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Natal

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De repente me lembro de um homem a cujos apelos não respondia o demônio da criatividade. Inteligente, proprietário de vasto vocabulário, amigo de dicionários, estudioso das gramáticas, não tinha ele o privilégio da ideia própria, da comunhão do que sabia com a erupção do texto. Por isso vivia a mendigar nas páginas alheias das quais retirava ideias que, a seu modo, modificava e utilizava. Deixou esse homem cadernos e cadernos, manuscritos, elaborados com tremenda ddificuldade, mas sem valor porque carentes de originalidade.

Poi é bem assim que me sinto em relação ao natal, estrangeiro de minhas ideias e palavras. De tal modo a data me surge sem significação que nada me ocorre dizer sobre ela. Talvez me restem do natal apenas o amontoado de lembranças, algo confusas porque emaranhadas num vácuo do qual vez ou outra levantam-se restos de coisas vividas, despojos incompletos cujos fios de interligação me escapam.

De tudo restam-me imagens de meus tempos de menino, seguindo minha mãe para a missa do galo. Ainda posso ver minhas calças curtas e os pés descalços no chão de terra amaciado pela chuva da tarde. Ao menino escapa o significado daquela missa celebrada tão tarde da noite para fiéis apinhados na igreja do lugarejo. Quem éramos nós nos idos dos anos 50, ilhados do mundo num canto qualquer, despossuídos, diligentemente crentes nas promessas da fé?

Do que me lembro é do profundo sono que me impedia de ouvir o sermão, do calor do corpo de minha mãe ao qual me recostei ao adormecer e do susto ao ser acordado por ela ao fim da missa. Passara-se a meia-noite, Jesus nascera enquanto eu dormia, celebrara-se o rito do Natal.

Para mim o natal sempre foi e será uma longa missa do galo na qual adormeci junto de minha mãe enquanto Jesus surgia na manjedoura e mudava o mundo.

Escrito por Ayrton Marcondes

25 dezembro, 2015 às 8:25 pm

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Natal

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Acredite, há quem não goste do natal. Mas, nem de trocar presentes, da ceia na noite de véspera, da reunião familiar? Pois é!

Confesso que nunca fui muito chegado ao cerimonial do natal. Isso não quer dizer que eu não goste, talvez exista alguma indiferença a embaçar meus sentimentos natalinos. Depois de tantos natais, grande parte deles cercado por pessoas diferentes, acho que a festa periga se tornar cansativa. Verdade que não há ocasião melhor para fazer contato com amigos a quem raramente vemos e de quem gostamos tanto. De repente, na tarde do dia 24, o telefone toca e ouvimos a voz de alguém que acaba de se lembrar da gente e deseja, sinceramente, que sejamos muito felizes. O que nos desperta para fazer o mesmo e ligar para pessoas que nos dizem respeito, próximas de nós apesar de vivermos tão longe.

Na minha meninice não havia natal em que eu não acompanhasse a minha mãe para assistir à missa do galo. Não era como no conto do Machado no qual a personagem quase não vai à missa porque enlevada na conversa com a mulher que ama. Em casa a missa do galo era compromisso familiar: primeiro a missa, depois a ceia. O problema é que naquelas paragens em que vivíamos costumávamos dormir mais cedo, daí que muitas vezes eu cochilasse sentado nos bancos de madeira da igreja matriz.

Ainda hoje me lembro das imagens de fé estampadas nas faces das pessoas simples que assistiam à missa do galo. Havia entre os fiéis e a religião um pacto estabelecido no qual imperava a verdade. Nada ali parecia falso, nem mesmo as faces de arrependimento das pessoas que saiam dos confessionários e ajoelhavam-se para rezar os padre-nossos e as ave-marias determinadas pelo padre. Seriam os meus olhos de menino que viam com brandura os meus iguais, bem antes do enfrentamento com esse mundo convulso que nos leva a endurecer os sentimentos?

Que não se pense que estou a criticar o natal. Parece-me, sim, que há certa hipocrisia num sem número de cumprimentos que recebemos ou fazemos. Há algo de inverdade nesse padronizado “feliz natal” que nos sai da boca como a cumprir uma obrigação quando nos encontramos com algum desconhecido no elevador do prédio onde moramos. Mas, não se podem esquecer os abraços fraternos, os desejos sinceros muitas vezes não expressos diretamente por pessoas que realmente nos amam.

Do natal guardo imagens fugidias, simples trocas de olhares, sem nenhuma palavra, que guardavam tantos significados. Muitos desses olhares já desapareceram, deixando-me apenas lembranças de pessoas queridas que já se foram.

Mas, diga-se o que se quiser, o fato é que hoje é natal e não há como se passar por essa data sem liga-la às nossas origens e às pessoas que nos acompanham e acompanharam.  Daí que o natal sempre foi e será uma ocasião benvinda, independentemente de nossas opiniões. O natal sobrevive pelo que há de realmente humano em nossas carcaças.

Depois da ceia

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A comilança e a bebedeira de ontem à noite ainda estão pesando? O jeito é seguir as orientações dos médicos para esse caso: beber muita água e chás, consumir alimentos ricos em potássio (água de coco e bananas) e doces à base de frutas. Além disso, descanse porque muito antes do que você pensa chegará aquele seu amigo ou parente que virá só para dar um abraço e a formalidade exigirá uma(s) cervejinha(s). Isso para não falar nas mulheres da sua família que desde ontem já têm o cardápio pronto para o tradicional almoço do dia de natal (eventuais sobras da ceia farão parte da refeição).

Trata-se da rotina de todos os anos, meu caro, daí que não adianta resistir.  As preocupações com o seu peso, os alimentos que não fazem bem a você, a bebida que o médico desaconselhou ou proibiu, isso fica para depois, afinal tudo o que fazemos tem conseqüências e estamos habituados a elas.

Daí que você está aí empanturrado, estudando a capacidade do seu estômago para ver o que mais cabe dentro dele sem que ocorra alguma tragédia. É a rotina do natal.

O que saiu da rotina foi aquela mulher que burlou a segurança e derrubou o Papa durante a Missa do Galo. O Papa caiu, você viu? Agora estão dizendo que a mulher apresenta sinais de deficiência mental e tentou fazer a mesma coisa no ano passado, sem conseguir.

O que leva uma pessoa a avançar sobre o Papa durante uma das maiores cerimônias da Igreja, transmitida pela TV para o mundo todo? Para mim só existe no Brasil uma pessoa capacitada para responder corretamente a essa pergunta: o Beijoqueiro. Afinal, um cara que beijou Frank Sinatra no meio de um show no Maracanã lotado é uma autoridade nesse assunto.

Falando em agressão, você já viu o tal vídeo que circula na internet tentando demonstrar que o ataque a Berlusconi foi uma farsa? O vídeo mostra que logo após o impacto do objeto, atirado contra o primeiro ministro italiano, não houve sangue. Só quando Berlusconi leva um saco plástico ao rosto aparece o sangue. Há quem acredite na farsa, mas a maioria das pessoas, inclusive autoridades italianas, acha o vídeo um absurdo.

Que razões existiriam para que o ataque a Berlusconi fosse uma farsa? A personalidade controversa do primeiro ministro, entre outras acusado até de ser mafioso, tem rendido a ele perdas significativas de popularidade, além de ataques de seus adversários políticos. Levando-se em consideração esses fatos, a agressão de que foi vítima o primeiro ministro foi-lhe muito favorável: segundo o jornal Corriére de La Serra o nível de aprovação de Berlusconi, que estava em 48,5%, subiu para 60% após a agressão.

Natal é assim, às vezes recebemos presentes inesperados. Veja o caso de Berlusconi: um objeto atirado por um agressor contra o rosto dele transformou-se num belo presente de natal, traduzido em aprovação do povo italiano. Vá lá que Berlusconi teve que perder dois dentes, mas todo mundo sabe que aprovação não é coisa que se conquiste facilmente.