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A criatividade
Imprevisibilidade, liberdade e novidade são características apensas à criatividade que resulta de atividades humanas na literatura, na ciência e na arte.
Tem-se falado muito sobre criatividade. Atualmente cientistas utilizam recursos avançados para localizar, no cérebro, as áreas ligadas à criatividade, provavelmente situadas o lobo frontal.
Existem vários testes para medir a inteligência e provas para avaliar a criatividade. O que se busca é a interpretação de um fato intrigante: por que certas pessoas são mais criativas que outras?
As minhas relações com a inteligência sempre foram complexas. Embora tenha plena consciência das minhas limitações e não me situe entre pessoas muito inteligentes – não se trata de falsa modéstia – o fato é que em várias ocasiões duvidei da minha inteligência. Isso aconteceu, por exemplo, na época em que prestei exames vestibulares: julgava-me incapaz de reter na memória aquela quantidade absurda de dados exigidos para o sucesso nas provas. Mais que isso: não acreditava muito nas minhas possibilidades de fazer o uso correto de muitas das informações recebidas. Esse tipo de dúvida manifestava-se, principalmente, durante a resolução de problemas de matemática e física. Digamos que eu conhecia toda a teoria necessária à resolução dos exercícios, mas faltava-me a condição para chegar a ela.
Os anos me ensinaram que as coisas não são bem assim. Em primeiro lugar, há que se considerarem as aptidões pessoais. Nem todo mundo nasce como Leonardo da Vinci, capaz de fazer qualquer coisa inclusive de pintar a “Madona”, talvez só para se distrair das engenhocas que inventava. É por isso que acredito na existência de uma inteligência setorial, seja lá o que isso for. De todo modo, penso que a setorização seja algo como a posse de determinadas habilidades, talvez em detrimento de outras.
A partir daí o problema se prende à indeterminação de nossas principais habilidades. Nesse sentido a pergunta “o que eu faço melhor?” se impõe. É preciso estar atento a ela para que a atenção pessoal não se disperse em muitas coisas de modo a não se chegue a fazer bem nenhuma. Todo mundo sabe que habilidades se desenvolvem com treino. Quem dúvida que verifique as tais escolas norte-americanas para escritores. Essas escolas ou cursos são descobridores de talentos e se orgulham de muitos de seus alunos terem-se tornado escritores importantes, alguns deles chegando a receber o almejado Prêmio Politzer.
De minha parte ainda hoje não sei se consegui responder bem à pergunta “o que eu faço melhor?”. No princípio eu achava, por exemplo, que jamais conseguiria bolar um plano muito longo, algo como o que fazem os jogadores de xadrez que movem uma peça no tabuleiro tendo em mente os vinte movimentos seguintes. Depois comecei a escrever livros, alguns com muitas páginas…
Confesso que tenho medo das pesquisas sobre a inteligência e a criatividade. Não que seja contra elas, mas me preocupa que os avanços nessa área venham a servir para rotular pessoas e suas capacidades. Nesse caso entraríamos em algo semelhante ao que já vem acontecendo com a engenharia genética: quer-se utilizar a tecnologia do DNA para previsão da futura saúde das pessoas, assunto de grande interesse para as seguradoras, por exemplo.
Creio que para muita gente o problema com a própria inteligência ainda esteja por se ser resolvido. Pessoas já bem definidas na vida talvez ainda aguardem alguma surpresa, abrindo-se para algo que jamais suporiam. Esse posicionamento liga-se às inevitáveis inquietações do espírito que nunca nos abandonam
Reafirmo que não tenho nada contra as pesquisas que visam não só descobrir os mecanismos, mas, talvez, encontrar meios de aprimorar os seres humanos, dando a eles melhores condições e mais prazer em viver. O meu pé atrás é só uma questão de receio, afinal já vimos o que aconteceu no passado quando os interesses do poder sobrepujaram os da humanidade e a ciência serviu a toda sorte de discriminações.
Da inteligência
Lobo frontal 15% maior que a média; existência de uma saliência no córtex motor; quantidade de neurônios por centímetro cúbico maior que a média; concentração maior que a normal de células gliais; e neurônios do hipocampo do lado esquerdo do cérebro mais longos que os do lado direito; são características encontradas por pesquisadores em estudos do cérebro de Einstein.
Você se considera inteligente? Já fez algum teste de QI? Você é uma pessoa que alia praticidade aos seus dons naturais de inteligência?
Houve época em que o respeito e a admiração pela inteligência eram sagrados. No Brasil de décadas passadas os estudantes do ciclo médio falavam sobre Einstein, Darwin, Marx e outros; admirava-se o alemão Werner Von Braun pelos seus trabalhos como foguetes V2 e, mais tarde, na Nasa; o filósofo Bertrand Russel era lido em seus textos menos técnicos pela estudantada; o pacifismo do cientista Albert Sabin era digno de nota; e assim por diante.
Hoje em dia pedagogos, psicólogos e professores acusam computadores, vídeo games, celulares e a televisão a cabo como responsáveis pela dispersão da atenção dos estudantes. Com tantos apelos e a facilidade da informação sem esforço, a juventude não lê, não estuda. Os dons de inteligência não se completam dado que os cérebros tornam-se embotados pela cultura adquirida de segunda mão.
Outro dia assisti a entrevista de um antropólogo na qual ele dizia que tivera a sorte de crescer num tempo em que não existiam vídeo games e televisão a cabo. Sua distração era, portanto, ler.
O antropólogo tem razão. A verdade é que em tempos não muito distantes lía-se um pouco de tudo. Homens como Paulo Rónai e Otto Maria Carpeaux empenhavam-se em divulgar, no Brasil, a grande literatura européia. Daí resultou a publicação, em português, da preciosa “Antologia do Conto Russo” em nove volumes, sob orientação literária de Carpeaux e Vera Newerowa. Através da “Antologia” os jovens travaram contato com obras de grandes escritores como Gogol, Tolstoi e muitos outros. A Carpeaux também se deve a magnífica “História da Literatura Ocidental” que em boa hora foi republicada pela Editora do Senado Federal, agora em terceira edição. A Paulo Rónai e Aurélio Buarque de Holanda Ferreira deve-se a tradução de centenas de contos reunidos na coletânea “Mar de Histórias” (Editora Nova Fronteira). Esses livros e muitos outros, de autores como os grandes poetas Bandeira e Drummond, contribuíram para a formação intelectual de gerações de pessoas que hoje ocupam vários postos no mercado de trabalho do país.
Mas voltemos à inteligência. Conheci e conheço pessoas inteligentíssimas, grande parte delas talentos perdidos. Ninguém é Einstein, mas existem muitas pessoas dotadas de qualificação mental superior. Entretanto, acontece a muitas delas não aliar seus dotes mentais à praticidade, daí ficarem à margem do sistema produtivo, muitas vezes desempenhando funções menores e aquém de suas aptidões. Isso é terrível. O fato é que inexiste um sistema de valorização de jovens talentos, capaz de valorizá-los e endereçá-los a setores onde possam dar vazão aos seus potenciais.
É preciso lembrar que cérebros avantajados nem sempre se dão bem com o mundo das pequenas coisas do cotidiano. Um grande escritor que certa vez visitou o Brasil, homem genial, revelava-se muito confuso aos que dele se aproximavam. Pedir um simples café no aeroporto, conferir o troco e encontrar nos bolsos o bilhete de embarque eram para ele missões quase impossíveis. Note-se que o brilhante escritor provavelmente teria sido reprovado em testes para admissão a empregos e outras coisas que exigissem praticidade. E era um gênio…
Por fim, se o assunto é inteligência vale lembrar que nem sempre a ditadura do QI funciona. Creio que muita gente conhece pessoas de QI alto, fora do normal, e que são umas perfeitas “bestas”. É nesse ponto que inteligência e a boa cultura adquirida se unem. Bons livros, boas leituras, conhecimento adquirido e inteligência explicam porque muitas pessoas se sobressaem nos meios em que atuam.