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E o Serra, hein?
Anos atrás assisti a um filme cujo tema era as eleições primárias de um partido para escolha do candidato à presidência da República dos EUA. Se não me engano era Henry Fonda a fazer o papel de um governador que vencera várias primárias, mas que, nos momentos mais agudos da campanha, mostrava-se indeciso. Ao contrário dele, o seu concorrente à vaga de candidato era um tipo frio e decidido. No final, aliás previsto, o pré-candidato indeciso instruiu os seus delegados a descarregarem os votos no oponente que tornou-se candidato oficial do partido.
Das muitas atividades humanas talvez a política seja uma das que melhor revela perfis humanos. É conhecida a trajetória de Edward (Ted) Kennedy, considerado pelos membros do clã Kennedy como o melhor e mais hábil político da família. E ele mostrou isso após os assassinatos de seus dois irmãos, John e Bob, tornando-se senador extremamente atuante do Partido Democrata. Entretanto, Ted foi derrotado em sua pretensão de candidatar-se à presidência, em 1980, perdendo a indicação para Jimmy Carter. Sobre Ted Kennedy pairava a impressão de que ele não serviria à presidência por não se adaptar bem a momentos de pressão. Tal impressão decorria de seu comportamento por ocasião de um trágico acidente de carro em que ele estava acompanhado por uma ex-secretária. Consta que Ted não teria prestado socorro à sua companheira que morreu afogada. A declaração de que estaria em estado de choque, daí ter-se demorado a comunicar o fato, pesou sobre Ted Kennedy por toda a sua vida.
O conteúdo dos parágrafos anteriores possivelmente nada tenha a ver com as atitudes recentes do governador de São Paulo, Sr. José Serra. Entretanto, não se pode negar que a demora do governador em apresentar-se como candidato à presidência da República vai passando da condição de atitude estratégica para a de indecisão. De repente já se fala sobre a eleição anterior para presidente na qual Serra, então candidato natural de seu partido, cedeu a vez para Geraldo Alckmin.
Todo mundo sabe que a preparação para uma eleição na qual o lado oposto é chefiado pelo próprio presidente da República exige grandes cuidados. O problema da escolha do candidato a vice-presidente é só um em meio a um imbróglio de alianças e outros fatores essenciais para a vitoria final. Ainda assim, a atual indefinição já descamba para a sensação de incerteza, o que pode ser muito grave em termos eleitorais. Tanto isso é verdade que não é raro, hoje em dia, encontrar pessoas dispostas a apostar que Serra não será candidato e cederá o lugar ao governador de Minas Gerais, Aécio Neves.
A política é atividade que exige, de quem a pratica, dotes especiais destacando-se, entre outros, a diplomacia no trato com pessoas, capacidade de convencimento e até uma boa dose de paciência. Mas ela também exige certa dose de arrojo, da impulsividade que leva a correr riscos quando há possibilidade doe vitória.
A imagem do governador José Serra está hoje associada a um enorme ponto de interrogação. Seguro demais, talvez? Indeciso? Estrategista além da nossa capacidade de compreensão? Ninguém sabe. O que se sabe é que o desgaste de uma situação como a atualmente vivida por José Serra é inevitável.