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No mundo da música
Sempre tive o relógio atrasado em termos de gosto musical. Quero dizer que muitas vezes passei a gostar - e entender - determinado gênero quando ele já saíra de moda. Isso sem falar em apresentações às quais compareci e que passaram em branco para só mais tarde vir a ter consciência da grandeza daquilo a que assistira. Daria tudo, por exemplo, para que outra vez pudesse estar na plateia do Teatro Municipal de São Paulo, assistindo a uma apresentação do saxofonista Stan Getz. Confesso que só muito tempo depois daquela noite me dei conta do raro momento musical que presenciara, ou seja, cheguei aos solos de Getz mais tarde. Também confesso que acompanhei à ascensão dos Beatles sem me dar conta da importância do conjunto. Um parente adorava o grupo inglês e tocava seus discos o tempo todo. Eu ouvia com algum distanciamento. Só anos depois me aproximei das músicas dos Beatles e observei a beleza de algumas das composições de Lennon e MacCartney.
Não sou afeito à música sertaneja e não sei dizer se nisso também estou atrasado. Quem sabe dentro de algum tempo eu passe a gostar dela. Na minha infância morei num lugarejo. Do outro lado da rua defronte a minha casa, havia o bar de um japonês no qual, aos domingos, compareciam violeiros que passavam horas cantando. A “moda de viola” era a música padrão do local e todo mundo gostava dela. Talvez porque eu fosse submetido a horas daquela música - não havia como não ouvir, exceto saindo de casa - cansei-me dela. Não sei dizer se isso é correto, mas creio que a “moda de viola” faça parte das raízes da atual música sertaneja.
Nos anos 1980 trabalhei num jornal de grande emissora de rádio em São Paulo. Entrávamos no ar nas manhãs e me cabia comentar assuntos ligados à área de saúde. Não sei se ainda é assim, mas os estúdios de rádio eram um primor de organização montado dentro de espaços restritos. Um contrarregra que só não fazia chover, um locutor e repórteres espalhados pela cidade geravam uma atmosfera informativa de enorme alcance. O interessante é que, com frequência, artistas renomados visitavam os estúdios das rádios, obviamente visando uma política de boa vizinhança para que suas músicas fossem lembradas e incluídas na programação.
Foi numa dessas visitas que conheci o cantor Wando, falecido há pouco tempo. Era ele um dos grandes do gênero brega romântico, adorado, famoso por jogar calcinhas para as fãs durante os seus shows. Sujeito envolvente o Wando, habituado à celebridade, fazendo da fama o uso conveniente sem apelar para o estrelismo. Na ocasião, abraçou uma a uma das pessoas que trabalhavam no estúdio e nunca me esquecerei do modo educado como se dirigiu a mim.
Hoje se noticia a morte de Reginaldo Rossi um dos grandes do gênero brega. Pertencia ele à velha-guarda de cantores da música romântica popular e sempre assumiu ser mesmo “brega”, embora as conotações negativas muitas vezes emprestadas ao termo. Reginaldo era conhecido como “Rei do Brega” e sua morte comove sua grande legião de fãs.