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Salvem a onça-pintada
A onça-pintada (Phantera onca) está desaparecendo em biomas brasileiros como a Caatinga e a Mata Atlântica. Quem dá o alerta é o Cenap (Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros). Segundo esse órgão ligado ao Ministério do Meio Ambiente o problema é crítico na Caatinga onde se estima existirem 365 animais, divididos em cinco áreas, sendo que apenas metade deles encontra-se em idade reprodutiva. Segundo pesquisadores, na Mata Atlântica existem no momento somente 170 indivíduos maduros. A situação é melhor no Pantanal do Mato Grosso e na Amazônia.
Segundo notícia foi publicada pelo jornal “O Estado de São Paulo” no dia de ontem, as causas apontadas para a diminuição da população de onças são o desmatamento e a falta das presas. Outro grande fator a afetar o desaparecimento das onças é a perseguição que elas sofrem por parte de fazendeiros dado atacarem os rebanhos para se alimentarem.
Ao leigo pode ocorrer perguntar: e daí, o que muda num mundo sem onças? Deixando de lado a importantíssima perda de patrimônio genético ligada à extinção da espécie destaque-se o importante papel da onça-pintada em seu papel de predação dentro dos ecossistemas em que vive. Predação é a destruição violenta de um indivíduo – a presa -por outro – o predador. A predação é muito importante porque serve como fator de regulação do tamanho das populações de presas. Isso quer dizer que sem predadores as populações de presas crescem muito, acarretando sérios problemas aos ecossistemas cujo equilíbrio é alterado.
Assim, a redução ou o desaparecimento das onças-pintadas têm reflexos sobre os ecossistemas onde elas vivem. No Pantanal, por exemplo, a onça-pintada alimenta-se de animais herbívoros como a anta, o cervo-do-pantanal e a capivara. Uma diminuição do número de onças resulta no crescimento das populações das suas presas, os herbívoros, que passam a consumir as pastagens com prejuízo dos rebanhos criados nas fazendas. Por esse motivo a perseguição dos fazendeiros à onça pelo fato de ela matar o gado têm como consequência a redução das pastagens que servem de alimento ao mesmo gado.
É preciso considerar que cada bioma tem as suas próprias características, sendo habitado por comunidades de seres diferentes. Segundo informam os pesquisadores que estudam as populações de onças, na Caatinga o fato de tatus e porcos-do-mato serem consumidos por parte da população humana acaba gerando falta de presas para as onças, contribuindo para a sua extinção.
Existem propostas para evitar o desaparecimento das onças-pintadas. Uma delas é a interligação de regiões onde atualmente vivem populações desses animais isoladas umas das outras. Há quem recomende investimentos na Amazônia onde ainda existem regiões de mata virgem nas quais as onças sobreviveriam e se multiplicariam. Propõe-se, também, pagar aos fazendeiros pelo gado perdido por ataques de onças para que eles deixem de matá-las.
A onça-pintada é o maior felino das Américas. De hábitos noturnos, predadora, chega a pesar 135 kg e é encontrada em biomas brasileiros nos quais está ameaçada de extinção. Urge proteger a espécie e evitar o seu desaparecimento.
O Dia da Mata Atlântica
O “Dia da Mata Atlântica” poderia ser chamado de “Dia da Extinção”. As estatísticas nos dão conta da existência de apenas 7% da mata primitiva. É assim que um dos grandes ecossistemas do mundo, proprietário de incrível biodiversidade, vai desaparecendo.
Pode parecer estranho, mas não gosto do “Dia da Mata Atlântica”. Nada contra a floresta, pelo amor de Deus, que a todos os títulos deve ser exaltada. Mas para que serve esse dia? Ora, para que nos falem sobre a devastação e nos mostrem imagens terríveis sobre o que acontece dentro do bioma da Mata Atlântica. Apresentam-nos provas sobre o corte ilegal de árvores gerenciado pela bandidagem armada que fornece madeira a ser comercializada ilegalmente. Ficamos sabendo que árvores altíssimas são derrubadas e que o máximo que se consegue fazer é aplicar multas quando se localizam as atividades ilegais. Multas essas, aliás, que em geral não são pagas porque os destruidores da mata deixam o local – que, aliás, não pertence a eles – deslocando-se para áreas distantes onde reiniciam as suas atividades.
Isso tudo nos mostraram hoje nos noticiários da manhã. A mesma coisa tem sido mostrada nos noticiários de anos anteriores e não precisaremos da ajuda de futurólogos para adivinhar que, no ano vindouro, receberemos informações semelhantes.
É por isso que não gosto do “Dia da Mata Atlântica”. Se é verdade que a data é muito útil para chamar a atenção pública e de autoridades sobre o problema da devastação, também o é que ela serve para demonstrar a nossa impotência diante de algo que se repete e que afeta diretamente o ambiente e as nossas vidas. E isso é inaceitável, intolerável.
Não seria justo terminar sem lembrar que existe gente bem intencionada e que se esforça muito para coibir os abusos praticados na Mata Atlântica. Infelizmente, dada a dimensão do problema, suas participações não têm sido suficientes para a preservação do grande ecossistema.
Nada a comemorar no “Dia da Mata Atlântica”. Era para ser uma data feliz.