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Protestos e manifestos
No livro “Tempos Fraturados” Eric Hobsbawm fala sobre manifestos. Parte de manifestos importantes como o Manifesto Comunista escrito por Marx e o Manifesto Futurista do italiano Fellipo Marinetti. Ao desenvolver o seu tema Hobsbawm se pergunta sobre o futuro dos manifestos no século 21. Constata que de há muito não se vêem manifestos publicados por grupos, além do que escrever manifestos tornou-se atividade de uma só pessoa que, em geral, pede mudanças para um futuro que desconhece. O historiador britânico chama a atenção nesse texto de 2008 para o fato de que a internet abriga um número incontável de manifestos.
No meio deste ano de 2013 o Brasil conviveu com inesperada onda de protestos os quais, embora com menor intensidade, ainda continuam a acontecer. A partir desses novos acontecimentos verificou-se o esforço de especialistas de várias áreas da cultura em explicar a natureza do fenômeno. De antemão sabía-se da insatisfação popular em relação ao modo como as coisas são direcionadas no país. Um grito profundo, tantas vezes violento, ecoou nas ruas sem que, entretanto, se conseguisse adivinhar os rumos que tomaria a onda de protestos. E até o momento não existe explicação definitiva para os acontecimentos embora circulem várias teorias tentando elucidá-los. Fica a pergunta simples: o que acontecerá a partir de agora?
O povo saiu às ruas no país, mas pouco revelou-se sobre suas aspirações. Cartazes genéricos exigindo igualdade social, melhora nos serviços de saúde e educação, afora movimentos de categorias profissionais em busca de melhores salários deram o tom aos protestos. O estopim - revolta anunciada - foi a elevação das tarifas de transporte urbano, ato por si só insuficiente para gerar tantos protestos. E como sempre acontece, críticas aos políticos do país e à já insuportável roubalheira da corrupção.
Seria o caso de dizer que faltou às massas humanas que protestaram e ainda protestam um manifesto geral do qual constassem as diretrizes do movimento? Talvez. Entretanto o que se viu foi um conjunto de ações que pareciam não ter outro significado senão tornar pública a insatisfação. Chamados a opinar os líderes que desencadearam os primeiros protestos em São Paulo pouco tiveram a dizer.
Se o assunto é a relação entre protesto e manifesto veja-se o caso do artista russo cuja foto hoje aparece nos meios de comunicação. Completamente nu ele está na praça defronte o Kremlin e tem os testículos pregados aos paralelepípedos. Isso mesmo: pregados; com pregos aravés da pele. E não é essa a primeira vez. Na anterior o artista costurou os lábios e desfilou assim para protestar. Contra o que o russo protesta? Contra o governo, naturalmente.