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Sob o comando das mulheres
São Paulo é uma cidade enorme, impossível conhecê-la toda. Ruas tortas que desembocam em outras mais tortas ainda, formando uma rede de infinitas possibilidades de caminhos que podem confundir.
Quem me diz isso é um motorista de táxi. Homem na faixa dos quarenta, ele é um sujeito bem humorado que parece gostar da profissão. Erra pelas ruas da grande metrópole, levando pessoas de um lado para outro. Diz que o táxi oferece a oportunidade de travar contato com pessoas, muitas delas interessantes.
A certa altura eu o interrompo e pergunto como ele se vira numa cidade tão grande e a enorme variedade de destinos dos passageiros. Ele ri e diz que com a ajuda do guia, que sempre traz no carro, é capaz de chegar a qualquer lugar. Ao que pergunto se não usa GPS e ele me responde:
- Veja bem senhor: eu já tenho a minha mulher e uma amante; só me falta mais uma mulher dentro do meu carro me dando ordens, mandando que eu vire à direita, à esquerda, prossiga por tantos metros…
Não consigo deixar de rir e digo ao taxista que bem poderiam gravar vozes de homem no GPS. Ele protesta:
- Pelo amor de Deus, só falta ter no carro um marmanjo, isso seria muito pior.
Chegamos ao meu destino, desço do táxi pensando que as mulheres reclamam muito, mas não se dão conta da ditadura que exercem sobre os homens. Veja-se esse taxista embrenhado entre o amor de duas mulheres e fugindo da voz autoritária daquela moça que vive dentro do GPS.
O problema de um papo furado como esse é o que acontece depois. A verdade é que eu não tinha me dado conta do exercício de poder daquela mulher do GPS sobre as minhas decisões. Ela manda em mim sem cerimônia, preciso refletir melhor sobre isso.
Telefones e outras engenhocas
Não me olhe com essa cara estranha só porque estou confessando que não vejo muita utilidade nesses telefones multifuncionais. A verdade é que os telefones deixaram de lado a sua função principal – a comunicação entre pessoas – para se tornarem aparatos de várias utilidades, espécie de x-tudo, a ponto de neófitos como eu se perguntarem se a telefonia anda nos trilhos certos.
Outro dia me ofereceram na rua um telefone pirata que, dizia o vendedor, tinha todas as funções do original. Para provar, ele puxou uma pequena antena e mostrou no visor cenas exibidas num canal de televisão. Viu? – perguntou ele. E sorriu, explicando que a única diferença era o preço, obviamente bem mais baixo que o do original.
Atraído pela engenhoca que, entre outras funções, é um mini aparelho de televisão, perguntei a um amigo sobre a qualidade dos telefones vendidos na rua pelos camelôs. Explicou-me o amigo que se trata de bons aparelhos, mas de durabilidade bem menor. Podem dar problemas - disse ele – principalmente se forem de tela de toque. A origem? Ora, logicamente a China, país que produz de tudo, até réplicas aceitáveis de quadros de arte. Você pode ter um Van Gogh na sala de sua casa e dar-se por satisfeito desde que não seja um especialista ou não fique atrás de detalhes. Essa alegria pseudocultural que beira o kistch é patrocinada pela China onde alguém teve a idéia de reunir numa cidade pintores de boa mão, para reproduzirem quadros de arte.
Mas, voltemos aos telefones. O meu amigo entendido em tecnologia me contou que na China existem milhares e milhares de pequenas empresas, reproduzindo aparelhos de toda espécie, inclusive telefones. Segundo ele, tal é a dimensão do mercado de peças naquele país que, da noite para o dia, um grupo de mais ou menos oito pessoas torna-se capaz de montar e produzir similares de produtos comercializados no mundo todo. É por isso que os lançamentos de telefones pelas grandes empresas são revestidos por segredo e muita segurança: existe o risco de os novos modelos serem copiados e chegarem ao mercado paralelo antes dos originais.
O certo é que para pessoas como eu, esses novos telefones parecem coisa estratosférica, tal a quantidade de recursos que apresentam. Eles se tornaram uma coqueluche dos tempos atuais e arrastam legiões de apaixonados que os compram por altos preços. A cada vez que entro num shopping center de cidade grande, e passo defronte uma loja de telefones, fico abismado com o número de pessoas nas filas, à espera de serem chamadas para comprar ou trocar seus aparelhos. Pelo que concluo que nessa história toda quem está na contramão sou eu ao achar que telefones não precisam de tantos recursos.
Apesar disso, ainda acho que tenho alguma razão nessa história toda. Recentemente, na época do natal, descobri por acaso que pretendiam me dar de presente um smartfone. Juro que tremi nas bases como alguém prestes a receber um aparelho dotado de um botão secreto que, caso apertado, poderia destruir o mundo. Desesperado, entrei na internet para ver o que é um smartfone e descobri que se trata de um aparelho inteligente que roda a sistemas operacionais como o Windows Mobile, o palm OS e o symbiam OS. Por essa razão, são capazes de rodar aplicativos no formato .sys, fato que dá a eles grande versatilidade: rodam processadores de texto, editores de imagens etc. Um desses smartfones é o iphone que funciona com o MAC OS X. Parei nesse ponto, visto que não alcancei grande parte do significado das coisas que estava lendo
Na noite de natal esperei ansiosamente o momento de receber o meu presente, já resignado a ser mais um feliz proprietário de um smartfone. Na hora deram-me um pacotinho e tive certeza de que o meu destino fora selado, nada poderia fazer senão ler o manual e tentar, pelo menos, aprender como fazer ligações telefônicas com ele. Entretanto, qual não foi a minha surpresa ao abrir o pacote: ganhei um GPS.
Agora coloquei o GPS no carro e estou em fase de entendimentos com ele. Dentro da caixinha de plástico tem uma mulher que fala o tempo todo, dando-me ordens sobre os caminhos que devo seguir. Às vezes ela me irrita porque não concorda com as minhas escolhas e fica repetindo que está refazendo o trajeto.
Uma caixinha que fala e mostra as ruas por onde estou passando, veja você. Se me contassem isso há alguns anos eu teria dado uma sonora gargalhada na cara do mentiroso.