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A vida longa dos políticos
Começo de ano é tempo de caça de prioridades, estabelecimento de rotas e tudo o mais. Quer-se uma nova vida, coisas novas, fatos novos que despertem a atenção e a imaginação. No fundo é a rotina que incomoda, a continuidade que se sonha venha a ser descontinua. A mudança dos números do calendário precisaria vir acompanhada de renovação, no mínimo sobre o modo de ver as coisas. Seria como se o 31 de dezembro fosse acompanhado de uma virada de página, deixando para trás velhos e insolúveis problemas, afinal se eles não têm solução por que persistir?
Na prática, como se sabe, não é assim. Não existe máquina que transforme o velho cotidiano em novo e a vida não é aventurosa como acontece a personagens de certos romances os quais, sem mais nem menos, mudam de continente e embriagam-se com culturas antes desconhecidas, participando de uma maré de acontecimentos variados e pródigos em novidades. Ao contrário - e para ficar num só exemplo - o mais difícil é desvencilhar-se de amarras que nos prendem a situações que se tornaram desagradáveis, muitas vezes insustentáveis. Espero que um amigo não leia esse texto, mas dias atrás ele me falava sobre uma relação amorosa com data de encerramento já vencida, porém sem que ele encontrasse justificativas para sair de convívio sem magoar a pessoa que já não é amada. Achava ele que o final do ano seria o limite máximo para uma tomada de atitude, iniciando-se 2011 com novas perspectivas. Ao que sei tudo na vida do meu amigo continua como dantes no quartel de Abrantes e parece que a situação continuará na mesma por bom tempo.
O problema é que, em muitos casos, para a vida mudar de verdade seria preciso um rearranjo no mundo dos personagens que, bem ou mal, fazem parte do nosso cotidiano. Isso não significa, necessariamente, que a mudança tenha que ocorrer no ambiente restrito das famílias e de amizades próximas dado que existem inúmeras pessoas cujas ações interferem em nossas vidas, direta ou indiretamente. Esse é, por exemplo, o caso dos políticos que ocupam cargos de governo, locupletando-se no exercício de poderes que afetam o dia-a-dia de milhares de pessoas.
Tais políticos - a continuidade deles no poder - cansam. Então não é por caso que após oito anos de um partido no governo eu me sinta sem forças e vontade para acompanhar os passos de personagens cujo vai-e-vem nas esferas do poder as tornaram previsíveis, digamos difíceis de engolir. No caso atual do governo que se inicia, lá estão figurinhas carimbadas, muitas delas ligadas a escândalos como aquele ministro envolvido com o caseiro Francelino, o cidadão que fez top top com as mãos, ao vivo e a cores, e outros sobre quem realmente me esforço para não me lembrar na esperança de não mais conseguir identificá-los; ou aceitá-los como renovados, talvez pessoas que fizeram plástica apenas para se assemelharem aos seus antecessores.
Assim, estamos condenados à mesmice, embora sempre exista um voto de confiança que necessariamente precisa ser dado, não há como não ser desse modo.
O Brasil é terra de gente que resiste a abalos fortes, gente que fica em pé mesmo sob o impacto de registros sísmicos grau 10 na escala Richter. José Sarney é apenas um entre esses camaradas que se seguram firmes, mesmo quando a nau já foi a pique. O Brasil também é a terra dos caras que sabem fugir de tempestades, ainda quando elas despencam só sobre a cabeça deles. O sujeito simplesmente nega tudo e um dia aparece no Congresso para fazer um discurso emocionado sobre a própria honra e serviços prestados ao país, isso antes de renunciar para não ser cassado. O caso é que sabem que tempestades não duram para sempre e um dia eles voltam, ah, como voltam. Tá bom que de vez em quando os planos de um Arruda não dão certo, mas que fazer?
O que cansa é a mesmice, o mesmo assunto, a eterna repetição.