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Traição
Vez ou outra relembro o caso do Aurélio e me ponho a cismar sobre o que teria acontecido a ele. Nos anos sessenta do século passado o Aurélio enamorou-se de bela moça. Apaixonado pediu-a em noivado e, depois, em casamento. Casaram-se na igreja e no cartório. Núpcias realizadas, partiram em viagem de lua de mel.
Passados alguns dias eis que retorna o Aurélio, desacompanhado da mulher que ficara na casa de seus pais em cidade próxima. Entretanto, eis que o tempo passa e nada da mulher. Como se sabe a curiosidade do povo não perdoa a ninguém. Falatório em andamento o Aurélio não tem como manter o silêncio. Acaba confessando que descobrira a mulher não ser virgem, condição sem a qual não poderia ele seguir adiante com ela.
Aurélio nunca mais se casou, nem consta de ter-se ligado a qualquer mulher depois. Assumiu o papel do homem reservado e triste que o destino a ele impusera. Anos depois morreu nessa condição.
Aconteceu há algum tempo ter-me encontrado com um amigo, parente do Aurélio. Conversa vai, conversa vem, retomamos o estranho caso. Eu disse que sempre estranhei a separação do Aurélio, ainda mais de mulher tão bonita e vistosa. Seria possível que ele exigisse virgindade de uma moça naquele final da década de sessenta quando as mulheres alçavam bandeiras de liberdade?
Ouvi de meu amigo hipótese que jamais supusera. Chamava-me ele a atenção para o modo de ser do Aurélio, tipo quietão que, até enamorar-se, jamais tivera relacionamento com qualquer mulher. Aliás, nem antes, nem depois de ter-se casado e separado. Pelo que não seria absurdo se supor que “talvez o problema fosse dele”. Ou seja: o Aurélio poderia ser uma dessas pessoas para quem o sexo inexiste. Aliás, rematou o amigo, a moça com quem ele se casara jamais disse uma só palavra sobre o que teria a eles acontecido na tal viagem de lua de mel. Mais tarde ela se casara e tivera filhos, agora pessoas adultas.
Para o Aurélio a noiva o traíra. Será?
Hoje se publica um caso acontecido em Portugal. Um juiz amenizou a sentença dada a um marido condenado por maus tratos à esposa. A essa conclusão chegou o juiz por considerar inaceitável o fato da esposa ter traído o marido. O adultério cometido pela mulher resultou na minimização da sentença do agressor.
A sentença do juiz veio a público e tem despertado reações na internet. Em seu acórdão o juiz entende que “a sociedade sempre condenou e condena fortemente (e são as mulheres honestas as primeiras a estigmatizar as adúlteras) e por isso vê com alguma compreensão a violência exercida pelo homem traído, vexado e humilhado pela mulher. Foi a deslealdade e a imoralidade sexual da assistente que fez o arguido X cair em profunda depressão e foi nesse estado depressivo e toldado pela revolta que praticou o ato de agressão”
Que se saiba não houve agressão do Aurélio à mulher que acusou de não se virgem. De todo modo os envolvidos já estão mortos embora tenham nos deixado em aberto o curioso caso de sua malfadada união.