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Da inteligência
Lobo frontal 15% maior que a média; existência de uma saliência no córtex motor; quantidade de neurônios por centímetro cúbico maior que a média; concentração maior que a normal de células gliais; e neurônios do hipocampo do lado esquerdo do cérebro mais longos que os do lado direito; são características encontradas por pesquisadores em estudos do cérebro de Einstein.
Você se considera inteligente? Já fez algum teste de QI? Você é uma pessoa que alia praticidade aos seus dons naturais de inteligência?
Houve época em que o respeito e a admiração pela inteligência eram sagrados. No Brasil de décadas passadas os estudantes do ciclo médio falavam sobre Einstein, Darwin, Marx e outros; admirava-se o alemão Werner Von Braun pelos seus trabalhos como foguetes V2 e, mais tarde, na Nasa; o filósofo Bertrand Russel era lido em seus textos menos técnicos pela estudantada; o pacifismo do cientista Albert Sabin era digno de nota; e assim por diante.
Hoje em dia pedagogos, psicólogos e professores acusam computadores, vídeo games, celulares e a televisão a cabo como responsáveis pela dispersão da atenção dos estudantes. Com tantos apelos e a facilidade da informação sem esforço, a juventude não lê, não estuda. Os dons de inteligência não se completam dado que os cérebros tornam-se embotados pela cultura adquirida de segunda mão.
Outro dia assisti a entrevista de um antropólogo na qual ele dizia que tivera a sorte de crescer num tempo em que não existiam vídeo games e televisão a cabo. Sua distração era, portanto, ler.
O antropólogo tem razão. A verdade é que em tempos não muito distantes lía-se um pouco de tudo. Homens como Paulo Rónai e Otto Maria Carpeaux empenhavam-se em divulgar, no Brasil, a grande literatura européia. Daí resultou a publicação, em português, da preciosa “Antologia do Conto Russo” em nove volumes, sob orientação literária de Carpeaux e Vera Newerowa. Através da “Antologia” os jovens travaram contato com obras de grandes escritores como Gogol, Tolstoi e muitos outros. A Carpeaux também se deve a magnífica “História da Literatura Ocidental” que em boa hora foi republicada pela Editora do Senado Federal, agora em terceira edição. A Paulo Rónai e Aurélio Buarque de Holanda Ferreira deve-se a tradução de centenas de contos reunidos na coletânea “Mar de Histórias” (Editora Nova Fronteira). Esses livros e muitos outros, de autores como os grandes poetas Bandeira e Drummond, contribuíram para a formação intelectual de gerações de pessoas que hoje ocupam vários postos no mercado de trabalho do país.
Mas voltemos à inteligência. Conheci e conheço pessoas inteligentíssimas, grande parte delas talentos perdidos. Ninguém é Einstein, mas existem muitas pessoas dotadas de qualificação mental superior. Entretanto, acontece a muitas delas não aliar seus dotes mentais à praticidade, daí ficarem à margem do sistema produtivo, muitas vezes desempenhando funções menores e aquém de suas aptidões. Isso é terrível. O fato é que inexiste um sistema de valorização de jovens talentos, capaz de valorizá-los e endereçá-los a setores onde possam dar vazão aos seus potenciais.
É preciso lembrar que cérebros avantajados nem sempre se dão bem com o mundo das pequenas coisas do cotidiano. Um grande escritor que certa vez visitou o Brasil, homem genial, revelava-se muito confuso aos que dele se aproximavam. Pedir um simples café no aeroporto, conferir o troco e encontrar nos bolsos o bilhete de embarque eram para ele missões quase impossíveis. Note-se que o brilhante escritor provavelmente teria sido reprovado em testes para admissão a empregos e outras coisas que exigissem praticidade. E era um gênio…
Por fim, se o assunto é inteligência vale lembrar que nem sempre a ditadura do QI funciona. Creio que muita gente conhece pessoas de QI alto, fora do normal, e que são umas perfeitas “bestas”. É nesse ponto que inteligência e a boa cultura adquirida se unem. Bons livros, boas leituras, conhecimento adquirido e inteligência explicam porque muitas pessoas se sobressaem nos meios em que atuam.