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Velhice e aposentadoria
Por ocasião da realização da última Bienal do Livro, em São Paulo, uma conhecida escritora declarou que a velhice é um horror e acrescentou: eu era tão bonita…
O tempo passa, o tempo voa e a poupança… quase sempre diminui. Num país tropical onde a juventude é muito valorizada as oportunidades no mercado de trabalho encolhem na medida em que se envelhece. O grande problema a enfrentar é a manutenção do padrão de vida a partir do instante em que o envelhecimento reduz ou impede a continuidade do trabalho.
A situação da velhice é complexa em todo o mundo. Agora mesmo assiste-se ao braço de ferro entre o presidente Nicolas Sarkozy e a sociedade francesa. A intenção do governo francês é a de elevar, de 60 para 62 anos, a idade para aposentadoria, medida essa já aprovada pelo parlamento. No Japão pretende-se elevar a idade de aposentadoria de 60 para 65 anos. O significado óbvio dessas medidas é a redução dos gastos do Estado com aposentados.
Enquanto isso, no Brasil, verifica-se aumento da expectativa média de vida. Segundo o IBGE a expectativa de vida no país chegou a 73,1 anos em 2009. Em contrapartida o INSS – órgão que paga as aposentadorias – vem apresentando rombos milionários, devendo chegar a cerca de 45 milhões ao final de 2010.
É nessa hora que se faz necessária muita cautela e a adoção de políticas responsáveis em relação ao problema. Agora mesmo, em plena campanha eleitoral, promete-se um reajuste de 10% para os aposentados. É verdade que a medida é mais que justa, mas como evitar o aumento do rombo?
Há cerca de quinze anos assisti a palestra de um economista que participara de fórum mundial de economia na Europa. Na ocasião ele relatava que o grande tema do fórum fora o envelhecimento da população mundial, havendo preocupação de muitos países que, assim se acreditava, chegariam a uma situação insustentável em algumas décadas. Não se chegou a isso ainda, mas o problema é crescente e de fato muito preocupante dado que a sempre benvinda melhoria da qualidade de vida contribui diretamente para elevação da expectativa de vida.
No Brasil não se pode dizer que tenha existido, até agora, um sistema previdenciário, estatal ou particular, que dê conta do recado. Os mais velhos hão de se lembrar de que há alguns anos surgiram por aí uns montepios que pareciam muito confiáveis. Muita gente aderiu aos montepios que prometiam, após pagamento de mensalidades durante alguns anos, retribuição posterior sob a forma de aposentadoria até a morte do segurado. Como em geral acontece as pessoas entravam no sistema de montepios confiando e sem se dar ao trabalho de fazer direito as contas. Caso fizessem teriam notado que, apesar de toda a manipulação de números apresentada pelos vendedores de montepios, o processo todo seria inexequível. O fato é que os montepios quebraram e o dinheiro despareceu; os segurados que confiavam numa aposentadoria tranquila anos mais tarde, obviamente ficaram a ver navios.
O que tenho ouvido em relação à velhice é muita reclamação. Indisposições frequentes e dores fazem parte do discurso de pessoas idosas, tantas vezes saudosas de seus períodos de força e virilidade. Nos de idade mais avançada percebe-se algum temor, nem sempre da morte em si, mas do modo como a temerária chegará, com ou sem sofrimento.
O pior fica por conta do tratamento que se dá aos idosos. Começa pela linguagem que se usa em relação a eles sobre a qual existem muitas reclamações. Alguns idosos simplesmente abominam essa história de “terceira idade”. O cidadão está na fila para embarque no aeroporto e aí aparece aquela mocinha com cara de não se sabe o quê, dizendo que o embarque será preferencial para pessoas da “melhor idade” etc. Há quem deteste esse tipo de tratamento. E que dizer dos planos de saúde pagos durante muitos anos, quase sempre sem serem usados, que sofrem reajustes muito altos na velhice, justamente quando mais se pode precisar deles? Pela lógica de que mais risco custa mais não passam os muitos anos pagos e sem utilização?
E por aí vai.