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Arte desrrespeitada
Se bem me lembro do ano foi em 1960 - ou 61 - que, pela primeira vez estive em Minas, tendo oportunidade de visitar Congonhas, Mariana, Ouro Preto e Belo Horizonte. Éramos um grupo de formandos de ginásio e ganháramos do governo estadual a viagem, de ônibus, ao estado vizinho.
Naquela época, bastante jovem, não tinha eu ciência da importância das obras artísticas que visitava. De modo que em Congonhas do Campo talvez mais tenha me impressionado o fato de presenciar uma cirurgia realizada pelo famoso médium Zé Arigó que as monumentais obras do Aleijadinho. De resto, vale lembrar de que pudemos adentrar o interior das capelas dos Passos da Paixão, ficando ao lado das esculturas do grande artista. Hoje em dia - ainda bem - as capelas são fechadas e bem vigiadas dado o perigo da ação de vândalos sempre dispostos a destruir aquilo de que não respeitam, nem entendem.
Lembro-me, também, do momento em que chegamos à Pampulha, em Belo Horizonte, e nos foi apresentada a monumental obra de Oscar Niemayer na qual Cândido Portinari deixou gravada a grandeza e ousadia de sua arte. Na ocasião, um preceptor explicou-nos a natureza dos desenhos de Portinari, destacando o fato de ter colocado um cão ao lado de São Francisco, ao invés do tradicional lobo que sempre acompanha o santo. Como se sabe o arrojo da obra de Niemayer e a obra de Portinari não foram bem aceitas pela comunidade eclesiástica da cidade à época da construção da igreja de São Francisco. Decorreram-se 17 anos até que, pela primeira vez e na presença do então presidente da República Sr. Juscelino Kubitscheck, fosse realizada a primeira consagração na igreja.
De que a formação cultural dos brasileiros infelizmente é deficiente não é segredo para ninguém. A juventude de nosso país em relação às nações europeias confere-nos diferenças inquestionáveis em relação à presença de museus e obras de arte em geral. Em Paris, por exemplo, crianças de baixa idade têm aulas de arte dentro de museus, como o D’orsay , recebendo explicações sobre pintores e quadros originais ali expostos. Talvez por isso por aqui não se valorizem tanto obras de arte por mais importantes e reconhecidas que venham a ser.
Não sei se o raciocínio acima é correto, mas talvez sirva para pelo menos explicar a ação do vândalo que ousou pichar a capela de São Francisco na Pampulha, imprimindo traços negros sobre os desenhos de Cândido Portinari. Certamente, o elemento desconheceria a importância e valor da obra que em poucos minutos maculou com seus tristes rabiscos. Ao ser identificado declarou o vândalo que fizera aquilo como protesto à recente inundação provocada pelo rompimento da barragem de Fundão em Mariana…
A restauração do painel pintado por Portinari é possível. Ainda bem. Mas, resiste essa sensação de inconformismo contra um ato não só de desrespeito a um patrimônio cultural do país como produto de tão grande imbecilidade.