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As inquietações dos jovens
Não é possível resumir em meia dúzia de parágrafos as inquietações dos jovens de hoje. Adolescentes iniciam suas vidas num mundo fragmentado e de difícil compreensão. Valores que empolgaram as gerações passadas mostram-se insuficientes para a interpretação do cotidiano. Derivam daí comportamentos anômalos, muitos deles extremados e descambando para a criminalidade. Note-se que isso acontece até mesmo com jovens cujas famílias proporcionam a eles oportunidades educacionais privilegiadas.
Dentro do contexto anteriormente apontado é natural que as inquietações dos jovens atuais difiram das que assolaram seus pais quando adolescentes. Aliás, desse fato resultam muitas vezes incompreensões que podem afetar gravemente o relacionamento entre pais e filhos. Trata-se da conhecida incompatibilidade entre discursos baseados em diferentes visões de mundo.
Por essas razões fiquei muito surpreso com conversa que mantive com duas professoras do Ensino Médio. Falavam elas sobre as inquietações dos jovens e fizeram o milagre de agrupá-las em apenas dois tipos. Nas palavras delas:
- Existem inquietações relacionadas à Justiça e outras ligadas aos sentimentos.
Explicou-me uma das professoras que a noção de Justiça prende-se a coisas estanques como certo e errado. Assim, não importa muito a dimensão de um crime porque, uma vez cometido, é errado. Diante disso as professoras perguntaram aos jovens se um assalto a banco tem a mesma dimensão de roubo de dinheiro para comprar comida. A pergunta despertou várias respostas e opiniões, na verdade embaralhando um pouco a noção de certo e errado porque acrescentou a ela o sentimentalismo que cerca a fome e a pobreza.
No fundo, disseram-me, para os jovens as coisas ligam-se principalmente ao amor, tema de grande complexidade que se agrava pela inexperiência deles. Sobre isso travam-se discussões acaloradas, durante as quais cada um agarra a oportunidade de dizer o que pensa.
Assim, as professoras destacaram o grande interesse dos jovens em manifestar as suas opiniões para o que poucas vezes têm eles oportunidade. O fato é que os adolescentes nem sempre são ouvidos e acabam sendo enquadrados num discurso do tipo “essa fase vai passar, com o amadurecimento tudo se resolve”.
Todos nós passamos pela adolescência e sabemos que as coisas não são tão simples. Período complexo e de grandes descobertas a adolescência é o momento em que o jovem abre as janelas que permitem a ele observar o mundo e inserir-se nele. Se me perguntarem sobre algo que me marcou nesse período direi que foi uma fase despretensiosa, vinda de alguém que a pronunciou talvez por não ter outra coisa a dizer. Estava eu às voltas com as tais definições que muito cedo somos obrigados a tomar, bastante confuso por não saber que caminho escolher. Nessa ocasião um parente sentiu-se na obrigação de me dizer algo. Então disse:
- O problema é que você está querendo colocar a carroça na frente dos bois.
Depois disso, vida afora procurei organizar as minhas atitudes sempre com o cuidado de deixar com que os bois puxassem a carroça. Vez por outra, em situações difíceis, as rodas da carroça ficaram presas, o eixo quase quebrou, mas os bois fizeram a sua parte e a viagem da vida prosseguiu.
Foi assim que chegamos, eu, carroça e bois ao dia de hoje, confiantes de que venceremos os quilômetros que ainda tivermos à frente, sempre seguindo o mesmo e lógico princípio.