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O homem enjaulado
Chama a atenção uma iniciativa do Canal BandNews que, em meio aos noticiários, passa a exibir alguns minutos de boas notícias. Boa notícia é coisa tão rara hoje em dia que não há como não se parar para ouvir o que o locutor diz. Nesta semana fala-se sobre evolução no tratamento de tetraplégicos. Estimulados eletricamente alguns deles tem conseguido movimentar as pernas. Um dos paraplégicos apresentados consegue manter-se em pé por alguns instantes. A boa notícia faz referência ao ator Christopher Reeves, aquele que fez no cinema o papel de Super-Homem. Reeves estava no auge da carreira dele quando, ao praticar equitação, caiu de um cavalo. A queda provocou lesão irreversível na medula espinhal, tornando-se o ator tetraplégico. A partir daí Reeves dedicou-se a estimular as pesquisas para tentar reverter a situação dele e de outras pessoas. Infelizmente Reeves faleceu antes de poder assistir a alguns progressos da medicina no tratamento de seu mal.
De que a vida hoje em dia está bem mais complicada não restam dúvidas. Os homens seguem perdendo a capacidade de chegar a acordos, muitas vezes por falta de uma simples conversa. O seu vizinho passou a ser potencialmente um inimigo. As pessoas com as quais você cruza nas ruas podem não ser confiáveis. Existe sempre a possibilidade de que algum malfeitor surja diante de você com a intenção de roubá-lo ou matá-lo. O valor da vida está em baixa no mercado e atrocidades acontecem a toda hora. Os maus exemplos proliferam nos altos escalões de modo que a confiança geral está abalada. Desvios de somas formidáveis de dinheiro acontecem e são encobertas para não expor publicamente os interesses de grandes beneficiados. Escândalos explodem a toda hora, mas ninguém acredita que venham a ser apurados e os responsáveis punidos.
Eis aí, em andamento, a era do homem enjaulado. As paredes de sua casa funcionam como última muralha dentro das quais você se esconde, torcendo para que a sua precária segurança não venha a ser devassada.
Ler ou não jornais? Assistir ou não aos noticiários? Isolar-se? Fazer de conta que tudo está bem e a alegria nos espera em bons momentos que nos façam sentir realmente humanos?
Como não é possível prever o futuro e nem esperar que a situação melhore, resta-nos torcer pela chegada de boas notícias. Que se inaugure um dia de paz no qual nenhum crime seja praticado; dia em que não ocorra nenhum naufrágio com muitas perdas de vida, nenhum avião desapareça misteriosamente, nenhuma guerra prossiga, nenhuma tortura seja praticada, nenhuma mulher seja estuprada. Será um belo dia esse. Dirão que a ilusão não resolve problemas. Mas, então, será que nem sonhar ainda podemos?