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Jogo do Brasil
Confesso que já não me atraem tanto as peripécias realizadas em campo durante partidas de futebol. Acontece-me preferir mais ouvir a narrações de jogos que os assistir. Ligo a TV, mas só olho para o vídeo nos momentos em que os narradores enfatizam iminências de gol ou jogadas interessantes.
Nem sempre foi assim. A paixão pelo futebol sempre existiu. Ainda menino fui levado ao Pacaembu para assistir a um jogo entre o São Paulo e o Palmeiras. Tarde de domingo, ensolarada e inesquecível. No Palmeiras atuava um jovem atacante, Mazzola, que, mais tarde, jogaria na Itália. O São Paulo tinha Poy, Mauro… No fim um empate por 0X0.
Naqueles tempos as transmissões pela TV iniciavam-se. A Copa de 58 ouvimos pelo rádio. A terrível excursão da seleção brasileira pela Europa, em 56, também nos foi trazida pelas ondas de rádio. Retenho imagens difusas do jogo de 50, Brasil e Uruguai, no Maracanã. Não chegara ainda ao quarto ano de idade. Mas, tamanha era a euforia com a Copa, realizada no Brasil, que, em todo o país, pessoas se acotovelaram em torno de rádios para ouvir a transmissão da partida. Na sala da minha casa não foi diferente. Momento forte foi aquele em que Gighia anotou o segundo gol que daria a vitória ao Uruguai. Era inacreditável: a seleção brasileira perdia a Copa em pleno Maracanã. Uma grande nuvem de depressão e tristeza passava a pairar sobre os brasileiros.
Mas, o tempo passou. Comemoramos 70 como loucos. Que jogos! Mas, devagar e imperceptivelmente, o interesse pela seleção veio diminuindo. Ao que parece hoje em dia o país não mais se une em torno da seleção nacional. A tal pátria de chuteiras perdeu pelo menos parte de sua antiga força.
Foi com esse espírito que ontem ouvi/assisti ao grande jogo entre o Brasil e a Argentina. Jogo para não se botar defeito. Duas equipes reeditando seus melhores momentos em clássicos do passado. Uma delícia ver Messi jogando. E o fantástico Daniel Alves?
Paixões antigas estão sempre prontas a renascer. O futebol é dessas coisas das quais não nos livramos. No coração do torcedor resta sempre uma última semente a germinar. Pelo que vi ontem a minha semente, que julgava adormecida, segue bem ativa.