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A delação
Assisti ao filme “Trumbo” e me impressionei com a cena na qual o grande ator Edward G. Robinson delatou seus amigos da indústria cinematográfica ao Comitê de Atividades Antiamericanas. Era a transição dos anos 40 para os 50 do século passado. Terminada a Segunda Guerra Mundial iniciara-se a Guerra Fria. Nos EUA cresceu a paranoia da infiltração do comunismo e comunistas passaram a ser perseguidos. O senador Eugene McCarthy liderou a caça aos comunistas que, delatados, eram submetidos a interrogatórios diante da Comissão.
Dalton Trumbo foi um roteirista de cinema, conhecido como um dos 10 amais de Hollywood. Brilhante e extremamente produtivo era, também, comunista. Em seu interrogatório negou-se a responder quando questionado e acabou condenado à prisão. Quando saiu, sem emprego, acabou escrevendo roteiros para um pequeno produtor de filmes B. Mas, fez, também bons roteiros. Ganhou dois prêmios Oscar que não pode receber porque usara pseudônimos: ninguém se arriscaria a colocar o nome de Trumbo nos filmes daquela época.
Trumbo já estava preso quando Edward G. Robinson entregou o seu nome durante interrogatório da Comissão. Mais tarde Robinson diria a Trumbo que precisava trabalhar e ninguém dava a ele emprego pela sua proximidade com comunistas. Demais - disse Robinson – a Comissão já dispunha dos nomes por ele citados.
Hoje divulga-se que o senador Delcídio Amaral optou pela delação premiada. O senador foi preso por ter proposto a fuga de Nestor Cerveró, via Paraguai, para fugir à operação Lava Jato. A delação de Delcídio estarrece e movimenta o mundo político do país. Por que um senador até a pouco líder do governo, ligado ao primeiro escalão e ciente de tudo o que se passa no âmbito político do país decidiu-se a entregar seus companheiros? Por que atingir até mesmo a presidente da República e o ex-presidente Lula?
Eis aí um caso no qual o envolvido vê-se entre se calar ou salvar a própria pele. Para o senador calar-se representaria assumir sozinho culpas que provavelmente entende nãos serem só dele. A isso some-se a possibilidade de vir a ser condenado e amargar bom tempo na prisão. Por outro lado, aderir à delação premiada torna-se uma espécie de salvação dado o abrandamento de penas que lhe seriam impostas.
Em espécie as delações de Robinson e Delcídio se assemelham embora as variantes não sejam as mesmas. Robinson queria trabalhar, recuperar seu lugar de astro nas telas. Delcício optou por sobreviver a qualquer custo, ainda que contribuindo para diminuir ainda mais a confiança em nossos homens públicos.
No corredor a morte
Assisti a vários filmes sobre condenados no corredor da morte. As tramas mostram culpas por crimes hediondos e, em alguns casos, arrependimento dos que os cometeram. Há sempre alguém lutando para adiar a execução ou provar a inocência dos condenados. São histórias muitas vezes baseadas em casos reais. Em muitos filmes as execuções são mostradas. Alguns morrem ao receber injeções de substâncias venosas e há casos de execuções na cadeira elétrica. São cenas desagradáveis que mostram o fim da vida como forma de pagamento à sociedade pelos desvios de conduta que levaram à morte vítimas inocentes.
No mundo real as coisas não se passam de modo diferente do mostrado nos filmes. Em alguns países existem condenados nos corredores da morte aguardando execuções. Em torno de cada um desses casos giram volumosos processos jurídicos em geral envolvendo apelações intermináveis. Execuções acontecem quando todas as possibilidades de defesa se esgotam e uma alta autoridade dá o sinal verde para o desenlace final.
Não por acaso as coisas se passam desse modo. São conhecidos casos de erros judiciários que levaram à execução de inocentes. Um deles, bastante controverso, é o que envolveu o casal Rosenberg nos EUA, acusados, marido e mulher, de espionagem. Ainda hoje persistem dúvidas obre a culpa de Julius e Ethel Rosenberg que foram executados justamente num momento em que a Guerra Fria estimulava a repressão ao comunismo nos EUA. O caso dos Rosenberg forneceu munição para o senador Joseph McCarthy na época investigando atividades antiamericanas.
Acaba de ser libertado no Japão Iwao Hakamada que passou 45 anos no corredor da morte aguardando sua execução. Hakamada foi acusado de ter esfaqueado e matado o dono da fábrica em que trabalhava, a mulher e o filho dele. Depois disso ateara fogo a casa da família.
No caso de Hakamada existem fortes indícios de erro para a condenação. O sangue encontrado numa camisa no local dos crimes não era o de Hakamada. Além disso, Hakamada teria sido obrigado a confessar os crimes depois de ser submetido, durante 20 dias, a tortura em um quarto fechado. Dos três juízes que o condenaram um era favorável a absolvição e só recentemente veio a público para fazer essa declaração.
Passar 45 anos no corredor da morte é algo inimaginável, ainda mais em se tratando de um inocente. Não existe nenhuma forma de compensação que se aproxime de alguma possibilidade de quitação com o período de vida perdida. O caso de Iwao Hakamada dá o que pensar. No Brasil onde se verifica tanta criminalidade e impunidade a pena de morte é sempre lembrada. Valeria a pena?