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A rede social

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“A Rede Social” é filme aberto a várias leituras. Há, sim, uma grande preocupação do diretor David Fincher em investigar a natureza das suas personagens, a maioria delas pessoas jovens envolvidas com o processo de criação do Facebook. Talvez à geração pós-internet o que mais atraia seja o lado gauche de hackers superdotados que não encontram lugar no mundo real e tornam-se, eles próprios, máquinas pensantes conectadas a outras máquinas – a ideia de rede desperta a sensação de que pessoas e máquinas interligam-se por uma espécie de miasmas, não sendo possível saber quem está no comando, o homem ou a máquina.  Existe também o lado da coisa nova que de repente encontra lugar para se instalar no mundo, abrindo espaço para a adesão de pessoas e suscitando a incrível pergunta: por que não pensei nisso antes? Mas, o que mais impressiona a alguém que veio de um tempo anterior às facilidades de comunicação hoje existentes é a loucura de algo que se expande, fazendo uso de anseios de seres humanos que clamam por atenção e precisam, obstinadamente, integrar-se a algo que faça deles seres comunitários. Um monstro assim, capaz de crescer assustadoramente e, da noite para o dia, chegar a valer 25 bilhões de dólares, simplesmente se instala para subverter a lógica de valores aos quais os mortais comuns estão a habituados. Em síntese, é na curiosidade sobre como uma coisa dessas pode acontecer que reside a grande força e atração de “A Rede Social”.

Não que o filme se reduza a simplesmente curioso. Há que se destacarem outros aspectos, entre eles uma nova ordem de comportamentos ditada por imperiosas necessidades de momento num ramo onde a velocidade dos acontecimentos é vertiginosa. Aliás, é na vertigem de um processo mental alucinante que se apoia a maior parte da trama. Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg), o criador do Facebook, mais parece um long-play tocando em setenta e oito rotações. A sequência inicial do filme, na qual ele está num bar com sua namorada, falando numa velocidade espantosa, é atordoante. Ali mesmo, antes dos letreiros, o filme já diz a que veio: o diretor parece querer nos dizer que estamos a adentrar outro mundo no qual as regras são diferentes, outra é a ética - se é que existe - e tudo é possível. Nesse mundo a Universidade de Harvard surge como uma reserva de inteligência pela qual circulam possíveis gênios. É entre as paredes da universidade que Mark se apresenta como um desajustado que não se integra ao dia-a-dia universitário. Tremendamente só Mark tem um único amigo que se tornará seu sócio no FACEBOOK e que, mais tarde será descartado por ele em penoso processo judicial.

Mark é um analista de sistemas graduado em Harvard. Não deixa de ser interessante o fato de que ele, incapaz de relacionamentos reais, justamente se torne o criador de uma rede para contato entre pessoas por via eletrônica. É como se o cérebro do pequeno gênio, que trabalha de modo brilhante e acelerado, tivesse buscado e encontrado uma via alternativa para se entender com o mundo. Mark é um produto do tempo da integração do homem com as máquinas e talvez não fosse nada sem a existência delas.

“A Rede Social” é obra de um diretor experiente que domina com muita eficácia a arte narrativa. O filme nos prende pelo tema que aborda, pela excelente atuação dos atores e a utilização de uma técnica narrativa que plasma o futuro com o passado através de flashbacks muito bem elaborados e dosados. A acusação de que Mark teria roubado a ideia do FACEBOOK de colegas da universidade permeia toda a história e os flashbacks são elaborados em torno de reuniões nas quais Mark se defende durante tentativas de acordo.

Há muito a se falar sobre “A Rede Social” que com justiça está indicado em algumas categorias na a próxima premiação do OSCAR. O filme termina com a figura de Mark, sozinho numa sala, olhando para um notebook. Uma advogada que trata da questão de direitos sobre o FACEBOOK diz a Mark que ele não é um babaca embora faça muita força para sê-lo.

E ficamos sem conhecer direito esse rapaz que aos 29 anos de idade tornou-se um dos homens mais ricos do mundo. Quanto às acusações de roubo de propriedade intelectual o melhor é ficar com a frase emblemática que acompanha o título do filme: você não consegue 500 milhões de amigos sem fazer alguns inimigos.