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O barulho que incomoda
Você pode não se dar conta, mas a companhia do barulho é permanente no seu dia-a-dia. Brasileiro é um cara que gosta de fazer barulho, isso dá para notar, não é preciso nenhuma pesquisa. Faz-se barulho sem cerimônia, ao bel prazer, em horas próprias e impróprias, tem gente que parece carregar um tambor nas costas só pelo prazer de martelar.
Tá bom, não se trata só de fazer barulho: o que há, na verdade, é um problema de educação, de falta de respeito pelos outros. E, também, de ausência de obediência a regras, à legislação. Exemplo: ao lado do prédio onde moro existem três casinhas cujos moradores são muito espaçosos e ruidosos. Hoje em dia as lojas vendem equipamentos de som, com boa potência, em 10, 20, 30 vezes. Basta comprar um daqueles, pagar uma merreca por mês e para passar à condição de proprietário de um “som” para festas. Depois é só chamar os amigos, deixar rolar uma cervejinha, assar uma carninha e espalhar-se até na calçada. Pronto, está feita a alegria de todo um domingo que se arrasta até altas horas da noite. Os vizinhos afrontados? Ora trata-se de gente muito chata, que não aceita a alegria dos outros, não gosta de berros, da gritaria infernal, de pagode; gente horrível esses vizinhos elitistas que só não ligam para a polícia por saberem que, se não pintar sangue na festa ao lado, nada será feito.
Há também aquele baixinho que tem um cachorro grande. Todo dia o baixinho sai às 7h30min para trabalhar e deixa o cachorro no cercado da frente da casa. Dirão que o cara é boa gente, cuida bem do cachorro, seria maldade deixar o bicho preso dentro de casa o dia inteiro. É verdade. Só que das 7h30min em diante o cachorro não para de latir. É um latido grave e profundo, forte porque, já disse, o cachorro é grande. De vez em quando ele pára, mas a gente sabe que não deve se animar porque, minutos depois, ele recomeça a ladainha dele. Às vezes penso que esse cachorro é um sujeito triste e desiludido da vida, talvez até não goste do baixinho que é seu dono. Por isso ele late, fria e metodicamente, como um marca-passo que não controla nada ou o ponteiro de relógio que não regula hora nenhuma. É assim que manifesta o desespero dele.
Não vou ficar aborrecendo com coisas do meu quarteirão. Poderia me estender sobre o caso do cidadão que é proprietário do bar da esquina e tem um rádio potente. Ele gosta de dividir o seu gosto musical com os vizinhos, tão boa praça é esse cidadão. Em dia de jogo, então… Aí ele põe mesinhas na calçada, pendura bandeira do seu time do coração no poste defronte e liga o rádio a um sistema de som para que todos possam ouvir o jogo. O resto deixo para você imaginar.
Se você acha que estou irritado e por isso escrevendo essas coisas, errou. Até que já me acostumei com o vendedor de pamonhas, curau, sorvete, suco de milho etc. Ele passa toda manhã num carro pequeno em cujo teto instalou um alto-falante para avisar aos interessados de que está perto, é só correr para deliciar-se com as gostosuras que ele produz para deliciar-nos.
Você pode estar achando que estou exagerando. Não estou não, de jeito nenhum. Olhe que nem estou reclamando dos escapamentos abertos das motos, dos carinhas que colocam som grande no carro e andam com ele ligado e o porta-malas aberto, dos torcedores que extravasam alegria com as cornetas – é uma delícia ouvir cornetas perto da meia-noite quando os jogos noturnos terminam -, das britadeiras da prefeitura que começam a vibrar muito cedo, dos vizinhos de prédio que arrastam móveis ou cismam de furar a parede nas horas mais impróprias, dos bares noturnos da vizinhança, do cara que grita avisando sobre o gás, daquela música maravilhosa com a qual nos brindam enquanto fazemos compras nos supermercados… Esses três pontinhos aí servem para você completar a lista.
Tá bom, aceito o conselho, vou me mudar para uma floresta. Mas, será que os animais não gritam de madrugada?