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A jovem serial killer
Lactâncio (240 d.c. – 320 d.c.), filósofo cristão, ensinou Retórica em Nicomédia e depois em várias cidades do Império Romano do Oriente. Para Lactâncio a tolerância do assassinato, acontecida em sua época nos horríveis espetáculos do anfiteatro, consistia na mais clamorosa reprovação à moral pública. Escreveu ele:
“Que é tão horrível, tão espantoso e revoltante quanto o assassinato de uma criatura humana? É por isso que a nossa vida é protegida por leis muito rigorosas; é por isso que as guerras são execradas. Contudo, a tradição romana descobriu uma maneira de autorizar o homicídio sem guerra e a despeito de todas as leis: e a volúpia reivindica para si o que é crime”.
O assassinato é um crime horrível independentemente da época em que é praticado. Nem mesmo o notório crescimento desta variante de crimes, verificado atualmente, logra banalizá-la: a opinião sempre reage defensivamente quando homicídios acontecem.
Recebemos diariamente tantas notícias de homicídios que, em geral não nos manifestamos sobre eles. Não se trata, de modo algum, de indiferença: o despudor das ações criminosas nos constrange, a impunidade nos revolta e é a impotência diante dos fatos que nos paralisa. Entretanto, há ocasiões em que o mutismo cede lugar a algum comentário ainda que breve e com o sentido de patentear o nosso estranhamento em relação a naturezas rebeldes e assassinas.
Este é o caso dessa jovem que acabam de prender, num bar, em São José do Rio Preto. Tem ela apenas 17 anos de idade e confessa ter cometido trinta assassinatos, todos eles com arma branca. Segundo os policiais, a esfaqueadora relata seus crimes detalhadamente sem mostrar nenhum remorso ou qualquer emoção: matar pessoas é para ela algo natural, que faz parte do jogo da vida.
Ainda mais interessante é a razão da confissão: a assassina relata que contou tudo antes de fazer 18 anos, ocasião em que passará a ser responsável criminalmente. Sua intenção foi, portanto, zerar a sua dívida com a sociedade porque daqui pra frente as mortes passarão a valer, esse o seu entendimento.
Não é todo dia que aparece um serial killer com uma história dessas. A polícia ainda tem dúvidas sobre a realização de tantos crimes e começa a investigar. Entretanto, fica-nos o relato frio da mocinha, a perversidade da matança em série e as perguntas sobre o tipo de desvio de que ela é portadora e que a levou a atitudes tão grotescas.
Se os crimes forem confirmados e pelo menos parte deles foi inimputável estaremos diante não da autorização, como escreveu Lactâncio, mas de uma legislação perversa que permite o homicídio. E isso é inaceitável.