greve de policiais na Bahia at Blog Ayrton Marcondes

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Crise na Bahia

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Ah, Salvador! Inesquecível o dia em que vi a cidade pela primeira vez. Emocionante. Desembarquei no aeroporto e peguei um táxi até a estação rodoviária. Minha missão era viajar para o interior, região de Canudos, o sertão. Aconteceu que na rodoviária fui informado de que o próximo ônibus sairia só às sete da noite. E estávamos num tarde de sol, dia e tanto de muito calor…

Deixei a maleta num guarda-volumes e decidi dar uma volta pela cidade. Pensei num táxi, desisti e tomei um circular. Foi demais. Desci na Praça Castro Alves, maravilhado com a beleza do mar lá embaixo. Andei pelo centro, passei pelo Terreiro de Jesus, conheci o Pelourinho e, depois, fui à Cidade Baixa pelo elevador Lacerda. Internei-me no Mercado Modelo e já ia me perdendo da hora quando reparei que, em meu enlevo pela cidade, ia me esquecendo das 7 horas da noite em que o meu ônibus partiria da rodoviária em direção ao sertão.

Isso foi há muito tempo. Achei Salvador um lugar lindo, de múltiplas culturas, apaixonei-me instantaneamente pela cidade e guardei, daquele dia, funda e agradável impressão em meu espírito. Depois disso voltei outras vezes a Salvador, a última há cerca de dois anos quando encontrei a cidade metida em ares de abandono, particularmente o centro, o adorável Pelourinho e região próxima a ele.

Salvador, primeira capital do Brasil, Salvador governada por Tomé de Souza, Salvador invadida pelos holandeses, Salvador de tantas revoltas e muita história! Eis que vejo a cidade nos noticiários que já correm o mundo, criminalidade em alta, greve de policiais militares que toma contornos de absurdo e passa a exigir rápida solução. Os policiais invadem o prédio da Assembleia Legislativa que é cercado por militares do exército. Há confrontos, bombas de efeito moral e balas de borracha são atiradas. Multidão de repórteres em plantão permanente, o governador a chamar de bandidos aos grevistas o que causa estranheza à opinião.

Vejo imagens da Salvador convulsa na televisão. Lojistas reclamam dos prejuízos, ainda mais nessa época do ano, dias antes do carnaval: há que se dizer que a Bahia é carnaval, é festa é trio elétrico, é gente rodando na pipoca. Dá tristeza ver essa Salvador insegura, estremecida, ameaçada.

Fecho os olhos, estou de novo seguindo em direção ao elevador Lacerda, vejo lá embaixo o mar banhando pelo sol de fim de tarde no qual repousam inúmeras embarcações e deixo de me interessar por essa greve que desencanta, faz-nos perder a confiança nos homens que nos governam e tanto nos entristece.