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Celebridade
Você quer se tornar uma celebridade ainda que o seu reinado não dure muito? A fórmula é simples: precisa ser ousado e contar com a sorte.
Duvida? Veja aí a estudante da UNIBAN que foi perseguida pelos colegas por ir de minissaia às aulas. Pois foi preciso um vestido quase convencional, mais curto é verdade, para virar notícia no mundo inteiro. “El País” (Espanha), “Guardian” (Reino Unido) e “China Dayli” são só alguns dos jornais que noticiaram o caso nas últimas horas.
O assunto tem rendido análises, despertando a ira de muita gente que fala em machismo e intolerância. O reitor da UNIBAN voltou atrás em relação à decisão do Conselho da faculdade de expulsar a aluna considerada por eles como causadora do tumulto.
Enquanto tudo isso rola na mídia a jovem estudante vive os seus instantes de celebridade. Até que a notícia se desgaste pela perda da novidade e ninguém mais se lembre do assunto.
Viva o efêmero que faz heróis e os desbanca da noite para o dia.
Geração careta
- Podem me prender, podem me bater, podem até deixarem-me sem comer, mas eu não mudo de opinião…
É o que dizia a letra da música de Zé Keti, em 1964. Tempos arrojados aqueles! Saudosismo? Em primeiro lugar é preciso dizer que de vez em quando somos obrigados a apelar para o passado. Nada a ver com a idéia de que a história se repete. Nada disso. Retornamos ao passado quando o presente não nos satisfaz e temos a clara noção de retrocesso em relação a conquistas bem sedimentadas em tempos anteriores.
Então não se trata mesmo de saudosismo, nem um pouco. Na verdade é só comparação. Do que? Ora, da ocorrência e prolongamentos do triste episódio da estudante de turismo que foi agredida por ir de minissaia à faculdade.
Tem muita gente por aí dando opinião sobre isso. De repente psicólogos, educadores, sociólogos e até a turma do deixa disso pula para a ribalta, desfraldando bandeiras teóricas para explicar o fenômeno. Em cena uma jovem de minissaia perseguida pela turba com direito a filmagens que circulam no YouTube.
Pelo amor de Deus, nada de teorias. Será que não existe um aparelho que possa enviar aos anos sessenta e setenta uma dessas máquinas fotográficas digitais para que alguém de lá filme as mocinhas chegando às aulas com aqueles vestidinhos curtos que torturavam a masculinidade em flor do país de então? Pois que filmassem num dia qualquer e enviassem para nós, ao vivo e a cores, aquela festança para os olhos, tão delicada e nada desrespeitosa, tão profunda e meditativa para os rapazes que babavam nas horas certas porque era possível conviver em paz com a beleza que se espalhava pelos campus universitários.
Mas, pessoal, que retrocesso é esse? A quem interessa se uma jovem usa minissaia ou não? E que súbitos pudores ofendidos são esses que de repente brotam por aí, como se o mundo fosse uma sociedade de mórmons, fechada manifestações tão rotineiras?
Olhem, não adianta: para quem viu como as coisas eram no passado é muito difícil compreender esse caso de agressão. Fica a impressão de que algo na cabeça dos jovens de hoje involuiu, as conquistas das gerações anteriores foram recusadas por uma nova ordem de conduta e pensamento. Trocando em miúdos: eta geração careta essa que anda por aí, não?
A faculdade decidiu expulsar a aluna causadora do tumulto. Na internet podem ser lidos comentários de jovens sobre o caso, muitos deles começando com coisa do tipo “se pelo menos ela fosse bonita e gostosa”. Outros perguntam: “o que ela queria com uma roupa daquelas?”. Como se tudo isso tivesse alguma importância.
Turbas são turbas. Sabemos que as multidões agem em acordo com uma consciência coletiva não necessariamente racional. Ainda assim, tudo soa muito estranho.
Agora, se me permitem, uma pitada de saudosismo que não faz mal a ninguém: ah, que saudades das daquelas tardes fagueiras, dos grupos de estudo tão esperados, do sexo feminino tão visível e desprotegido, dos sonhos imaginosos que de vez em quando se realizavam.