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Dinheiro em casa
Nos últimos dias tem-se noticiado que vários candidatos a cargos eletivos declararam guardar dinheiro em casa. O hábito é antigo e cada pessoa guarda o dinheiro onde acha melhor. Há quem prefira ter o dinheiro em casa por simples bronca das abusivas taxas bancárias cobradas no país. Não é preciso dizer que os bancos estão entre os negócios mais lucrativos de que se tem notícia. Quem duvida que dê uma olhada nos tais balanços bancários que, vez ou outra, são publicados. Para algumas pessoas a proximidade com o dinheiro representa segurança, quem sabe até recurso de auto-afirmação. Um grande professor de cirurgia, homem notável e já falecido, confessava que, por ter sido muito pobre, jamais deixava de ter nos bolsos razoáveis somas de dinheiro. Era o jeito dele de se sentir seguro, dizendo-se preparado para qualquer emergência.
Guardar dinheiro em espécie ou valores em casa tem os seus problemas, o principal deles relacionado à segurança. Meu avô morreu antes dos quarenta anos de idade e deixou para o meu pai um alfinete de gravata antigo, cravejado de brilhantes. Essa jóia me foi passada pelo meu pai e eu a mantive em casa até que uma jovem ajudante de serviços caseiros a subtraiu. Como acontece em casos assim, foi impossível provar o roubo e tudo ficou por isso mesmo. Mais que o valor real da jóia tinha ela um significado maior, familiar, insubstituível. Sempre me lembro do alfinete, não como perda de objeto valioso, mas como ligação com a linhagem à qual pertenço.
Sobre guardar dinheiro em casa existem muitas histórias, algumas delas abafadas pelas famílias para encobrir deslizes de alguns de seus membros. Em menino muito me impressionou o caso de um senhor a quem conheci já velho e não mais que remediado, ele que já fora muito rico. Conta-se que ele, homem de muitas posses, a certa altura da vida decidiu vender tudo, aposentando-se. Assim procedendo, amealhou ele vários contos de réis que guardou em sua casa na fazenda onde morava com a mulher. Entretanto, esse senhor foi vitimado pela mudança monetária ocorrida em 1942 quando o cruzeiro passou a ser o padrão monetário, substituindo os réis. Desatendo às normas de substituição do padrão monetário, o senhor não trocou o dinheiro e assim perdeu a sua fortuna.
Quando o conheci, o homem que perdera todo o dinheiro tinha um jeito de olhar por baixo, envergonhado. Passou ele algumas necessidades por ocasião da doença da mulher que logo veio a falecer; ele próprio morreu pouco depois deixando atrás de si uma história de fortuna desaparecida de modo invulgar.
Mas, voltemos aos candidatos e seus dinheiros sob os colchões. Seria interessante uma pesquisa junto a eles para conhecer as razões de guardarem dinheiro em casa. Através dela talvez conseguíssemos um perfil psicológico bastante seguro de cada um, daí que poderíamos votar com mais acerto.