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Rendendo o máximo
Assisti a uma entrevista do ex-jogador de basquete Oscar e o ouvi dizendo que treino é tudo. É preciso ter garra. Oscar relata que só talento não adianta. Talento que funciona é o associado a treinamento, determinação, esforço continuo buscando superação. Oscar viu jogadores fantásticos, extremante talentosos, cujas carreiras não deram em nada. Vítimas da preguiça, segundo ele. O fato é que Oscar treinava oito horas por dia e só deixava a quadra quando conseguia atingir vinte arremessos de três pontos em sequência, sem errar nenhum. Um prodígio.
Oscar luta contra um mal vindo e inesperado câncer no cérebro. Encanta ver o otimismo dele. Mas, há que se dizer que alguns caras são de fato especiais, associam os dons que a natureza deu a eles a um espírito competitivo exemplar. Quando se observa um campeão mundial de boxe em ação em geral não se pensa sobre a determinação dele, sua aplicação nos treinamentos, sua incrível vontade de vencer. Talento ajuda, mas na hora do vamos ver é o treinamento, o esforço continuado que conta para que se consiga a vitória.
Vi grandes jogadores atuarem em campos de futebol, cada um com seu estilo. Ademir da Guia atuava em compasso com peças de música clássica, superiormente dotado que era de técnica fenomenal a qual ditava seus passos nem sempre rápidos, mas precisos. Tinha ele esse olhar de quem entende do jogo e sabe o que fazer mesmo nos mais aflitivos momentos. Exibia sua calma, parecendo não se abalar mesmo nas derrotas. Diferente e maior de todos foi Pelé a quem a natureza doou um físico espetacular, talento demais, intuição, precisão, técnica, domínio completo de sua função, habilidade, enfim todas as características que o levaram a ser o que foi no futebol: perfeito.
Cito os exemplos anteriores aos quais tantos outros podem ser acrescentados para chegar ao estranho caso do formidável Ganso que - sabe-se lá porque - dia-a-dia desce cada vez mais do pódio dos formidáveis. Há algo de estranho e incompreensível na trajetória desse jogador que, não faz muito tempo, encantou o país com seu maravilhoso futebol. Craque entre os craques, melhor entre os melhores, eis que de repente Ganso nem mesmo parece ser sombra do que foi em passado recente. Quem o vê nas partidas, apático e conformado, aparentemente desiludido de sua profissão, não consegue entender o que se passa. Milhares de torcedores esperam tanto de Ganso, mas ele permanece recluso em si mesmo, como se o futebol fosse coisa de ontem, passado que não se renova.
Eis aí um caso de enorme talento retraído. A Paulo Henrique Ganso, o grande jogador Ganso, talvez esteja faltando a garra dos vencedores, a vontade absoluta de auto superação, a decisão de entregar-se de olhos fechados à glória que o espera.
Impossível dizer qual será o destino de Ganso. Há comentaristas de futebol vaticinando que “aquele Ganso” não existe mais. Nesse caso Ganso será como um dos jogadores a quem Oscar viu brilhar por curto período de tempo. Mas, há quem veja nisso tudo uma fase que, mais cedo ou mais tarde, passará. Para estes o talento não morre e quem sabe esteja faltando ao jogador do São Paulo nada mais que uma boa dose de conversas, levando-o a recuperar a confiança em seu talento.
Torcemos para que o Ganso consiga superar essa fase de adversidade volte a brilhar no futebol.
Os algozes
Não sei há quanto tempo acontece, mas a linguagem futebolística incorporou definitivamente a palavra “algoz”. No Houaiss ”algoz” é classificado como substantivo masculino cujo significado é “carrasco, executor da pena de morte ou de outras penas corporais (como tormentos, açoites etc.)”. Em sentido figurado a palavra aprece como “indivíduo cruel, de maus instintos; atormentador, assassino”.
No futebol é “algoz” aquele(s) que provoca(m) a derrota de seus adversários em campo. Paolo Rossi foi o “algoz” da seleção brasileira derrotada pela Itália na Copa do Mundo de 1982. Rossi fez os três gols italianos, contra dois anotados pelos brasileiros que foram eliminados da Copa. Ronaldinho Gaúcho é “algoz” do Grêmio, time de Porto Alegre. A seleção da França é considerada “algoz” da seleção do Brasil dado tê-la derrotado na final da Copa do Mundo de 1992. Aliás, a França é mesmo “algoz” do Brasil, tendo eliminado a seleção nacional em três Copas do Mundo.
O ASA de Arapiraca foi “algoz” do Palmeiras derrotando o time do Parque Antártica de modo vexatório na Copa do Brasil de 2002. E por aí vai. Seleções, times, jogadores e até técnicos são candidatos a se tornarem “algozes” desde que inflijam grandes ou seguidas derrotas a seus adversários.
Como se vê o “algoz” do futebol no máximo pode se equivaler como sinônimo a “carrasco”, obviamente sem tortura ou morte. Mas, o que impressiona é o modo como jornalistas esportivos cada vez mais fazem uso do termo “algoz”. Futebol é paixão, competição explícita, disputa por cada centímetro do gramado onde duas equipes se enfrentam. O noticiário dos meios de comunicação estimula as rivalidades, buscando trazer maior empolgação aos jogos. È assim que as multidões são atraídas para os estádios e o futebol permanece como atração perene.
O futebol fez e fará novos algozes porque isso faz parte da natureza do jogo. O Uruguai derrotou o Brasil em pleno Maracanã na final da Copa do Mundo de 1950 e este fato provocou uma das maiores comoções coletivas de nossa história. Até hoje se fala no gol de Ghiggia, ponteiro da seleção uruguaia que meteu a bola dentro do gol do goleiro Barbosa do Brasil. Ghiggia foi o grande “algoz” do Brasil, o maior de todos. Ele decretou a continuação do derrotismo brasileiro que só viria a cair por terra quando da vitória da fabulosa seleção de 1958 na Suécia. Ali nascia para o mundo Pelé e um longo reinado de conquistas brasileiras.
É preciso fazer justiça aos algozes. Eles são responsáveis por boa parte das nossas ilusões. Sem eles o futebol não seria o mesmo, nem teríamos de quem sentir verdadeiros ódios por ocasião das nossas mais marcantes derrotas.
Saúde aos “algozes” do futebol.
Protesto de torcedor
Certamente não existe ramo de atividade no qual o profissional possa fugir tão facilmente de suas responsabilidades quanto o futebol. Jogadores podem atirar ao lixo as esperanças de milhares de torcedores, fazendo o que lhes dá na telha em determinado momento. E isso sob as luzes e olhares de milhares de torcedores presentes aos jogos, afora a multidão de espectadores que assistem às partidas pela televisão.
O nome do pecado cometido por alguns jogadores é a soberba. Há, sim, os mais esquentados, aqueles que na febre do jogo perdem a cabeça e cometem deslizes que prejudicam as equipes em que jogam. Mas, também há o caso dos medalhões, os tais que se colocam acima da média e querem, a todo custo, fazer valer sua condição de celebridades dentro do esporte.
Quem assistiu ao jogo do São Paulo contra o Atlético realizado ontem teve a oportunidade de constatar os níveis a que chegam atitudes irresponsáveis que trazem prejuízo não só ao clube, mas, também, à imensa massa de torcedores que pagam ingressos caros e se deslocam de suas casas aos estádios para acompanhar os times de seus corações.
A atitude do jogador Lúcio, experiente zagueiro de cujo currículo consta longa trajetória em clubes europeus de renome e a defesa da seleção nacional do Brasil em copas do mundo, pertence à categoria dos atos injustificáveis. Profissional de tão alto nível jamais poderia se dar ao desfrute de cavar uma expulsão num momento em que o time em que joga atuava de modo brilhante, sufocando o adversário e levando à loucura a sua torcida. Vale lembrar que Lúcio é reincidente em expulsões.
No jogo de ontem o São Paulo pagou o preço pela falta de verdadeiro profissionalismo de alguns de seus mais destacados jogadores. Além do Lúcio expulso ressentiu-se a equipe da ausência de seu centroavante Luís Fabiano o qual cumpre a suspensão de quatro jogos por tirar satisfações com um juiz após um jogo ter terminado. Infelizmente, na partida contra o Atlético, o jovem substituto, Ademilson, perdeu uma sequencia de gols praticamente feitos os quais certamente teriam outro destino caso o titular estivesse em campo.
Não custa dizer que os profissionais em questão recebem salários altíssimos quando comparados aos percebidos por quase toda a população brasileira. Entretanto, coração de torcedor é mesmo coração de torcedor daí necessidade imperiosa de protestar contra atitudes, talvez impensadas, que tanta tristeza e revolta nos trazem.
O que se espera a partir de agora é que a diretoria do São Paulo FC tome as atitudes convenientes em relação aos seus pressionais, quem sabe desligando-os definitivamente de seu elenco de jogadores de futebol. É o que, sinceramente, se espera.
A questão Neymar
Imagine-se na pele de um rapaz de 21 anos, ultrabadalado, relacionando-se com belas mulheres e ganhando muito, mas muito dinheiro. Imagine, também que esse rapaz seja um excepcional jogador de futebol conhecido em todo o mundo, tendo seu passe pretendido por vários times a valores exorbitantes.
Se você for capaz desse meter dentro da pele desse rapaz eleito é possível que pense que a juventude passa depressa e o tempo não volta, daí que há que se viver o momento porque em poucos anos toda a glória se tornará passado e, então, adeus ao período de idolatria das multidões.
Caso o que está escrito acima seja levado em consideração torna-se possível que se perdoe ao Neymar por alguns atrasos de treinos, noites e noites em festas e até o fato de que parece preocupar-se mais com outras coisas que com o futebol. O rapaz é simplesmente um rapazinho que joga bola e quando liga a televisão vê a sua imagem em anúncios de grandes empresas na tentativa de vender produtos que ele talvez nem mesmo conheça ou tenha experimentado. Tudo isso regado a contratos que rendem muito dinheiro. Tanto se fala dele que o Murici, técnico do Santos, implora: deixem ele em paz.
Mas, como toda profissão o futebol tem as suas exigências. Eis que se aproxima o momento da realização da Copa de 14 no Brasil e o país inteiro joga suas esperanças nas chuteiras do nosso melhor jogador que é sem sombra de dúvidas o Neymar. Quer dizer que sobre os ombros do rapaz avoluma-se um peso descomunal porque ele se transformou na grande esperança da pátria de chuteiras que não admite, de jeito nenhum, outro resultado que não a conquista da Copa. Há que se provar que somos e sempre fomos os melhores e, de uma vez por todas, passar borracha na tragédia de 50 quando o Brasil perdeu, em pleno Maracanã, para o Uruguai dos Obdulios Varelas, Gigias etc.
Entretanto, uma sombra atormenta a alma da torcida tupiniquim: até hoje o ídolo Neymar não mostrou, enquanto jogador da seleção nacional, nem ao menos parte do talento que exibe quando joga pelo Santos. Então como será a participação dele na Copa?
A pergunta acima pode ser considerada irrespondível, afinal trata-se de expectativa relacionada a acontecimentos futuros. Entretanto, não custa lembrar de que existem jogadores de time e jogadores de seleção. Quem não se lembra do ponta-esquerda Canhoteiro que fazia o diabo com a bola no São Paulo, mas não era o mesmo na seleção? E o Clodoaldo que nasceu para jogar em seleção onde realmente se transformava num invejável jogador? E o Gilmar, grande goleiro da seleção, bicampeão mundial e reserva do Cabeção no seu time?
Diante disso só nos resta torcer para que o Neymar seja como tantos que jogam bem em times e seleções. É preciso muita calma. Quem sabe dia desses o jogador santista mostra quem é de fato vestindo a camisa da seleção brasileira. Você não acha?
O técnico da seleção
O presidente dos EUA é considerado o homem mais poderoso do mundo. Nos últimos anos mulheres têm ocupado postos de alta relevância: Angela Merckel na Alemanha, Cristina Kishner na Argentina e Dilma Roussef no Brasil são as primeiras mandatárias de seus países.
Para muita gente no Brasil a importância da presidência da República é dividida com o cargo de técnico da seleção brasileira de futebol. Técnico da seleção nacional é um cara pra lá de importante porque detentor de poder paralelo na chamada pátria de chuteiras. Diz-se que em cada brasileiro existe um técnico de futebol e raramente existe concordância geral com as preferências daquele que comanda a seleção. Quando o Brasil venceu a Copa de 58 sob o comando do pacífico Vicente Feola nem assim houve acordo geral. Lembro-me de jornalista que baixou o pau sem seus comentários pelo rádio nos minutos que se seguiram à grande vitória sobre a Suécia e, depois, salvou-se de apanhar quando apareceu no Pacaembu para comentar jogo local. Que dizer do falecido Cláudio Coutinho que conseguiu unir o país contra si a ponto do técnico Osvaldo Brandão declarar-se pronto para assumir a seleção, isso com a Copa do Mundo de 78 em andamento? O time escalado pela torcida não era aquele que Coutinho colocava em campo. No fim o Brasil foi “campeão moral” e as coisas ficaram do jeito que ficaram: nó na garganta de um povo apaixonado por futebol.
Agora o Brasil prepara-se para sediar a Copa do Mundo de 2014. As obras - que a todo dia se nega estarem atrasadas - correm soltas país afora. Estádios, aeroportos, hotéis, meios de transporte, aparatos de segurança e outras providências vêm sendo tomadas para que o país não faça feio diante do mundo. Quanto ao futebol nem pensar no repeteco da tragédia de 1950 no Maracanã quando a seleção perdeu o título mundial para o Uruguai de Obdúlio Varela. Entretanto, embora a proximidade da Copa - e antes dela a Copa das Confederações - a seleção brasileira continua indefinida não se sabendo ao certo quais os jogadores que vestirão as camisas que tanto encantam ao povo. A começar pela demissão do presidente da CBF sob acusações de corrupção e seguindo-se ontem pela mudança de técnico pode-se dizer que, em termos de selecionado brasileiro, voltou-se à estaca zero. Ninguém sabe quem será o próximo técnico daí ser impossível fazer-se ideia sobre os nomes que ele escolherá para compor o plantel da seleção.
Hoje se publicam as mais diferentes opiniões sobre a demissão do técnico Mano Menezes. Há quem veja manobra política e momento inoportuno. Outros acham que o técnico deixou a desejar e apontam diferentes razões que justificariam a demissão. A verdade é que faltou a Mano Menezes o carisma que gera confiança. Não teve ele a presença que empolga e não logrou transferir segurança à enorme torcida brasileira. Não que não seja bom técnico, o problema foi e é a dimensão do cargo. Presidentes da República têm à sua volta um mundo de ministros, assessores e todo tipo de ajuda para que mesmo seus erros muitas vezes não transpareçam. O técnico da seleção não goza da mesma sorte. Ele é visível demais, cada decisão sua é avaliada no momento em que é tomada, Demais, futebol é resultado. E os resultados obtidos por Mano Menezes no comando da seleção deixaram a desejar.
Ricardo Gomes e a paixão pelo futebol
O ex-jogador de futebol Ricardo Gomes tornou-se técnico e dono de carreira bem sucedida. O penúltimo time que treinou foi o São Paulo do qual saiu após derrota em jogo da Taça Libertadores. O último foi o Vasco no qual ia muito bem. Mas, aconteceu a Gomes sério problema de saúde justamente quando comandava a equipe vascaína em jogo importante. Ele sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral) e saiu do estádio em maca e inconsciente.
As imagens do AVC sofrido por Ricardo Gomes foram vistas pela televisão. Temeu-se que o técnico vascaíno não conseguisse se safar do mal que o atingira. Felizmente ele recobrou a consciência e venceu as etapas de fisioterapia que se seguiram até ser dado como apto para voltar a trabalhar.
Nesta semana ouvi um programa esportivo, na Rádio Bandeirantes, no qual radialistas discutiam se Ricardo Gomes deveria ou não voltar a ser técnico. Alguns deles disseram que se os médicos achassem indicada a volta nada impediria a Ricardo de tornar a fazer não só o que sabe, mas do que gosta. Um deles falou sobre parente que também teve AVC, recuperou-se, mas os médicos recomendaram a ele evitar situações de estresse.
Eis aí o dilema que envolve Ricardo Gomes. Dirigir um time grande em jogos profissionais representa situações permanentes de estresse. Deve alguém que já foi vitimado por um AVC expor-se a isso?
Disso tudo se deduz que talvez seja melhor a Ricardo Gomes continuar no futebol, mas em outra função. Entretanto, futebol é paixão. E hoje se noticia que Ricardo Gomes já se decidiu: voltará a ser técnico, já está em negociação com o Vasco.
Resta-nos torcer para que ele esteja certo. Mas, para quem o viu saindo do estádio em ambulância e inconsciente fica a dúvida: estará ele agindo certo?
Dia de jogo grande
Não adianta hoje só se fala no jogo de logo mais a noite entre o Corinthians e o Boca Juniors. Minha mulher, que é corintiana, discorda de quem diz que hoje o Corinthians é Brasil. Ela diz que hoje se trata de Corinthians contra o Boca e o Brasil porque quem não é corintiano está torcendo contra.
O futebol é uma febre, paixão à qual se opõem revanchismos, em certos casos até ódio. Semana passada, durante o jogo entre Corinthians e Boca realizado em Buenos Aires, a cidade de Santos explodiu em comemorações, com fogos e tudo, quando o Boca fez o seu gol. Vingavam-se os torcedores santistas da derrota do seu time perante o Corinthians dias atrás. Assim se passam as coisas e não adianta concordar ou discordar porque paixão é paixão e ponto final.
O que se fala no momento é sobre os desdobramentos extrajogo em caso de vitória ou de derrota corintiana. O que se diz é que, ganhe ou perca o Corinthians, os torcedores se darão o direito de praticar violências, quebradeiras que serão piores em caso de derrota. Existe, nos meios oficiais, preocupação com a saída do público do Pacaembu após o jogo. O metrô fecha à meia-noite e ouvi no rádio pedidos para que, excepcionalmente, o horário de circulação dos trens seja estendido para que as pessoas possa retornar às casas. É bom lembrar que, em caso de empate durante o tempo normal de jogo, haverá prorrogação e até mesmo batimento de pênaltis se a isso se chegar. Caso isso aconteça, realmente o público não terá como se deslocar do Pacaembu em direção às suas casas. Acontece que o metrô já divulgou que não estenderá o seu horário de funcionamento. Embora isso pareça estranho num serviço que afinal existe para atender à população o fato é que devem estar preocupados com a depredação dos trens por torcedores inconformados em caso de derrota.
O bom do time pelo qual torcemos não estar envolvido em jogo como o de hoje é que evita-se o tal “agradável sofrimento” proporcionado por competições nas quais a vitória é a única coisa que interessa. Quanto a mim confesso que, pela lógica, a minha tendência seria torcer pelo Boca, afinal o Corinthians é adversário e não ligo a noção de patriotismo ao esporte. Entretanto, tal será a tristeza da minha mulher caso o Corinthians venha a perder que, por ela e apenas por ela, é bem provável que eu torça pela vitória do Corinthians hoje.
Jogo grande, envolvendo milhares de torcedores no Brasil e na Argentina. Que deliciosa e irremediável paixão é o futebol.
Dia de herói
Já se disse que cada dia tem o seu herói, embora muitos deles passem despercebidos. É de se supor que isso seja verdade, afinal pelo menos um entre os sete bilhões de seres humanos deve praticar algum tipo de heroísmo durante o período de 24 horas.
Mas, especulações a parte, certos heróis se fazem de um momento para outro, publicamente, até encantadoramente. Pois até o início da noite de ontem um jovem certamente nem desconfiava que, poucas horas depois, todo mundo passaria a falar dele, enfim se tornaria herói para uma massa de malucos apaixonados por futebol.
O jovem se chama Romarinho e seu nome está bimbando pelo gol que fez contra o Boca Juniors em pleno estádio de La Bombonera. Rapaz de sorte, esse Romarinho, porque entrou em campo, substituindo o jogador Danilo, e no seu primeiro contato com a bola endereçou-a às redes do time adversário. Isso para delírio da massa corintiana que explodiu em alegria e foguetório por esse Brasil afora.
O que não se sabe é durante quanto tempo Romarinho reinará em seu trono de herói. Não se pode esquecer de que o futebol é esporte cruel com aqueles que o praticam. Descontadas honrosas exceções a quem tudo se perdoa para a maioria dos jogadores a glória é efêmera. Daí que Romarinho deve aproveitar e muito bem os momentos de herói de uma torcida porque, na próxima quarta-feira, na partida contra o mesmo Boca a ser realizado no Pacaembu, a glória dele também estará em jogo.
Mas, convenhamos que uma semana é muito tempo e, no momento, o que vale, o que empolga a multidão e está preso às retinas é a imagem do herói Romarinho no momento em que usa a cavadinha para marcar o tão comemorado gol corintiano.
Longa vida e muitos feitos a Romarinho, novo ídolo da massa corintiana.
Idade e suas consequências
O mundo do futebol declara-se indignado com a atitude tida como despótica atribuída ao presidente do São Paulo FC. O presidente agiu diretamente na área do futebol, retirando da concentração um jogador que falhara no jogo do último domingo. A falha abriu caminho para a derrota do São Paulo, dai a punição aplicada pelo presidente do clube. Essa medida afetou o técnico e o time de futebol que na mesma noite tinha jogo muito importante pela Copa do Brasil. Agora a derrota do São Paulo nesse jogo está sendo, pelo menos em parte, atribuída à atitude do presidente que teria contribuído para desestabilizar emocionalmente o time.
Desse assunto estão tratando os noticiários esportivos e torcedors, falando-se até mesmo sobre a humilhação infringida ao jogador que, aliás, estava escalado pelo técnico para jogar. Em meio aos falatórios chama a atenção o que atribui o ato do presidente à idade: avançado em anos já não reuniria ele condições para o exercício do cargo, daí as atitudes não acertadas que têm tomado.
Ninguém ignora a vala comum na qual se procura lançar tudo aquilo de inesperado e desacertado praticado pelos “velhos” , ou seja, aquelas pessoas que pertencem à tal “melhor idade” que de melhor não tem é nada. Então, assim parece, torna-se mais fácil explicar atitude que se julga condenável através de algum tipo de falha de comportamento atribuída à idade. Mais: em assim sendo torna-se mais que lógica a substituição do presidente que, em poucas palavras “já deu o que tinha que dar” e, portanto, não se mostra confiável para o cargo que ocupa.
Como se vê atrás de uma atitude errada e absurda - a ter sido como se relata – imputa-se a velhice como motor da ação. O que nos leva a perguntar se acaso devem ser impostos limites baseados na idade para exercício de cargos de comando.
A atitude do presidente do São Paulo desagradou muita gente e talvez tenha mesmo repercutido no rendimento do time no jogo contra a Ponte Preta. Mas, provavelmente terá sido ela produto do modo de ser do presidente. Seria ingênuo, senão erro de julgamento ou até má fé, atribuir o afastamento do jogador à idade do presidente.
A paixão das tardes de domingo
Não adianta, domingo é dia fora do catálogo, o mais imprevisível da semana porque nele tudo pode acontecer. Dia de folga, sem horários fixos, sem obrigações a cumprir, momento de ficar com a família, sair com os filhos, enfim. Começa que domingo não tem despertador e você pode ficar mais tempo na cama, sem aquela urgência de vestir-se depressa, engolir o café da manhã do jeito que dá e sair à rua com os olhos presos no relógio, xingando o trânsito que não anda porque vai ter bronca se chegar atrasado. Domingo não tem nada disso, não tem mesmo. Você pode se levantar sem pressa, tomar o café sossegado, ainda de pijama e tem até tempo para bolar uma desculpa para dar à sua mulher e escapar do almoço na casa da sua sogra, afinal tudo, tudo mesmo, menos aturar os seus cunhados.
Tirando a necessidade de dar umas enganadas e até inventar alguma dor para fugir a certas chatices, pode-se dizer que o domingo é o melhor dia da semana. Você até dá um jeito de esquecer os problemas, o negativo do cheque especial, as contas a pagar, as exigências do seu chefe e os tais compromissos inadiáveis aos quais terá que comparecer a partir de segunda-feira. Do que se conclui que o domingo é um bom dia mesmo, aquele do descanso com o qual você sonha durante a semana porque, afinal, os seus nervos precisam de descanso, isso sem falar nos músculos que necessitam tanto de relaxamento.
O diabo é que nesse mundo nada é perfeito, nem mesmo os domingos. Acontece que as coisas vão bem até o meio da tarde, a sua mulher concordou foi almoçar com os filhos na mãe dela, você ficou sozinho em casa e pode curtir o silêncio nesse espaço que agora se tornou inteirinho seu.
Mas, o que pode atrapalhar esses momentos de sossego absoluto? Bem, é que exatamente às quatro horas da tarde o seu time entra em campo para um jogo importante. Pronto, vai-se embora a calma, a paciência, agora é guerra porque lá estão os dois times perfilados enquanto toca o hino. Na verdade o dia de folga termina justamente quando o juiz apita e o jogo começa. Agora você está tenso, olhos pregados na tela da televisão e de repente vai ao desespero porque o zagueiro do time do seu coração, com dois minutos de jogo, comete um pênalti. Você reza para que o cobrador erre, para que o goleiro do seu time defenda, mas não adianta, é gol, pronto, a desgraça começou. E tem os gritos de um maldito vizinho que comemora, se você pudesse iria lá pra dar uma porrada bem no meio da cara desse desgraçado.
O resto você já sabe de cor e salteado. Serão mias 85 minutos de sofrimento até o fim do jogo com a vitória do time adversário. Pouco antes de acabar a sua mulher chega e, quando passa na sala, pergunta quanto está o jogo. Você não responde, a sua vontade é mandar todo mundo para o inferno, a noite de domingo vai ser toda de emburramento e poucas palavras, você jura que não vai mais assistir aos jogos do seu time, nada de torcer e sofrer tanto por uma bobagem de caras correndo atrás de uma bola. A sua bronca é tanta que não vê a hora de chegar a segunda-feira, este sim o melhor dia da semana.
A tristeza com o seu time vai durar uns dois dias, depois você acaba lendo no noticiário que o técnico vai mudar as coisas e daqui para frente serão vitórias. Na quinta-feira você está recuperado, confiando na sua grande paixão que é o seu time, esperando o descanso do domingo, dia de botar os nervos em ordem, relaxar os músculos, dar um tempo nessa correria toda que é a vida tão repetitiva.