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O menino Sean

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A foto do menino Sean, chegando à embaixada dos EUA, é constrangedora. Ele aparece abraçado a um parente e é protegido pelo braço do advogado que cuida do seu caso.

Sean está ali para ser entregue ao pai norte-americano, o que deve ter ocorrido há pouco por que expirou-se o prazo dado pelo Supremo Tribunal Federal para que isso ocorresse. A história do caso todo mundo conhece: a mãe do menino morreu, ele vive com os avós no Rio e o pai reclama seu pátrio direito sobre o filho.

A decisão do STF teve grande repercussão não só no Brasil como na imprensa internacional. Um acordo econômico que estava suspenso nos EUA enquanto a situação do menino não fosse resolvida, foi fechado após a decisão do STF. Os avós de Sean dizem que o Brasil trocou o menino pelo acordo. Os noticiários da televisão norte-americana falam sobre o caso usando o tom de menino roubado do pai.

No centro de tudo isso está Sean. Olhem para o rosto dele na foto: verão uma criança assustada, agarrada a um parente, olhando temerosa para aquilo que o aguarda, talvez perguntando-se por que tinha de ser assim justamente com ele.

Sean tem só 9 anos de idade. A essa altura deve já estar com o pai dentro da embaixada e voará, o mais depressa possível, para os EUA. Fica o seu rosto de choro, espécie de repúdio, provavelmente inconsciente, não contra o pai que o quer, não contra a família que procura retê-lo, não contra a Justiça que se ocupa do seu caso: é contra a sorte, contra a vida do modo que ela está se apresentando a ele que fecha o seu semblante.

Olhem para o menino da foto.

A negativa da ministra-chefe

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O depoimento da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff como testemunha no processo movido pelo Ministério Público contra 39 réus no caso do mensalão constitui-se numa peça e tanto pela natureza do seu conteúdo.

A ministra-chefe negou a existência do esquema do mensalão, dizendo ser impossível que partidos políticos exigissem “vantagem financeira”; afirmou que ex-ministro da Casa Civil e deputado cassado José Dirceu (PT-SP) é um “injustiçado”; negou conhecer o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, tido como o “operador” do esquema do mensalão; elogiou deputado Paulo Rocha (PT-PA), que renunciou ao mandato para se livrar de condenação na época do escândalo do mensalão; e defendeu o ex-deputado Professor Luisinho (PT-SP), que não se reelegeu depois da denúncia do mensalão. São informações publicadas pela imprensa.

E agora? O que nos resta para pensar? Senhora ministra-chefe, a senhora que é pré-candidata à presidência da República, considere, por favor, a situação em que ficamos todos nós, os eleitores que votarão em 2010. Afinal, em quem devemos acreditar? No depoimento que a senhora fez sobre o mensalão aí Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), sede provisória da presidência da República, em Brasília? Ou em tudo o que aconteceu naquele terrível espaço de tempo durante o qual a República teve aberto o seu ventre para a exposição de acusações terríveis que tanto nos chocaram?

Eis aí uma situação que se enquadra à perfeição dentro de um sistema binário do tipo aconteceu/não aconteceu, verdade/mentira etc. Num sistema desse tipo está-se no território que os matemáticos chamam de eventos mutuamente exclusivos, nos quais a ocorrência de um significa a não ocorrência do outro. Enfim: se existiu ou não o mensalão, e ponto final.

Dirão que não é tão simples, o evento em questão é muito complexo, etc. Mas numa coisa devemos insistir: detalhes à parte, nós precisamos saber se afinal houve ou não o mensalão porque o que está em jogo é a confiança que temos nas instituições, nos políticos, nos candidatos que se apresentarão às próximas eleições e, por que não, na imprensa.

O povo brasileiro é calmo e ordeiro, gosta de festa, adora foguetório e quase sempre esquece muito depressa tudo o que acontece, especialmente aquilo que o incomoda. Mas a história do mensalão, essa aí ainda não foi possível esquecer. Afinal, a imensa massa de brasileiros que trabalha e paga taxas muito altas de impostos foi, durante um bom tempo, bombardeada, dia e noite, por um noticiário que incriminava muita gente, envolvendo grandes somas de dinheiro público. Na época houve até gente que, para se livrar de perder o mandato, renunciou e saiu pela porta dos fundos do Congresso, esperando que a fraca memória popular os esquecesse até que pudessem voltar aos seus postos.

Então era tudo mentira? Fomos enganados por alguma campanha maléfica engendrada pela mídia? Ou a própria mídia foi enganada por gente muito esperta e usada para espalhar mentiras que abalaram o país?

Senhora ministra-chefe, eu jamais escreveria isso se o assunto não me incomodasse tanto. Entretanto, como tantas outras pessoas, eu me vejo entre duas versões irreconciliáveis sobre um mesmo fato. Espero, sinceramente, que esse assunto venha a ser esclarecido antes das eleições do ano que vem para que eu possa votar com muita consciência.

Sabe, é um voto só, um votinho. Mas é o meu.

De dentro dos blogs

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Comecei a fazer um blog por sugestão e incentivo de alguns amigos. Não custa confessar que achava a coisa desnecessária, inútil e até perigosa. Perigosa? Sim porque não sendo o blog a única coisa a fazer na vida (ah, se fosse!) entendia não valer a pena o risco de escrever alguma bobagem (bobagens podem ter conseqüências).

Comecei meio timidamente e devo ter publicado uma boa quantidade de textos que contaram com um único leitor: eu mesmo. Depois surgiram poucas pessoas que diziam ler até que os gráficos da Locaweb passaram a indicar um número crescente de acessos.

Foi nessa altura que surgiu a responsabilidade de assumir um ritmo de publicações. Os gráficos indicam horários de pico e de repente me vi na obrigação de antecipar-me a eles publicando novos textos. Desse modo, o blog que até aí era só uma experiência, passou à condição de serviço – não remunerado, é bom que se diga.

Devagar foram chegando comentários, muitos deles estimulantes. Coisa curiosa: por ocasião de algum acontecimento de destaque não é incomum que alguém escreva pedindo um texto sobre o assunto. Aconteceu por ocasião da morte de Michael Jackson: em minha opinião escrevia-se tanto sobre ele e as circunstâncias de sua morte que seria totalmente desnecessária mais uma opinião. Fui convidado a dá-la e o fiz.

Resolvi falar sobre esse assunto depois de ouvir uma entrevista do jornalista Clóvis Rossi sobre escrever para a internet. Segundo Rossi, o jornalismo consiste em ver, ouvir, ler e contar daí não importar o meio de divulgação, seja papel, nuvem de fumaça, enfim. Isso, obviamente, sob o ponto do vista do repórter que emite a informação, independentemente do modo como venha a ser veiculada.

Entretanto, não se pode esquecer que a internet tem entre suas características a de ser democrática. Você simplesmente não precisa ser jornalista ou escritor conhecido para utilizá-la como meio de divulgação das suas idéias. A internet abre a qualquer pessoa a oportunidade de divulgar o olhar pessoal e absolutamente individual de quem quer que seja sobre qualquer assunto. Além disso, confere aos que fazem uso dela um tipo de liberdade individual cuja única censura é a própria consciência. Inexiste às costas de quem escreve um grupo econômico e a obrigação de servir a qualquer tipo de interesse. Não há o tal “rabo preso”, portanto. Não que isso não seja possível a um colunista da grande imprensa, mas o fato é que em muitas situações prevalecem os aspectos corporativos.

A internet permite a qualquer um divertir-se no bloco do “Eu sozinho”. Você escreve sobre o que dá na sua telha e tem a rara oportunidade de publicar o seu texto em seguida, sem intermediações, sem gastos além do pagamento da mensalidade da Net, do Speedy ou o que seja. Conta com as 24 horas do dia para produzir e publicar os textos e, incrível, encontra quem os leia. Mais: a internet abre a porteira do mundo para a revelação de novos talentos, a maioria deles fatalmente barrada nos portais das grandes editoras e meios de comunicação.

Por último, quero me penitenciar de opiniões que professei no passado, como aquelas em que criticava os erros de jornalistas.  Exemplifico: você certamente se lembra dos enormes textos produzidos pelo Paulo Francis nos quais não era raro encontrarem-se erros de citações, dados, etc. Hoje entendo que ele fazia um trabalho incrível. Não contava ele com a fonte de informações disponível a um clique do mouse e que surge na tela do computador em segundos. Ele fazia o seu trabalho na raça, utilizando arquivos, como de resto o faziam os jornalistas do mundo inteiro, muitos deles ainda em atividade.

Dito isso, viva a internet e longa vida aos blogs!

Escrito por Ayrton Marcondes

2 setembro, 2009 às 8:20 am

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