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Fotografia

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Não adianta: o que vale em fotografia é o “olhar”. Todo mundo tem celular com câmera de modo que a coisa mais comum é fotografar tudo o que se vê pela frente. Sem falar nos selfies.

As pessoas publicam fotos nas redes sociais, enviam aos amigos pelos celulares. Daí que o mundo está inundado por fotos. O pior é que os fotógrafos em ação raramente selecionam as fotos que enviam. Houvesse algum espírito crítico dos emissores e seríamos poupados de cenas tantas vezes desagradáveis. Mas, o que importa é fotografar, fazer parte.

Acontece também com os meios de comunicação. Bem que poderiam nos poupar de fotos e vídeos estarrecedores. A imagem daquele embaixador russo assassinado a sangue-frio na Turquia não me sai da cabeça. O homem falava ao microfone e foi alvejado pelas costas. A contração dos músculos do rosto do embaixador, a cena do momento em que está inesperadamente morrendo tudo isso é terrível demais. Mas, há que se informar, matar a cobra e mostrar o pau, como se diz.

Que dizer sobre as fotos dos corpos empilhados após a chacina no presídio de Manaus? E aquele sujeito segurando a cabeça que acabara de decepar de outro detento? Correm na internet fotos e vídeos que atestam a animalidade dos homens. Somos a eles expostos sem qualquer cerimônia. E não custa confessar que somos atraídos por essas cenas grotescas. Certo grau de curiosidade mórbida nos atrai a esses nichos que não queremos ver, mas algo nos impele a ver.

Entretanto, não é o caso de se falar mal da fotografia. Produzidas com engenho e arte pelos bons fotógrafos as fotos fazem delícia para nossos olhos. Mesmo nossas fotos pessoais: os arquivos de família que nos permitem dialogar com pessoas desaparecidas a quem amamos; o retrato de nossa filha quando pequena ela que agora é mulher e mãe; tudo isso nos leva à gratidão pelos engenhos que nos permitem fixar momentos de nossas vidas.

Ocorre que a não muito tempo as coisas eram bem diferentes. Lá pelos anos 60 do século passado em nossa cidadezinha o único fotógrafo era o Zé Braz. Tinha ela uma câmera e sabia revelar filmes fotográficos. Seus serviços não passavam da produção das famosas 3×4 muito úteis em documentos. Eu mesmo ainda tenho umas duas fotos minhas daquele tempo tiradas pelo Zé. De todo modo o Zé prestava serviço indispensável à comunidade.

Soube que o Zé Braz morreu há alguns meses. Morreu de velho. Chegara quase aos 100 anos de idade, mas mantinha-se firme. Ao chegar em casa procurei pela caixa onde guardo fotos antigas. Estavam lá as minhas tiradas pelo Zé. Nelas as únicas imagens que tenho dos meus 14 anos.

Escrito por Ayrton Marcondes

13 janeiro, 2017 às 1:23 pm

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