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O final de “A origem”
Darling, eu não ia dizer nada sobre o filme “A origem” porque você gostou tanto, classificou a película como cult e tudo o mais de quem se apaixona por algo que fala diretamente à sua alma.
Darling, eu fiquei bem quieto enquanto ouvia você dizer tanta coisa, com entusiasmo incomum em você. A aproximação de “A origem” com “Matrix” - você defendeu isso, lembra-se? – era mais que óbvia. Daí que você estabeleceu pontes entre os dois filmes e receio que tenha notado o meu jeito desconfiado, aquele jeitão de quem ouve e faz força para não contradizer alguém de quem se gosta e que chega, de repente, com tantos argumentos.
O problema é que ontem apareceu o Michel Caine, dando uma explicação sobre o final do filme, definindo se afinal a situação era real ou não – aquela coisa do pião rodando, você se lembra bem – e então eu me vi obrigado, sabe Darling, a escrever essas mal traçadas.
Acontece que o diretor do filme, o Christopher Nolan – o mesmo do Batman – trabalhou em cima de uma trama comum, qual seja a do roubo de algo precioso, mas vestiu sobre o enredo o projeto dos ladrões atuarem no nível dos sonhos, em níveis hierárquicos diferentes, graduados de cima para baixo, sendo o mais baixo o das profundezas de onde ninguém pode voltar porque, mesmo que acorde, terá perdido a consciência.
Então a ação se passa nesses lugares, no mundo dos sonhos. Uma quadrilha que adormece sob o comando de uma máquina passa a agir em ambientes previamente construídos por engenheiros especializados em cenários de sonhos. Dan Cobb e seus auxiliares entram nesse mundo com a missão de plantar na cabeça do herdeiro de uma grande fortuna a ideia de dividir o seu império.
Darling, eu concordo com você, o Leonardo Di Caprio está ótimo como Dan Cobb, o cara que se arrisca no mundo dos sonhos no qual vive a mulher dele que, aliás, já morreu. Mas, Darling, o problema é que a aparente complexidade do filme, não passa de complicação, talvez excesso de zelo do diretor para que tudo pareça estranho demais e diferente da realidade. O que se vê é o uso de muitos clichês que nem sempre funcionam, assim como uma espécie de intenção prévia e deixar certas coisas desamarradas para que o espectador desconfie do seu próprio entendimento da trama. Mas, o que há de pior são aquelas personagens que se alternam explicando coisas, como num romance em que é preciso dar conta ao leitor sobre o que está acontecendo dado que ele - o leitor – não recebe dados suficientes do enredo em si para entender tudo.
Apesar disso o filme é interessante e deve receber prêmios porque não importam muito as falhas desde que o público goste e se sinta - me perdoe por dizer isso – fazendo parte da galera que entendeu, de certa reserva de inteligência que consome coisas como essa.
Em todo caso o filme é o que é e tudo estava bem, mesmo aquela duvida entre realidade e sonho do fim, até que hoje o Michel Caine abriu a boca e esclareceu tudo. Então me deu vontade de dizer isso a você, Darling, a você que gosta tanto de cinema e adora ver o mundo fazer reverência ao cult.
O mundo precisa de ícones, também nisso concordo com você Darling. Mas aí vem o Michael Caine… Você sabe o que ele disse, Darling, sobre o retorno do Cobb ao mundo real, sobre aquele pião que fica girando e girando?