuja probidade estava acima de tudo. O Marechal Floriano Peixoto, segundo presidente da República governou o país com mão de ferro num período turbulento, marcado por revoltas. Jamais morou em palácio e fazia uso do transporte público para o trajeto entre sua casa e a sede do governo. Quando morreu estava pobre e suas filhas precisaram da ajuda de amigos da família para sobreviver. O presidente Campos Salles recebeu o país praticamente falido e fez um duro governo de contenção de gastos, sendo muito criticado por isso. Entretanto, Campos Salles logrou sanear as finanças de modo que seu sucessor, Rodrigues Alves, pode fazer um bom governo no qual a cidade do Rio de Janeiro, então capital do país, foi modernizada.
Quando Campos Salles saiu do governo estava pobre. Ofereceram a ele serviço em banco, mas não pode aceitar porque entendia que, recém-saído do governo, era detentor de informações privilegiadas. Algum tempo depois, veio visitá-lo, em sua casa em São Paulo, o ex-presidente da Argentina, Julio Roca. Aconteceu a Roca penalizar-se com a condição em que vivia o amigo, uma casa pequena e muito simples, ele que há tão pouco tempo fora chefe de estado da nação brasileira.
Mas, agora, a época e os homens são outros.
Ê Mazembe
Ê Mazenbe, Ê Mazenbe, Ê Mazenbe…
Ê Mazenbe é o grito da torcida do Mazembe, time do futebol do Congo. Não ouvi esse grito hoje a tarde, durante o jogo do Mazembe com o Internacional-RS. Não ouvi porque a turma do contra não conhece o grito da torcida do Mazembe. O que a turma do contra fez foi soltar foguetes na hora dos dois gols do Mazembe.
Afinal, quem são os caras da turma do contra? Ora, são todos os que torcem contra o Inter, aqueles para quem o clube gaúcho nem deveria estar disputando o Mundial da FIFA.
Houve tempo em que se um time brasileiro jogava contra equipes estrangeiras, as torcidas se uniam em prol da nacionalidade. Tratava-se da valorização do nosso futebol. Deixavam-se as rixas de lado, como se faz numa guerra na qual adversários se unem para defender o próprio país. Aqui aconteceu durante a Revolução de 1894 quando marinheiros, chefiados pelo Almirante Custódio de Mello, bombardearam a cidade do Rio de Janeiro. Por ocasião do episódio, conhecido como Revolta da Esquadra, ocupava a presidência da República o Marechal Floriano Peixoto que passou à história como um sujeito durão, curto e grosso como se diz. Pois, estavam governo e revoltosos em ação guerreira quando a frota inglesa, ancorada no Rio de Janeiro ameaçou intervir, entendendo que o tiroteio prejudicava os negócios ingleses na então capital do Brasil. Nessa hora, grave hora, imediatamente Custódio e Floriano pronunciaram-se, isoladamente, pela defesa do país. Quer dizer: primeiro contra os ingleses, depois voltamos ao nosso quebra-pau.
No futebol também era assim. Imagine se o Botafogo do Rio fosse jogar contra um time estrangeiro: ficava-se do lado do Botafogo. Quando o Santos venceu o Milan naquela célebre final, realizada no Maracanã, em 1963, os cariocas estavam lá, lotando o estádio e torcendo pelo Santos.
Creio que em parte pela globalização que desmitificou barreiras nacionais, em parte pelo Campeonato Brasileiro que intensificou rixas entre equipes de Estados diferentes, hoje em dia tornou-se difícil torcer por um time brasileiro, mormente se ele destaca-se demais. Talvez por isso, hoje tenham mandado para os ares foguetes na hora dos gols do Mazembe. Pelo mesmo motivo viu–se pessoas alegres com a surpreendente derrota do clube brasileiro.
Encontrei agora a pouco o meu vizinho do terceiro andar. Ele é santista roxo, adora o Neymar e conta, em off, que o Santos está recebendo dinheiro da Inglaterra, coisa que, sinceramente, desconheço. Relatou-me o vizinho que torceu para o Mazembe e, depois do jogo, assistiu e ouviu a todas as reportagens. Divertiu-se com o choro dos jogadores do Inter e vibrou com a alegria dos gremistas, rivais do Inter no Rio Grande. Como se vê, o meu vizinho foi fundo. Ele é daqueles que dá o beliscão e depois confere a pele para ver se ficou bem vermelha e dolorida.
Papo entrado em despedida, o meu vizinho perguntou se eu gostei da vitória do Mazembe. Pulei fora, disse que não vi um jogo que, afinal, não me interessava em nada. Logo em seguida chegamos ao terceiro andar e ele saiu do elevador. Então, sozinho e sem ninguém por perto, continuei a minha curta viagem, repetindo baixinho para ninguém ouvir:
-Ê Mazembe, Ê Mazembe.
Aquecimento Global
Imagino uma situação na qual a Terra tivesse oportunidade de dar a sua opinião sobre o que acontece em sua superfície. Teria ela os olhos voltados para o encontro de Copenhague?
Em primeiro lugar seria preciso saber se a Terra é suscetível a vaidades. Teria para ela alguma importância mostrar-se totalmente coberta pelas águas ou, ao invés, apresentar-se com o oceano margeando grandes porções de terra? E quanto aos seres que vivem em sua superfície? Importar-se-ia ela em registrar aos olhos do universo a existência de vida na sua superfície?
De uma coisa estamos certos: a Terra não gosta de ser agredida, reprova as transformações que a ela são impostas e reage violentamente quando atacada. Em função disso os seres que a habitam sofrem com as consequências decorrentes das agressões ambientais.
Se eu tivesse que comparar a Terra a um ser humano certamente escolheria o segundo presidente do Brasil, Marechal Floriano Peixoto, como personificação dela. Floriano passou à história como homem de ação e de poucas palavras, sendo frequentemente comparado a uma esfinge. Durante a Revolta da Armada, ocorrida no Rio de Janeiro, em 1983, o então presidente destacou-se pela sua firmeza. Quando o staff político da época mostrou-se em dúvida sobre as medidas a tomar, Floriano pronunciou uma frase famosa:
- Enquanto vocês discutem eu vou agindo.
Creio que se a Terra pudesse falar ela diria exatamente isso aos notáveis reunidos em Copenhague. Enquanto eles discutem a Terra age, infelizmente cada vez mais violentamente. Cerceados por interesses políticos e econômicos os homens que governam o mundo querem, cada um, reduzir a sua participação e muitas vezes até mesmo a responsabilidade em relação à emissão de gases estufa. Nesse ritmo talvez não se possa esperar grande coisa em termos práticos para os próximos anos.
E o Brasil? Segundo dados divulgados pelo INPE a coisa aqui tá escura. Para o nosso desespero o aquecimento global será maior no Brasil. Se a temperatura subir 1,8 graus em média no planeta, no Brasil esse aumento será de 2 graus. O Brasil terá, portanto, um aumento de temperatura 20% maior que a média global. Pior: se o desmatamento continuar a elevação da temperatura no país será de 3 graus em relação aos mesmos 1,8 graus da média global. Isso significará redução das águas, do regime de chuvas e elevação do nível dos mares além de outras inúmeras consequências.
Infelizmente a Terra não fala. Em seus bilhões de anos de existência ela deve ter aprendido que em certas circunstâncias palavras não resolvem: é preciso agir. Talvez por isso ela até admire gente de ação, como aquele Floriano que um dia andou por aí e cuidou dos interesses do Brasil.