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As críticas ao ex-presidente
Basta correr os olhos nos jornais para encontrar textos que condenem as atitudes do ex-presidente da República. Ora se fala sobre a herança maldita que legou a sua sucessora, herança essa na qual se destacam enormes contas a pagar que chegam a um total de 137 bilhões; ora se critica o ex-presidente pelo fato de ele se sentir dono do país, tanto que, embora apeado do poder, encontra-se descansando com a família em instalações do exército, no Guarujá; de outra vez fala-se sobre as regalias dos filhos do ex-presidente que receberam passaportes diplomáticos a isso se acrescendo o fato de que ambos eram pobres no início do governo do pai e agora são sócios de várias empresas; e por aí vai, jamais se deixando de lado o fato de que o ex-presidente é adorado pelo povo.
O que não se sabe é se está em andamento um lento processo que visa a erosão da figura do ex-presidente. Se assim for trata-se de um trabalho que exige paciência e cujo resultado é imprevisível. O fato é que o público que lê essas letras miúdas dos jornais é restrito e está mais que careca de conhecer o modus operandi do ex-presidente no sentido de endeusar a si próprio. Para a grande massa e brasileiros, aquela que se fia no palavrório dos governantes e passa a ter acesso a bens antes inatingíveis, pouco importa o que a tais cabeças pensantes dizem. O povo deu o seu recado nas urnas, elegeu uma desconhecida para a presidência, isso a mando do líder que os comanda, e o resto não passa de conversa fiada.
Mas, é nesse ponto que as coisas se confundem. Qual deve ser o comportamento da imprensa no caso Lula? Entregar-se a críticas e acusações, embora reconhecendo o valor merecido de aspectos do governo dele? O que parece é que a imprensa não consegue se livrar do fantasma de Lula. O homem deixou a presidência, hora de deixá-lo em paz, senão ignorá-lo. Estamos no início de uma nova década, uma nova presidente está em exercício, o futuro nos chama. Para aqueles que se comprazem em criticar o ex-presidente, para os que não o suportam, vale lembrar que justamente o que ele precisa é de luzes e ribalta. Pois que deixem de mostrá-lo acenando de varandas, de falar dele, das caixas de pertences pessoais que estão sendo entregues na casa dele, dos aparelhos de ginástica que tiveram que ser devolvidos à presidência, dos 100 ternos que ele usava enquanto presidente, do cabelo da primeira-dama, do craque que está no banco de reservas da Dilma e assim por diante. Pelo amor de Deus, chega.
Está mais que claro que esse início promete ser o período mais difícil para o governo que começa. Rubens Ricupero elencou, em artigo publicado na “Folha de São Paulo”, os gargalos que o novo governo terá que enfrentar todos eles decorrentes do engajamento do governo Lula na vitória eleitoral da candidata do planalto. São eles: inflação de mais de 6%; dólar a R$1,60; déficit em conta corrente de mais de 50 bilhões; superávit primário de menos de 1% do PIB.
Então há muito que pensar e fazer, cada um no seu papel, a imprensa noticiando e comentando, o governo tomando medidas de interesse coletivo. Enquanto isso, o governo anterior vai se tornando a cada dia mais passado e seus personagens incorporando-se à paisagem, como, aliás, acontece a todos os que deixam governos, em todo o mundo.