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Chuva

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Choveu. Ao amanhecer, ruas inundadas. Na praia, mar revolto. A frente fria que diziam viria, enfim chegou.

Ilhados, funcionários de empresas não chegaram ao serviço. Os ônibus permaneceram nas garagens. Poucas linhas percorridas por motoristas intrépidos. No céu nuvens escuras, anunciando novos aguaceiros. Vez ou outra o ruído de um trovão. A natureza parece não estar de bem com o homem.

Mas, algo de bom: o calor extremo fez pausa. Respira-se ar menos denso e os suores a que se está habituado desapareceu.

Fevereiro começa com tempestades. Chuvas pesadas com aquelas da minha infância. As minhas memórias dos tempos de menino estão impregnadas pela chuva. Não há sol naquele mundo desfeito. Figura-se, sempre, a janela pequena do quarto com gotas de água escorrendo pelo vidro. As gotas da minha infância são eternas.

Também havia a rua de terra e o barro permanente. Na porta de casa minha mãe colocava um aparato de ferro para que limpássemos os sapatos antes de entrar. Meu pai usava galochas. Sempre que me lembro de meu pai vejo um homem de galochas, circulando no barro.

Entretanto, o mundo mudou. Aquelas ruas receberam asfalto. Pelos caminhos de ontem perambulam novas gentes em nada ligadas ao passado. Dos meus tempos de menino poucos restaram. Do Antônio Maneta que bebia e da mulher dele, a Vitalina, que o tirava à força do bar, talvez eu e uns poucos se lembrem.

Aliás, a cada dia somos, cada vez mais, um reduzido pingo de gente. Gente de outros tempos, de ruas encharcadas, de pés sujos de barro. De galochas.

Gente da chuva.