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Os dois brasis

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“Os dois brasis” é o título de um livro publicado em 1957 pelo sociólogo francês Jacques Lambert. Na década de 1950 o Brasil vivia um período de otimismo, após a volta de Getúlio Vargas ao poder e, mais tarde, em pleno governo do presidente Juscelino Kubitschek. Lambert vivera no Brasil, para onde viera em 1939, participando da formação da Faculdade Nacional de Filosofia.

Em seu livro Jacques Lambert destaca a desigualdade, em termos de desenvolvimento, entre as regiões Sul/Sudeste e Norte/Nordeste. Na época o escritor comparava São Paulo ao Ceará, destacando a disparidade existente entre as regiões Sul/Sudeste e Norte/Nordeste. Além disso, Lambert previa um crescimento vertiginoso da população brasileira, sendo que confiava no fato de que o país poderia vir a ser uma grande potência. Entretanto, chamava a atenção para a necessidade de educação do povo e, como seria inevitável a migração da população rural para as cidades, para a criação de infraestrutura em várias áreas para atender às necessidades das populações futuras.

É sempre bom lembrar que no trabalho de Lambert nada havia de preconceituoso. A comparação entre regiões do país visava destacar as diferenças e possibilidades de desenvolvimento das mesmas tais como se apresentavam na década de 1950. Hoje, passados pouco mais de 50 anos desde o lançamento do livro de Lambert pode-se dizer que a desigualdade existe dentro das próprias regiões. Assim, tanto em São Paulo como no Ceará são notórias as situações de desigualdade social, embora ambos os estados tenham se desenvolvido bastante nos últimos 50 anos. Enfim, o livro de Lambert é tentativa de entender o país segundo suas clássicas dicotomias envolvendo riqueza e pobreza, regiões urbanas e não povoadas, modernismo e arcaísmo etc.

Na verdade lembrei-me Lambert mais pelo título “Os  dois brasis” que tem sido utilizado em muitos trabalhos, nem sempre relacionados com o próprio livro. De todo modo estão em curso, nesse momento, visões diferentes sobre o Brasil, conflitantes e nem sempre tão fáceis de acietar. O assunto tem sido destaque em vários artigos publicados por diferentes autores: existe um país visto de fora, grandioso, exuberante, 6ª economia do mundo e apontado como exemplo; e outro real, visto de dentro, com as mazelas que todos conhecemos destacndo-se crises nos setores de saúde, educação, segurança etc. Dois brasis, portanto, imagens que não se sobrepõem porque a realidade mostra-se diversa da encantadora visão passada ao exterior. De repente é o Brasil a ter condições de fornecer dinheiro ao FMI, o governo que se mostra competente pela capacidade e presteza em afastar ministros corruptos e por aí vai. Mas, para ficar num só exemplo, não se diz que os ministros foram afastados só depois que denúncias surgiram na mídia contra eles. Houvesse silêncio e o governo jamais afastaria os ministros de seus altos cargos no comando da República.

O interessante nessa história toda é que, mesmo internamente e atendendo a interesses políticos e partidários, o otimismo externo em relação ao país vem sendo usado como demonstração de que tudo está muito bem nessas plagas. Estamos, pois, de vento em popa a seguir a ideologia do Dr. Pangloss para quem “tudo é para melhor, para o melhor dos mundos possíveis”.

“Os dois brasis” de que hoje se tanto fala são diferentes daqueles abordados por Jacques Lambert. Entretanto, os brasis destacados pelo sociólogo francês continuam a existir, modificados, mas sempre presentes na história do país.