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Cascata de maus exemplos
Está nas livrarias um livro que ensina aos jovens como se tornarem os piores alunos em suas escolas. Na parte final do livro existem páginas pretas seladas, nas quais são descritas, com minúcias, ações do tipo retirada da bacia de privada, soltura dos parafusos de cortinas e outras barbaridades que contribuirão para o almejado título de “pior aluno”.
Não me perguntem o nome do autor do livro, o título e a editora que o publicou. Eu me nego a divulgá-los. Aliás, para ser sincero, nunca vi o livro. Quem o folheou e leu algumas das suas páginas foi uma professora, minha amiga, que ficou estarrecida com a natureza da publicação.
Enquanto isso, rolam em Brasília acontecimentos nada exemplares. Agora o vice-governador do Estado, Paulo Octávio, renuncia ao cargo de governador, dias após substituir o governador José Roberto Arruda que está preso. Paulo Octávio e Arruda são suspeitos de comandar o mensalão do DEM - esquema de caixa dois de campanha eleitoral – e distribuição de propinas.
E agora retorna ao noticiário o Sr. José Dirceu, acusado de estar envolvido em negócio de internet aberta: uma empresa sediada nas Ilhas Virgens, a Star Overseas, pagou R$ 1 pela sua participação numa empresa chamada Eletronet. Consta que a Eletronet é falida, mas graças a Dirceu, será transformada no eixo central de uma rede nacional de acesso a internet. Detalhes sobre a negociação podem ser encontrados nos jornais de hoje.
Assim, a vida continua plena de situações descabidas e nada exemplares. Talvez estejamos todos errados ao interpretar mal o autor do livro que ensina estudantes a serem os piores de suas escolas. Talvez ele os esteja preparando para as situações a que assistimos a cada dia.
A negativa da ministra-chefe
O depoimento da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff como testemunha no processo movido pelo Ministério Público contra 39 réus no caso do mensalão constitui-se numa peça e tanto pela natureza do seu conteúdo.
A ministra-chefe negou a existência do esquema do mensalão, dizendo ser impossível que partidos políticos exigissem “vantagem financeira”; afirmou que ex-ministro da Casa Civil e deputado cassado José Dirceu (PT-SP) é um “injustiçado”; negou conhecer o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, tido como o “operador” do esquema do mensalão; elogiou deputado Paulo Rocha (PT-PA), que renunciou ao mandato para se livrar de condenação na época do escândalo do mensalão; e defendeu o ex-deputado Professor Luisinho (PT-SP), que não se reelegeu depois da denúncia do mensalão. São informações publicadas pela imprensa.
E agora? O que nos resta para pensar? Senhora ministra-chefe, a senhora que é pré-candidata à presidência da República, considere, por favor, a situação em que ficamos todos nós, os eleitores que votarão em 2010. Afinal, em quem devemos acreditar? No depoimento que a senhora fez sobre o mensalão aí Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), sede provisória da presidência da República, em Brasília? Ou em tudo o que aconteceu naquele terrível espaço de tempo durante o qual a República teve aberto o seu ventre para a exposição de acusações terríveis que tanto nos chocaram?
Eis aí uma situação que se enquadra à perfeição dentro de um sistema binário do tipo aconteceu/não aconteceu, verdade/mentira etc. Num sistema desse tipo está-se no território que os matemáticos chamam de eventos mutuamente exclusivos, nos quais a ocorrência de um significa a não ocorrência do outro. Enfim: se existiu ou não o mensalão, e ponto final.
Dirão que não é tão simples, o evento em questão é muito complexo, etc. Mas numa coisa devemos insistir: detalhes à parte, nós precisamos saber se afinal houve ou não o mensalão porque o que está em jogo é a confiança que temos nas instituições, nos políticos, nos candidatos que se apresentarão às próximas eleições e, por que não, na imprensa.
O povo brasileiro é calmo e ordeiro, gosta de festa, adora foguetório e quase sempre esquece muito depressa tudo o que acontece, especialmente aquilo que o incomoda. Mas a história do mensalão, essa aí ainda não foi possível esquecer. Afinal, a imensa massa de brasileiros que trabalha e paga taxas muito altas de impostos foi, durante um bom tempo, bombardeada, dia e noite, por um noticiário que incriminava muita gente, envolvendo grandes somas de dinheiro público. Na época houve até gente que, para se livrar de perder o mandato, renunciou e saiu pela porta dos fundos do Congresso, esperando que a fraca memória popular os esquecesse até que pudessem voltar aos seus postos.
Então era tudo mentira? Fomos enganados por alguma campanha maléfica engendrada pela mídia? Ou a própria mídia foi enganada por gente muito esperta e usada para espalhar mentiras que abalaram o país?
Senhora ministra-chefe, eu jamais escreveria isso se o assunto não me incomodasse tanto. Entretanto, como tantas outras pessoas, eu me vejo entre duas versões irreconciliáveis sobre um mesmo fato. Espero, sinceramente, que esse assunto venha a ser esclarecido antes das eleições do ano que vem para que eu possa votar com muita consciência.
Sabe, é um voto só, um votinho. Mas é o meu.