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A verdade na política

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Afinal, o que é a verdade nos dias de hoje? Não cabem aqui citações filosóficas sobre o conceito e significado da verdade, de resto território de mentes privilegiadas que, ao longo de séculos, abordaram o problema. Ao cidadão comum interessa pouco mais que a separação entre o trigo e o joio, a delimitação da fronteira entre o certo e o errado e a exposição daquilo que se considera verdade sobre um fato para que a vida cotidiana possa seguir dentro de seus eixos e a confiança entre os seres humanos prevaleça. O contrário disso, a indefinição, o cotejo entre afirmações e desmentidos e a falácia de palavras que se amoldam às circunstâncias e interesses, contribuem para a erosão da credibilidade pública seguida de comemorativos indesejáveis.

Se o que nos interessa é a verdade a política brasileira, do modo como é praticada, presta um desserviço público e estabelece-se como fonte de péssimos exemplos. Tal é o emaranhado de versões acerca de um fato ocorrido que se torna impossível extrair-se delas a verdade. Veja-se, por exemplo, o caso do ministro de Estado sobre quem pesa a suspeita de enriquecimento ilícito. O vai-e-vem de informações sobre o assunto, ora acusativas, ora defensivas, embaralha o caso, confundindo a opinião. A pergunta é: afinal quem está dizendo a verdade? Impossível responder. Num dia a opinião adere aos que acusam dado que de fato o ministro amealhou, em curto período de tempo, somas consideráveis o que faz suspeitar de tráfico de influência. Noutro dia o ministro revida e apresenta documentos em sua defesa, levando a opinião a conceder a ele, pelo menos, o benefício da dúvida. Um dia depois noticia-se que o ministro realizou excelentes negócios justamente quando tinha acesso a dados confidenciais do governo. Mais uma vez a opinião fica do lado dos que acusam, podendo-se prever, nos próximos dias, oscilações de pontos de vista na medida em que novos fatos venham a público.

Dirão que não existe outro modo de condução do caso. Será? Então, inexistem provas cabais que inocentem o ministro, colocando ponto final na querela pública? Pois é desse imbróglio que emerge a expressão “vai dar em pizza” cujo significado é de conhecimento geral. A alternância entre denúncias e desmentidos gera instabilidade passageira que em geral acomoda-se com o passar do tempo. A coisa dura até que entre em pauta um fato novo, de repercussão maior, que lança o já desgastado caso anterior no limbo do esquecimento. A quem discordar disso recomenda-se a lembrança do “mensalão” que turbinou o noticiário do país durante bom tempo até ser deixado para trás sem que tenhamos, até hoje, o esclarecimento final do assunto.

No Brasil maus políticos apostam na sucessão de falcatruas que lancem as anteriores ao esquecimento. A lentidão do judiciário, a teia de conchavos e o desrespeito pela verdade favorecem práticas não recomendáveis e mesmo ilícitas. O caso do enriquecimento do ministro de Estado, atualmente na berlinda, pode ser resolvido depressa por ele mesmo submetendo-se aos questionamentos que se impõem dada a importância do cargo que ele ocupa. Mas, como em outros casos, é de se perguntar: a quem interessa esclarecer cabalmente a verdade?