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Gente diferente
Conversávamos sobre pessoas a quem conhecemos, mas dadas a outras concepções de vida. Temos amigo em comum que prima por viver o momento. Em poucas palavras: gasta quanto ganha. Faz viagens constantes, frequenta restaurantes caros e tem sempre o carro do ano. Não poupa. Desfaz-se de coisas com facilidade, renova móveis, está sempre mudando a cor das paredes da casa onde mora. O cara vive a vida. Não poupa. Para ele não existe preocupação com o futuro que passa por problema a ser resolvido quando se chegar lá. E olhe que ele não se atormenta com dívidas que, ao que parece e transparece, estão sempre batendo na porta dele. Está sempre sorrindo, bem vestido e passa a imagem de vencedor a quem o observa.
Bem, o fato é que é preciso nascer feito para ser assim. Concordamos que esse modo de ser e agir não se aprende, nem se adota, antes é preciso ter DNA propício para tanto. E ter a sorte de se casar com mulher do mesmo time, que adote o mesmo gênero de vida sem maiores interrogações.
A nossa conversa ia por aí quando finalmente nos perguntamos o óbvio: e quanto a nós? Ora - respondemos ao mesmo tempo – pertencemos a outro cerne de gente. Somos daqueles seres cautelosos que cuidam da conta bancária e não dão passo maior que a perna. Vivemos bem, sim, mas não nos damos o prazer do luxo excessivo, da troca anual de carro e assim por diante. Enfim, somos cuidadosos, tementes do futuro, poupadores e observadores do movimento geral das coisas que possam se abater sobre as nossas seguranças e de nossas famílias.
Foi a essa altura que o meu amigo, com quem eu conversava, questionou se na verdade não estaríamos nos privando dos prazeres da vida em nome de um futuro no qual, por motivos vários entre elas a saúde, não teríamos como gozar o que poupáramos. Essa pergunta feriu-nos fundo e, a bem da verdade não soubemos respondê-la, fato que nos levou a nos despedirmos.
Voltei para casa pensando no assunto e ponderando sobre se, afinal, não estaria me privando de alguma coisa que me trouxesse prazer em nome da segurança no futuro. Então, lembrei-me do fulano sobre o qual falávamos a pouco e confesso que, de algum modo, passei a aceitar aquilo que nele sempre me pareceu exagero. Eu não tenho DNA para ser daquele jeito e não me sinto infeliz por ser como sou dado que a avareza não faz parte dos meus defeitos. Fica assim.
Como dizia o Guimarães Rosa, viver é muito perigoso.