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Dia de greve
Quem estava em São Paulo na última quarta-feira não precisa ler nada a seguir porque presenciou uma das maiores confusões já ocorridas na cidade. O recorde anunciado de congestionamento de trânsito no meio da manhã - 249 km – é apenas um dado da imensa tragédia vivida por uma população que se pergunta, afinal, o que fez de mal na vida para merecer tamanho castigo.
Metrô e trens parados pela greve decretada pelos sindicatos. Milhares de pessoas lutando, corpo a corpo, para entrar em ônibus. Multidões seguindo a pé em direção aos locais de trabalho ou na volta para as suas casas. Depredações. Pessoas enfurecidas chutando grades, portões. Trabalho intenso e impossível da polícia para conter manifestações. Filas e mais filas de veículos parados sem previsão de desenlace pra a situação. Programas de rádio com os comentários de sempre, flashes televisivos, avisos sobre a inexistência de rotas alternativas. Confusão, descalabro, desrespeito ao contribuinte que paga para que problemas de tal ordem não aconteçam.
Mas, de quem a culpa? Do governador que acusa como responsáveis um “grupelho” movido por intenções eleitoreiras? Do sindicato dos Metroviários? Da população?
Acusações e respostas brotam de toda parte. Aqui os metroviários a lembrar dos lucros do governo com o metrô e a incapacidade do sistema para atender com dignidade a população. Ali o governo a afirmar que as tentativas de acordo não foram aceitas pelos metroviários que exigiam muito mais do que tinham direito.
No fim da tarde, finalmente o acordo, nem lá, nem cá, em função do pedido dos trabalhadores e das concessões do governo. Mas, enquanto se discute, a cidade agoniza, os meios de transporte entram em colapso e a população sofre pagando o preço de tanta imprevidência.
No dia seguinte os jornais estampam declarações de ambos os lados. Cada parte culpa a outra por intransigência. Eu fico com a imagem de uma mulher parada em meio a um tumulto ocorrido perto da estação do metrô na Zona Leste. Gente correndo para todo lado, polícia atirando bombas de efeito moral, homens jogando-se contra portões fechados e ela lá, em pé, rosto sangrando, talvez se perguntando por que, afinal, as coisas têm que ser assim.