Arquivo para ‘literatura adaptada’ tag
Homero, Shakespeare, Dante, Joyce…
Meu pai tinha o hábito de ler em voz alta para que escutássemos. Ele simplesmente gostava de ler e partilhar com outras pessoas as emoções das narrativas que lia. Tinha ele certa predileção por autores como Dumas, pai e Dumas, filho, mas era Dante que o encantava mais.
Creio que desde cedo a literatura me interessou graças ao hábito de meu pai. Havia sempre uma história pendente, uma trama a terminar de modo que o mundo imaginário fazia parte das nossas vidas quase como se fosse real.
Hoje em dia as crianças em idade escolar são iniciadas nas grandes obras através de adaptações. Trata-se de livros que recontam o original e, assim se acredita, despertam nas crianças futuros leitores. Espera-se, por exemplo, que a leitura da adaptação do Otelo de Shakespeare transfira à criança as primeiras emoções a respeito da maldade de Iago e as faça procurar, mais tarde, pela obra original. Por essa via busca-se o estabelecimento da atividade cultural; sinceramente não sei se é possível mensurar os resultados posteriores dessa prática.
De todo modo o fato é que hoje em dia pouco se lêem autores fundamentais como Homero e Shakespeare. Fazem eles parte de um contingente de escritores que podem ser reconhecidos como desengajados das circunstâncias de momento. Explico-me: a obra de Shakespeare é de tal modo monumental que independe das circunstâncias do momento em que é lida. Shakespeare deu voz escrita a personagens que refletem o homem em qualquer época independentemente do modo de ser e ideologias vigentes. Pode-se mesmo dizer que o autor inglês estabeleceu paradigmas eternos e insubstituíveis. Por isso Shakespeare foi, é e sempre será atual, atualíssimo, leitura obrigatória.
Não se pode passar toda uma vida sem ler a “Divina Comédia” de Dante. Pouco importa se Dante se vingou de seus desafetos colocando-os, todos, no inferno. Assim como Shakespeare e alguns outros mestres da literatura, Dante nos encantou pela capacidade de chamar a atenção de seus leitores mesmo quando sua obra é relida por mais de uma vez.
Existe sempre algo de novo a descobrir em Homero, Shakespeare, Dante, Joyce e outros autores de obras imortais. Não se pode olvidá-los dado que atingiram os limites da criação em suas obras, emprestando dimensão maior à rotina de nossos dias