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Manifestações epidêmicas
Quem diria, de repente estamos em julho. Não é que o semestre passou depressa demais sem deixar tempo para que digeríssemos as novidades?
Não há no Brasil - nem no mundo todo - alguém que possa jurar, sem mentir, que adivinhou esse grande movimento de manifestações que se espalha por todo o Brasil. Manifestações epidêmicas, contagiosas, perigosas e bem-vindas.
O problema das epidemias é o de que, na verdade, todo mundo está à mercê delas. Não é assim com a gripe? Tem até gente vacinada que acaba sucumbindo aos vírus, embora digam que isso pode não ser possível. Mas, acreditem, não existem vacinas e anticorpos contra manifestações. O bem/mal se apodera do coração, do cérebro, e transforma o até agora pacífico cidadão num reclamante geral, inconformado com toda sorte de coisas erradas e inaceitáveis.
Perigo? Não se trata do perigo de atos grotescos, praticados por vândalos. Isso é coisa de bandido, extremista ou o que for. Coisa de cara fora dos trilhos ou apto a sair deles na primeira oportunidade como aquele sujeito que pilhou uma joalheria porque outras pessoas faziam a mesma coisa. Não é isso não. O perigo - esse sim muito preocupante - é a reação em cadeia em andamento nos meios oficiais onde, da noite para o dia, há empenho em colocar em ordem tudo o que se deixou atrasado. Câmara e Senado estão agora se preparando para a corrida de São Silvestre. Vai ter muito deputado e senador correndo nas ruas, nos 31 de dezembro, acreditem. Treino serve para isso mesmo, não? Veja a correria com que se jogou para escanteio a PEC37. O brasileiro descobriu um jeito muito simples de mudar o que quiser: basta protestar nas ruas, acuando as medrosas autoridades.
Se agora votam às pressas tudo o que estava parado, por que não o fizeram antes? Vai saber. O fato é que quem deve precisa ser cobrado daí a recente necessidade de mostrar ao povo que sempre se esteve a favor de tudo o que contribui para o bem-estar comum.
Os manifestantes têm insistido sobre a necessidade de melhoras no transporte, na educação e na saúde. Mas, não tem muita gente brigando pela segurança. Rapaz, a segurança é, talvez, o que mais nos aflige no dia-a-dia, tão importante quanto os outros temas. Existem projetos envolvendo temas como a idade de maioridade penal, a progressão de penas etc. A discussão desses assuntos e outros ligados à esfera da segurança é para ontem. Senão viveremos sempre com a sensação de desconforto por não termos o que fazer para impedir barbaridades como essa do menino boliviano morto durante assalto a casa dele.
Por falar nisso, os programas policias da TV estão abusando das imagens da família boliviana que perdeu tragicamente o filho. O choro da mãe do menino terá sido reproduzido em vídeo milhares de vezes. Pobre mulher, pobres pessoas simples que até na desgraça têm suas imagens exploradas ao limite nos meios de comunicação.