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Medina: fabuloso
Talvez nem todo mundo concorde, mas no Brasil a percepção do surfe como esporte nunca foi das melhores. Quando meu filho começou a surfar os avós se desesperaram. Para eles o mundo do surfe seria paralelo, com o perigo de contato com drogas etc. Isso porque os surfistas seriam um bando de desocupados, gente que passava o dia na praia por não ter o que fazer. Assim, “surfismo” figurava como espécie de sinônimo para “vagabundagem”.
Confesso que diante de tanta prevenção a minha percepção do surfe também não era das melhores. Parecia-me que a rapaziada do surfe desligava-se das obrigações e entre eles era comum o desempenho escolar mais fraco. Talvez a paixão pelo mar e a atração pelas ondas falasse a eles mais alto que todo o resto. Aquela coisa de em toda manhã a primeira coisa a se perguntar era se “tinha ou não onda” parecia-m sem sentido.
Quando estive na Austrália me espantei com a realidade do surfe naquele país. Todo mundo surfa na Austrália. Trata-se de um esporte curtido por toda gente sendo comum o movimento de surfistas em direção ao mar nas primeiras horas da manhã. Lá, assim me pareceu, o estranho é não surfar. Trata-se, portanto, de cultura diferente que só agora talvez seja encarada de forma mais aberta no Brasil.
Tudo isso para dizer que fiquei embasbacado com o surfista Gabriel Medina que ontem se tornou o primeiro brasileiro a se tornar campeão mundial de surfe. Disputando a final no Havaí e concorrendo com as maiores feras do esporte o menino de 20 anos de idade foi mais que brilhante. O corpo esguio do garoto simulava um Deus olímpico dominando as águas. As enormes ondas marítimas pareciam estar ali apenas para obedecê-lo. Caso algumas delas se insurgissem contra o Deus, encobrindo-o, fazendo-o desaparecer, eis que ele ressurgia dos labirintos que em vão tentavam aprisoná-lo. A magia dos movimentos de Medina e o domínio completo de sua arte geravam imagens de rara beleza. Anos de treinamento e a incrível aptidão para um esporte para o qual nasceu feito concorriam para a perfeição da apresentação do novo campeão.
O esporte propicia em raros momentos instantes mágicos de superação nos quais o homem extrapola seus limites e supera a própria condição humana. Pelé nos legou momentos dessa magia em estado puro e Mohamed Ali atravessou a fronteira na inesquecível vitória sobre Georbe Foreman, isso para ficarmos em dois casos. Ontem Gabriel Medina alçou-se a essa galeria de gênios do esporte na qual deverá brilhar por muito tempo.