Irã at Blog Ayrton Marcondes

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Mundo, vasto mundo

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Acontece no Irã onde vigora o código islâmico. Uma mulher está condenada à morte. É acusada de trair o marido com o homem que o teria assassinado.

No Irã a infidelidade feminina custa caro. A mulher de 43 anos de idade, mãe de dois filhos, será morta por apedrejamento. O processo de execução tem os seus requintes: a pecadora será enterrada deixando-se para fora apenas o pescoço e a cabeça. Depois disso as pedras serão lançadas. Entretanto, há uma recomendação em relação ao tamanho das pedras: não devem ser grandes porque provocariam morte instantânea; nem pequenas a ponto de não causarem ferimentos. Há que se escolherem pedras que antes de matar causem sofrimento, assim reza a sentença.

O advogado da condenada luta para provar a inocência dela. No mínimo pretende alcançar a mudança do processo e execução: de apedrejamento para enforcamento. Com não conseguiu nada até agora colocou o assunto na internet. Por essa razão várias entidades estão colhendo assinaturas para abrandar o castigo da mulher que se acusa de infidelidade.

Todos esses seres que vagam por aí sobre duas pernas e têm a capacidade de pensar pertencem à mesma espécie, sobre isso não restam dúvidas. Mas, Deus, como são diferentes. O problema talvez seja o tamanho do mundo, grande demais, vasto mundo, vastíssimo.

Apagão

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Às 22h15min a luz apagou.  Ouvimos uns gritos, os de sempre, as mesmas vozes no escuro de toda vez que a luz apaga, como se fosse uma gravação.

O prédio defronte manteve a luz durante algum tempo e nos perguntamos por que, afinal, pagamos tanto condomínio para não termos geradores. Mas não durou e o prédio defronte – que já nos irritava com a sua ofuscante claridade – enfim apagou.

No mundo às escuras começamos a nos mover devagar. Uma hora depois nos lembramos de nossos ancestrais animais, movendo-se na noite dos tempos. De repente, sentidos adormecidos aguçaram-se em nossos corpos, a memória passou a mostrar com clareza detalhes do mobiliário com  os quais podíamos colidir e tivemos a clara noção de que, afinal, somos animais.

Lá pelas 22h50min soubemos que o apagão atingira vários estados. Minha mulher falou-me sobre o apagão de Santa Catarina que os americanos do norte atribuíram à obra de hackers.

Ouvi isso e pensei que afinal foram descobertos os inimigos da civilização: são os hackers. Posto isso, imediatamente decidi sugerir que todos os hackers sejam enviados ao Irã para serem punidos. Não existe na Terra melhor lugar para punições públicas que o Irã, talvez por isso o presidente Lula tenha decidido receber no Brasil o presidente Mahmoud Ahmadinejad, contrariando todas as opiniões sensatas em contrário.

Às 23h00 o apagão não deu mostras de terminar e um amigo me ligou no celular perguntando se não estaríamos todos mortos, mas ainda numa primeira fase que seria a de ilusão de luz apagada.

A idéia de estarmos todos mortos pareceu-me interessante, exceto pela sensação de morte coletiva e enterros coletivos o que, convenhamos, é democrático demais – considerando-se que alguns eleitos sejam poupados para enterrar os demais. O fato é que sempre sonhei com uma morte isolada, sem exageros, mas com os comemorativos que acompanham o fim de todo mundo. Eu quero um velório particular e um caixão bonitinho, ainda que tudo isso possa não representar nada para um morto.

Entretanto, não estávamos mortos. Tive certeza disso ao ouvir o ruído de uma colisão de trânsito no sinal da esquina próxima da minha casa. Uma mulher gritou profundamente, acho que por estar machucada. Bem, vivos bem vivos não gritam.

Agora já é madrugada e estou aqui vigiando o escuro. De vez em quando penso em colapsos definitivos de energia e no fim do mundo. Esse apagão não será um sinal? Será que ele não foi previsto no calendário maia?

Vou dormir daqui a pouco e juro que não tenho certeza sobre o mundo em que vou acordar. Apagão é apagão e pode ser que o escuro, sombra absoluta, seja o destino da nossa civilização.

PS: os noticiários da manhã não informam com certeza a natureza do problema que deixou  cerca de 60 milhões de brasileiros sem luz. O sistema energético brasileiro não é como diz o Ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, um dos mais seguros do mundo. E um país que corre célere em direção ao topo das maiores economias do mundo não pode ter um apagão desses. Consequências políticas à vista porque o atual governo, então oposição, baixou o pau no anterior quando dos apagões ocorridos em 2001.

A ver. De preferência com luz.

As novas mídias

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Mande notícias do mundo de lá – diz a música de autoria Milton Nascimento e Fernando Brant. Notícias chegam, impactam, envelhecem e passam. Em curto período de tempo fomos bombardeados pela queda do Airbus no vôo 447, a crise do Irã, a crescente corrupção do Congresso brasileiro, a morte de Michael Jackson e milhares, milhares de outras notícias menores que dançam nas páginas de jornal e revistas além de ocuparem enorme espaço nos sites da Internet.

Dos jornais que chegavam da Europa através de navios às velozes notícias trazidas pelo cabo submarino no século XIX, pulamos para a instantaneidade dos meios de comunicação atualmente verificada. Mais interessante é o fato de as mídias disponíveis abalarem o monopólio de informações até agora de posse de grandes empresas de comunicação ou mesmo governos. O caso do Irã onde, apesar da restrição governamental, notícias e fotos sobre a crise são divulgadas por pessoas comuns, via Twitter ou outros meios, é só mais um na nova história que está sendo escrita sob o ponto de vista de observadores não credenciados.

De repente, acontecimentos nos são mostrados por informantes ocasionais que muitas vezes se limitam à transmissão pura e simples de fatos, sem crítica e até mesmo sem grande envolvimento. A febre da fotografia digital, a possibilidade de filmar qualquer pessoa ou acontecimento com um simples telefone celular e enviar o arquivo na hora sob a forma de torpedo instala uma nova fase nas relações humanas.

Não por acaso temos sido acossados por informações sobre fechamento de jornais e revistas e mesmo os livros estão sendo ameaçados por versões eletrônicas. As novas gerações estão à beira de substituir o prazer de abrir e folhear as páginas de um livro por um simples click de mouse ou o aperto de um botão.

Geram-se assim novos homens e uma humanidade que vai se distanciando de si mesma. Se isso é bom ou mau? Ao futuro pertence a resposta. Quanto a mim, só peço que não me seja tirado o prazer de ler livros impressos no bom e velho papel. Ontem mesmo reli partes daquela biografia de Charles Baudelaire escrita por Jean Paul Sartre. Esse livro pertenceu à minha família e hoje faz parte da minha pequena biblioteca. O curioso é que um seu antigo leitor deixou nas margens varias anotações sobre o texto. Esse leitor que tão bem conheci morreu há muito tempo, mas suas anotações me permitiram contato póstumo com ele. Não pude concordar com tudo que deixou escrito com sua letra miúda, mas no geral aceitei as suas ponderações.

Foi assim que nos reencontramos, eu e o falecido, alta madrugada, nas margens de um velho livro.

Escrito por Ayrton Marcondes

30 junho, 2009 às 10:48 am

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Futebol e crise

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Está acontecendo no Irã: a crise política em que o governo é acusado de fraude nas eleições chega ao futebol. Os jogadores que usaram fitas verdes (sinal de simpatia com a oposição) estão banidos para sempre da seleção nacional do Irã. Entre eles está o melhor jogador e ídolo do país.

Coisa sempre indefinida é o tal termômetro da crise. Na economia, por exemplo, ele quase nunca funciona. Especulações aparecem e analistas se debruçam sobre índices, mas o cara que lê o jornal fica sempre com a sensação de estar num barco sem rumo, governado pela força das ondas. Além disso, todo mundo sabe que economista no leme é sempre um perigo.

E para as crises no futebol, existe termômetro? Creio que vários deles possam ser citados, mas o melhor é representado pela torcida dos outros times. Quando torcedores rivais diminuem a gozação e mostram certa pena do time para o qual torcemos fica claro que a crise é tremenda.

Isso é o que está acontecendo com o São Paulo atualmente. No início as derrotas do time vencedor causaram frisson nas torcidas adversárias. Mais resultados ruins e a demissão do técnico campeão tiraram um pouco a graça das gozações. Derrota que vira rotina é desgraça e aí o torcedor adversário começa a se ver chutando cachorro morto.

Na cabeça dos torcedores do São Paulo a crise vai passar, tem que passar e logo. Entretanto, outra nuvem negra paira sobre a nação tricolor. Trata-se da opção de o clube empenhar-se na reforma do Morumbi, gastando uma fortuna que não possui. A própria diretoria já avisa que os gastos da reforma exigida pela FIFA refletirão sobre o elenco. Aí sim a torcida poderá ter idéia do que é uma verdadeira crise, com termômetro ou sem ele.

Os mais novos não sabem, mas durante a construção do Morumbi o São Paulo ficou alguns anos sem dar alegrias à sua torcida. A coisa ficou muito feia. Para que se tenha idéia, anos depois o presidente do clube na época da construção do estádio, Laudo Natel - depois governador do Estado de São Paulo - contou que certo dia, ao chegar em casa, depois de uma partida em que o São Paulo venceu o Taubaté, ouviu da sua mulher a seguinte pergunta:

- Quanto foi?

- 5 a 1, respondeu ele.

E ela:

- Quem fez o nosso?

Então é isso. Existem coisas um tanto difíceis de compreender para o cidadão comum. Afinal, na ponta do lápis qual é a relação de custo/benefício com a realização da Copa do Mundo no Brasil? Para um clube particular como o São Paulo que vai custear a reforma do estádio, como fica a situação? E para o Brasil, país no qual impera a desigualdade social e onde setores como a educação, a saúde e a segurança reclamam grandes investimentos o que representa a realização da Copa do Mundo?

Respostas e cálculos devem existir, certamente vantajosos para as partes envolvidas. Se tudo estiver em acordo, ótimo. Afinal, a nossa paixão pelo futebol não tem limites.

Escrito por Ayrton Marcondes

25 junho, 2009 às 11:24 am

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Da Ásia

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Mulheres, cabeças protegidas por lenços negros, aguardam a vez para votar numa seção eleitoral. São velhas, são moças, são feias, são belas, todas sérias, algumas com os braços estendidos e tendo nas mãos pequenas carteiras.

 A imagem vem de longe, da Ásia, de latitudes onde os costumes são muito diferentes:

- lá mulher que não usa o hijab(lenço) é perseguida;

- lá não existe igualdade de direitos no casamento;

- lá as mulheres têm dificuldades de acesso a universidades e a empregos;

- lá existe punição pelos crimes de honra e as mulheres podem ser apedrejadas.

Quem são essas mulheres flagradas por câmara fotográfica tão impertinente? A quem pertencem as faces que de repente correm o mundo estampadas nas páginas dos jornais?

Ora, são as mulheres de Teerã, com seus hijabs, protestando contra a poligamia e dizendo ao mundo que jamais foram tão perseguidas como no governo do presidente Ahmadinejad. 

Ahmadinejad quer as mulheres na cozinha – protesta uma ativista.

Ahmadinejad ganhou as eleições de ontem e foi reeleito presidente do Irã.

Escrito por Ayrton Marcondes

15 junho, 2009 às 10:10 am

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