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O depoimento
Amanhã será o grande dia. Finalmente, o ex-presidente estará frente a frente com o juiz da Lava Jato. Lula x Moro. O encontro a ser realizado em Curitiba é tratado como luta de boxe. O comparecimento do homem sobre quem pesam muitas acusações estimula a bipolaridade instalada no país. De um lado acusações contundentes feitas por alguns delatores. De outro o acusado que se coloca na condição de perseguido.
A muita gente parece pouco importar a verdade. Com custo a Justiça do Paraná tenta evitar aglomerações humanas que poderão descambar para batalha campal. Estão proibidas manifestações. Moro declara que o depoimento não é guerra. Gente grita dos dois lados.
Mas, no vai dar tudo isso? O país mergulhado na mais profunda recessão, com 14 milhões de desempregados, economia dando sinais ainda fracos de recuperação. Não seria hora de haver um pouquinho de bom-senso e união para sairmos da crise?
Dias atrás assisti, de novo, ao filme “São Paulo S/A” do cineasta Luís Sergio Person. A trama se passa na virada dos anos 50 para os 60 do século passado. No governo JK floresce a indústria automobilística. Retrato sensível da época o filme retrata a industrialização de São Paulo na qual Carlos, vivido por Walmor Chagas, veste a carapuça de homem perdido diante das transformações sociais. Ele é o homem que virou suco. Na cidade imersa na onda desenvolvimentista destaca-se a existência de uma classe média que enriquece, obtendo empréstimos públicos, sonegando impostos, enfim usando e abusando da corrupção. É o capitalismo que se impõe, fazendo das pessoas nada mais que mercadorias.
Exemplo de empresário é o italiano Arturo, vivido por Otelo Zeloni, com quem Carlos se associa. Estão no ramo de autopeças, indústria que cresce à margem da produção de automóveis. Arturo enriquece com a corrupção: sonega impostos, suborna fiscais, enfim faz uso de toda a maquinaria disponível para sair-se bem custe o que custar.
Passados 70 anos do filme de Person a corrupção acusada por ele agigantou-se. Faz-nos pensar numa falha de caráter de proporções endêmicas calcada numa danosa hierarquia de interesses: em primeiro plano os pessoais, abaixo deles os coletivos e de Estado.
Talvez por isso o depoimento de Lula amanhã desperte tanto interesse e apreensão. O país precisa lavar a roupa suja e, mais que nunca, conhecer a verdade. Mais cinquenta ou cem anos de inconsequências seriam inaceitáveis.